Como dito por sua mãe, acordou acompanhado apenas de Ariel e Pandora naquela manhã. Jungkook vestiu sua camisa favorita, que tinha como cor um amarelo vibrante tão bonito quanto um girassol, e continuou com sua calça cinza do pijama.
Em seu corpo as vestes se mostravam um tanto largas, mas o que importava era que se sentia muito confortável. Desceu os pequenos degraus, guiando-se até a sala e colocando um disco antigo do Pink Floyd ㅡ que pertence ao seu pai ㅡ para tocar. Jungkook não era o tipo de garoto que gostava de ficar sozinho, tinha medo do silêncio e de que aquela situação se tornasse permanente. Mas viver tendo apenas a sua companhia tinha entrado em sua rotina, e o costume bateu em sua porta.
O diário do chapeleiro! O esqueceu em seu quarto. Ele correu escada acima, para pegá-lo embaixo do travesseiro. Continuava ali. Pensou, por alguns segundos, que não o encontraria, como se fosse capaz de desaparecer.Tolice, coisas assim não acontecem no mundo real.
Quando era menor, sua mãe contava sobre gnomos e a sua arte de brincar com seres humanos. Se algo sumia, ele sempre gritava: Gnomos, devolvam minhas coisas! E assim elas apareceriam, como em um passe de mágica.
Ao decorrer de sua vida notou ser mentira, os gnomos eram invenções para enganar crianças e fazê-las imaginar contos de fadas. Além de fazer o pequeno Jungkook de sete anos correr pela casa à procura das criaturinhas ㅡ e de suas coisas sumidas. Os cabelos ondulados, que grudavam em sua testa molhada de suor, e os pés imundos, por ter andado nos cantos mais empoeirados da casa para procurá-los, eram sua marca registrada. Jungkook dizia que queria se esconder tão bem quanto eles.
Pôs-se a fazer panquecas de morango e chocolate derretido, que foram acompanhadas por um suco de manga e pêssego. Uma combinação estranha que deu certo, era o seu suco favorito.
ㅡ Vou colocar a comida para vocês também, um segundo ㅡ Rosa e verde água. Alejandro foi quem comprou as vasilhas dos bichinhos, e Jungkook adorou a mistura de cor das duas.
Sentou-se novamente à mesa, terminando de comer suas panquecas.
ㅡ Será que o chapeleiro me respondeu? ㅡ Fez um carinho no pelo do porquinho-da-índia com os dedos das mãos. Pandora era a única que comia em cima da mesa, por ser pequena demais.
Pegou o pequeno caderno, abrindo-o com cuidado. Seria possível?
ㅡ Ele respondeu... Está em tintas douradas ㅡ Soava incrédulo, lendo as poucas palavras deixadas pelo chapeleiro."Quem é você, meu caro amigo? Se meu diário está em suas mãos é porque é tão confiável quanto o meu bule de chá"
ㅡ Acho que estou ficando maluco. O que está havendo? É mesmo ele? ㅡ Seus monólogos tinham uma trilha sonora composta pela melodia de "wish you were here".
Jungkook terminou de comer, lavando a louça e arrumando a mesa redonda de vidro, subindo até seu quarto ㅡ estando mais do que pronto para responder ao chapeleiro. Pegou a caneta de tinta preta, animado. Era curioso, como o chapeleiro estava respondendo? Haveriam dois cadernos interligados? Soava tão impossível.Curioso, muito curioso.
ㅡ Seu caderno estava no baú da minha mãe, chapeleiro. A propósito, eu sou Jungkook… Jeon Jungkook ㅡ escrevia as palavras no diário ㅡ O tempo voltou ao normal? ㅡ Perguntou, apesar de sentir que suas palavras não faziam sentido para ele.
Destino entende o tempo, assim como loucos são capazes de entender outros iguais a eles. O diário dele era único. Tal artista, tal obra.
Fez um laço na cordinha dourada e deixou o diário em cima da mesa.
ㅡ Queria poder levar você para passear no jardim sem a coleira, mas tenho medo de perder você de vista ㅡ Dizia baixo, enquanto colocava a coleira em Ariel.
Pegou o livro na prateleira e saiu de casa, parando na mesma macieira do jardim. Amarrou a cordinha no pequeno pedaço de madeira, que colocara meses atrás para levá-la e não se sentir sozinho lendo. E, claro, mostrar o lindo jardim para a gatinha cor da neve.
Sim, também gostaria de levar Pandora. Às vezes passeava sozinho com o porquinho-da-índia, sempre muito atento, para não perdê-la de vista. Mas para acompanhá-lo em suas leituras, preferia Ariel ㅡ que precisava de pouca supervisão.
ㅡ A grama está maior do que ontem ㅡ soltou um muxoxo, encostando seu dorso no tronco da enorme macieira. Fez um carinho no pelo de Ariel, que se encontrava estirada ao lado de seu corpo.
Cinquenta páginas para terminar o seu livro, faltava tão pouco. Prestava atenção em cada vírgula, para que não o fechasse tão rápido.
O cheiro da torta de maçã com canela, que vinha da casa vizinha, deixava tudo mais gostoso. Mesmo com o sentimento de que não comeria um pedaço sequer da torta. Sabor adocicado da maçã e açúcar, que se mistura com o amargo da canela. Uma xícara de chá verde com uma colher de mel. Isso sim era capaz de descrever todos os seus momentos literários.
As tardes debaixo da macieira tinham gosto de torta com chá. Havia lido todas as páginas de "O prisioneiro de Azkaban" em dois dias ㅡ gostava muito da saga do bruxo.
Barulhos de passos foram ouvidos por Jungkook.
ㅡ Cavando a terra de novo, Ariel? ㅡ Fechou o livro e procurou-a com o olhar.
Sua gata não cavava, apenas observava o céu e o movimento das nuvens ㅡ ou talvez estivesse deixando que seus olhos seguissem os pequenos bichinhos voadores que rondavam o jardim. Se não era ela, quem poderia ser? O barulho continuava.
ㅡ De onde está vindo isso? ㅡ Continuava ouvindo o som das patinhas batucando a terra. ㅡ Coragem, Jungkook ㅡ Tentava encorajar a si mesmo, enquanto levantava da grama esverdeada ㅡ Fique aqui, está bem? Eu volto já.
Caminhou em volta da árvore, encontrando flores, muita grama e maçãs caídas, além de folhas e mais folhas.
Ainda ouvia.
Ficou em silêncio, tentando seguir o som, sendo guiada para a floresta.
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Coelho de Tarpe • [taekook]
FanficJungKook era um garoto sonhador e perdido na grandeza do seu mundo pequeno. Almejava ser tudo e nada ao mesmo tempo. Ele sempre sonhou com o impossível. Mas será que todos os seus dizeres impossíveis podem se tornar realidade, mesmo que ele não saib...