Capítulo 16 ❁ Seja lua ou seja mar, isto é para o amor que não consegui salvar

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ㅡ E eu devia tê-lo deixado ir, porque antes vê-lo errar que vê-lo sem respirar ㅡ Dorothy dizia, olhando para o corpo de JungKook deitado na cama. 

Já fazia semanas. Semanas que ele não piscava. Ria. Sorria. Pintava. Reclamava. Cantava. 

Já fazia semanas sem JungKook. 

ㅡ Ele vai acordar, querida ㅡ disse Alejandro, numa tentativa de acalmá-la. 

ㅡ Mas, e se... ㅡ Alejandro tocou seu ombro com a mão, segurando-a, como se aquele simples contato impedisse Dorothy de desabar. E, de fato, impediu. 

Ela parou de falar, e Alejandro sorriu. 

ㅡ Ele vai acordar ㅡ disse ele, confiante. Deu à ela a caneca de chocolate quente com cuidado, e Dorothy forçou um sorriso, tentando ficar menos preocupada ㅡ não vai vê-lo se você parar de comer. 

Dorothy pegou a caneca, com lágrimas nos olhos, que teimavam se manter dentro de seu corpo por muito tempo. O vapor quente do chocolate tocou seu rosto, e doeu, mas não fisicamente. 

ㅡ É minha culpa. 

ㅡ Como isso pode ser, minimamente, sua culpa, amor? ㅡ perguntou Alejandro. Dorothy levou a mão ao peito, sentindo as batidas de seu coração sob a pele. 

ㅡ Eu sei que sim. Eu deveria tê-lo deixado ir, mas agora ele sumiu. 

ㅡ JungKook está na nossa frente, querida ㅡ disse Alejandro, confuso. Dorothy balançou negativamente a cabeça, secando as lágrimas. 

ㅡ Ele não está aqui, querido, não está ㅡ Dorothy sorriu, minimamente ㅡ JungKook está bem, bem longe daqui, e talvez sequer volte. 

Dorothy respirou fundo, segurando a mão de JungKook com suas duas mãos. Sentindo sua pele mais quente que o normal, seu coração apertou como nunca antes. 

Lembrou de quando chegaram em casa, semanas atrás, e encontraram JungKook sozinho, deitado embaixo da macieira. Ariel o tocava com a pata, mas ele não se mexia. JungKook estava frio, gélido, seus lábios estavam sem cor, e suas roupas estavam sujas de terra. 

Dorothy lembrou de como ele parecia frágil, e sentiu suas mãos tremerem.

ㅡ Precisam dele em Tarpe, assim como precisaram de NamJoon ㅡ Alejandro apertou os ombros de Dorothy com as mãos, em um gesto de carinho. Fazia tempo que não ouvia Dorothy falando de seu primeiro filho. 

Sequer o mencionaram para JungKook. 

Alejandro pensou que Dorothy estava delirando, já que, para ele, NamJoon morreu dormindo, quando tinha cerca de cinco anos de idade. 

Mas Dorothy sabia que seu menino não tinha morrido. Algo dentro dela a fazia acreditar cegamente nisso. 

E as melodias malucas de seu coração sussurravam: Tarpe, Tarpe, Tarpe... 

ㅡ Vamos, garotinho, você precisa voltar para mim, não seja como seu irmão ㅡ Dorothy teve vontade de chorar novamente. Ela estava se lembrando do passado. Como se a história estivesse se repetindo.

Dorothy, segundo Alejandro, enlouqueceu na época da morte de NamJoon. Os dois saíram da cidade no instante em que ela engravidou outra vez, cerca de um ano e meio depois. Ela odiava ficar na cidade, pois foi lá que NamJoon fora tirado dela ㅡ foi na cidade que NamJoon seguiu a magia que tinha em seu coração e foi parar em Tarpe. 

E foi em Tarpe que NamJoon esqueceu de sua família. Era pequeno demais para ter muitas memórias, e inexperiente demais para lutar contra a magia de Tarpe. 

Alejandro comprou uma casa no interior, e Dorothy acreditava que seria o suficiente para manter JungKook seguro ㅡ longe da cidade, longe da magia que ele tinha e, consequentemente, longe de Tarpe. Dorothy pensou que se pudesse manter JungKook afastado, poderia impedir que ele se fosse, assim como NamJoon foi. 

Coelho de Tarpe • [taekook]Onde histórias criam vida. Descubra agora