— ... eu não sei se queria mesmo vir para Sydney. Eu queria e não queria ao mesmo tempo, sabe? Minha avó, Claire, preferia que eu viesse morar com minha tia, mas faz tanto tempo que não a vejo... E eu gostava de Londres, mas não da minha escola. Era cheio de drogados e professores bêbados. Talvez seja por essa razão que minha avó me mandou para cá, mas não sei ao certo se foi por isso. — Eu contava para o homem de cabelos longos dirigindo o carro.
— Deve ser porque não aguentava mais sua matraca — disse ele e em seguida riu. Acho que era para ser uma piada.
Eu sabia que havia um pouco de verdade naquelas palavras, porém. Normalmente, quando alguém faz uma brincadeira, está amenizando a verdade que não foi claramente dita. Ele queria dizer que eu era irritantemente tagarela.
Eu estava sentada há mais de uma hora no banco de trás de um táxi, segurando uma mala enorme, batendo o pé no chão a cada dois segundos e contando minha vida inteira para um desconhecido, que eu só sabia que se chamava Riley, porque vi um crachá com sua foto.
— Ela sempre disse que eu conversava demais, mas minha avó não me mandaria para cá por causa disso... Ou mandaria? — perguntei, como se ele soubesse a resposta.
O taxista estava de óculos, mas tenho certeza de que, naquele momento, revirou os olhos.
— Agora tem alguma coisa para refletir.
Traduzindo: "Pelo menos com algo para pensar, não vai ficar tagarelando no meu ouvido."
Decidi ficar quieta, antes que aquele homem me expulsasse do carro. Comecei a observar a paisagem pela janela do carro e deixei que o vento soprasse meu rosto, fazendo meus cabelos dourados voarem para trás.
A cidade estava agitada, assim como o trânsito. Havia muitos prédios e casas ali, o que era de se esperar numa cidade enorme como aquela. Várias pessoas circulavam pelas calçadas, inquietas.
Eu estava tão cansada, que meu corpo parecia querer desabar ali mesmo, no banco. Fora uma longa viagem de Londres até aqui, e eu estava contando os segundos para chegar logo e poder descansar.
A última vez que estive em Sydney, eu tinha nove anos de idade, mas nunca esqueceria a rua da casa da tia Karen: calma, cercadas por mansões tão lindas que deixavam qualquer um pasmo. E ali, bem no meio delas e não menos formosa quanto as outras, estava a casa de Karen Clifford.
Minha tia era uma famosa advogada da cidade. Morava com seu marido, Daryl, e os filhos, Lydia e Michael. Fiquei sem contato com eles por alguns anos, mas, ainda assim, tia Karen não pensou duas vezes em me chamar para morar com ela. Acho que vovó queria um futuro melhor para mim do que a vida conturbada que eu tinha em Londres.
O taxista estacionou o carro e veio me ajudar com minha bagagem. Além de uma bolsa enorme, eu também trazia uma mala igualmente grande. Ele teve que fazer bastante esforço para conseguir as pegar.
— Trouxe chumbo aqui dentro, foi? — perguntou Riley, quando terminou de pegar minha bagagem, limpando o suor com a manga da camiseta.
— Claro, sempre é bom ter um chumbo por perto, não é? — brinquei, pegando minha carteira e entregando-lhe o dinheiro pela corrida.
— Boa sorte com tudo isso, garota — disse ele, entrando de volta ao carro.
— Obrigada — falei alto quando ele já estava dando partida.
Coloquei a bolsa debaixo de um braço e segurei a mala com o outro. Estavam pesadas mesmo! Dei o primeiro passo, mas acabei tropeçando nos meus próprios pés e caindo em cima da bagagem, fazendo a mala abrir e espalhar meus pertences.
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Heartbreak Girl
RomanceMeu nome é Jenny Clifford e sou considerada um fracasso para algumas pessoas. Eu não me encaixo em nenhum grupo da escola, e, certamente, nem da sociedade. Não tenho um corpo escultural, tampouco sou bronzeada, que poderia até me salvar. Mas não, so...