35- Blender

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Quando entramos na rua da nossa casa, eu me sentia extenuada. Não consegui descansar nada durante todo o voo de volta a Sydney e eu só pensava em tomar um banho, colocar meu pijama e dormir um dia inteiro. O resto da família parecia tão desgastado quanto eu, então todos nós só pegamos nossas próprias malas e entramos em casa, cada um indo direto para o seu quarto.

Com um grande alívio, peguei minha necessaire e fui para o banheiro me lavar depois daquele exaustivo dia de viagem. Olhei rapidamente para o espelho, que refletia a figura lastimável de uma mulher que parecia não dormir há semanas. Ignorei isso e escovei os dentes, mania que eu tinha antes de tomar banho, depois tirei minha roupa, em seguida indo para o chuveiro e fechando o box por hábito.

Senti a água quente relaxar meus músculos enrijecidos por ficar tanto tempo sentada numa poltrona de avião. Era tranquilizador. Logo após terminar, penteei os cabelos e vesti um pijama, deitando na minha cama e sentindo todo o meu corpo agradecer por isso.

Não demorei e dormi.

[...]

No sonho, eu estava parada diante de uma plantação de crisântemos. Era só o que havia ali, além do céu azul sem uma única nuvem, um mar de crisântemos de várias cores diferentes. Era absolutamente lindo, por isso mesmo eu sabia que estava sonhando, porque nunca teria a sorte de ver algo assim acordada. Dei alguns passos adiante, enchendo o pulmão de ar e me inclinando para deslizar os dedos pelas pétalas delicadas das flores quando passava por elas. Fiquei distraída, absorvendo os detalhes daquela cena prazerosa, até que me assustei quando ergui o rosto e vi uma figura diante de mim.

Primeiro, achei que fosse um espelho, porque a mulher parada ali era parecida demais comigo. Depois percebi, pelos olhos de um tom diferente dos meus e pelos cabelos mais cacheados, que se tratava da minha mãe. Fazia sentido ela estar num lugar como aquele, porque ela era apaixonada por crisântemos.

"Mamãe?", eu ia chamar, mas, antes de eu ter a oportunidade, ela se aproximou, levantando os dedos e tocando minha bochecha. Ela acariciou minha pele, fazendo-me sentir um completo bem-estar. Mas, depois, meu peito foi apertado por uma dor cruel, porque eu sabia que ela não era real. "Sinto sua falta", eu tentei falar, mas não consegui — não achava minha voz.

Levei a mão a garganta, tentando ver o que tinha de errado, o motivo de eu não conseguir falar. Porém, ergui o rosto de novo, porque não era isso o mais importante no momento, mas o fato da minha mãe não parar de afagar minha bochecha. O toque era muito real. Vívido.

Foi então que abri meus olhos e dei de cara com um rosto familiar parado diante do meu. Quase dei um pulo da cama, surpreendida.

— Luke?! — perguntei, a voz exaltada. Era ele quem acariciava meu rosto, sentado ao meu lado. — Você quer me matar de susto, garoto?!

Sentei, respirando com dificuldade e colocando a mão no coração na intenção de o acalmar.

— Desculpa, não queria te acordar.

Olhei para ele, tentando assimilar a situação e entender por que ele estava ali no meu quarto. Claro, a janela. Ele já estava ficando perito em entrar no meu quarto por ela.

— Você agora virou um vampiro para ficar entrando pela minha janela para me ver dormir? — perguntei.

Ele pareceu confuso. Não entendeu a referência.

— Você estava demorando demais para aparecer, mas vi que o Michael tinha chegado, então imaginei que estivesse aqui.

Eu o encarei. Na verdade, estava observando como ele parecia ter mudado. De uns dias para cá, Luke abandonou o topete peculiar de garoto propaganda de gel e passou a simplesmente jogar o cabelo para o lado, nada muito elaborado. Além disso, deixou a barba crescer, não muito grande, mas todo o conjunto o fez ficar com um ar mais maduro. Eu gostei disso.

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