Vovó estava fria e pálida no caixão. Seu rosto, apesar de sem cor, estava exatamente como eu me lembrava, e os cabelos longos e grisalhos que o emolduravam pendiam soltos. As várias rugas destacavam-se, agora, talvez, um pouco mais evidentes. Usava um vestido em um tom claro de rosa, que deveria ser novo. O caixão escuro em que estava permaneceu aberto por duas horas, cercado por flores e folhas aromáticas, até que o fecharam para o sepultar.
Lydia abraçou-me após perceber as lágrimas rolando por meu rosto. Eu sentia-me verdadeiramente triste em ver aquela mulher que passou tantos anos sendo minha única e fiel companheira deitada ali, empalidecida e sem vida e, agora, indo para a terra. Lydia e Michael não eram tão apegados à ela, mas eu era.
Minha avó sempre foi uma mulher independente e preferia fazer tudo sozinha, e esse foi o motivo de tia Karen ter permitido que ela ainda morasse em Londres. Além disso, era sempre cercada pelos amigos idosos — que, aliás, eram o que abarrotavam todo aquele fúnebre espaço por choros longos e altos —, que constantemente informavam minha tia da situação em que minha avó estava. No entanto, ninguém imaginava que seu coração estava fraco e que logo sofreria um infarto.
Tia Karen, vestida com um longo vestido preto, chorava baixinho perto de seu marido e eu podia entender o que sentia — eu sabia o que era perder a mãe. No entanto, imaginei que se sentira culpada por não ter passado os últimos dias daquela senhora ao seu lado. Ela deixou uma rosa na lápide acinzentada de pedra após fazer um discurso cujas palavras emocionaram a todos.
Michael e Lydia puseram suas flores também, mas não falaram nada além de umas três palavras, desejando descanso eterno. Não havia mais o que ser dito, imaginei. Eles não a conheciam tão bem.
"Obrigada por ter cuidado de mim, vovó", foi minha última despedida e permaneci calada pelo resto do enterro e caminho de volta ao hotel — textões de despedida também nunca foram uma aptidão minha. Na verdade, só Lydia e Mike conversavam, mas ainda assim era bem pouco. O ambiente estava "pesado" e provavelmente devia-se ao fato de tia Karen parecer bem abalada.
Meu celular tocou quando estávamos no quarto do hotel. Era Calum e achei melhor sair dali para o atender. Caminhei para a recepção e me sentei em um sofá mais afastado de onde as pessoas estavam.
— Oi, Cal — falei baixo.
— E aí, amiga? Como estão as coisas em Londres?
Massageei as têmporas com os dedos e soltei um suspiro abafado.
— Estou no hotel. Já acabou o funeral.
— E como você está se sentindo? — insistia Cal.
Ignorei a pergunta. Não era sobre isso que eu queria falar no momento. Apesar de ainda triste pela perda da minha avó, eu tinha um assunto mais importante em mente, algo que surgiu antes mesmo de eu chegar à Londres e que não me deixou dormir durante toda a viagem para cá.
— Eu acho que vou visitar o meu pai na cadeia — pronunciei.
Calum pareceu em choque do outro lado da linha.
— Você o quê?! — trovejou.
Mas eu já havia decidido. Contava para ele apenas para obter algum apoio moral, sem realmente me importar com sua opinião.
— Eu quero olhar na cara dele e deixar ali todo o ódio e raiva que sinto há anos. Não quero mais guardar comigo qualquer coisa relacionada a ele.
— Você tem certeza, J? Quer dizer, se é isso que você quer, eu vou te apoiar, mas espero que esteja fazendo a coisa certa.
Eu também esperava.
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Heartbreak Girl
RomantikMeu nome é Jenny Clifford e sou considerada um fracasso para algumas pessoas. Eu não me encaixo em nenhum grupo da escola, e, certamente, nem da sociedade. Não tenho um corpo escultural, tampouco sou bronzeada, que poderia até me salvar. Mas não, so...