Edgar Espiñosa tinha um limite de alunos por semestre no conservatório. Pouco importava realmente que ele desse aula a Julieta por anos agora –inicialmente como um favor ao seu pai, mas então pela dedicação que achara numa jovem menina sentada ao piano assim que aprendera a ficar ereta, mais capaz de se expressar por teclas do que por palavras.
Ela tinha quatorze anos quando ele pediu que ela ficasse alguns minutos após sua aula pela primeira vez. Curiosa, Julieta girou no banco do piano –um pouco mais antigo e menos confortável do que o que tinha que casa, que fora comprado especialmente para ela, com detalhes em rosé e ouro.
-No próximo semestre. –Ele andou pela sala para mais perto dela, até que se sentasse de frente para a menina. –Não terei tempo para dar aula a todos os meus alunos. Na verdade, ficarei com apenas dois dos meus seis alunos atuais, por questões pessoais. Marcel Addagio é meu melhor aluno e o lugar dele já está garantido. Três outros alunos eu já dispensei. Me resta decidir se darei, no próximo semestre, aula a você ou à Srtª Summer. Você quer essa aula Srtª Baudelaire?
Mesmo três meses antes, quando Julieta, cansada de tanto esforço e nenhum tempo livre, quisera desistir do piano, a resposta para aquela pergunta ainda teria sido sim. A resposta completa seria sim, professor, porque meu pai quer que eu estude com o melhor professor, então você deve continuar me ensinando, mas não era isso que o Sr. Espiñosa perguntava.
-Sim, professor. –Suspirou, embora não soubesse se falava a verdade. –Eu farei o que for preciso para continuar tendo as aulas.
-Muito bem. –Ele se levantou, como que a dispensando para suas próximas atividades. –Você tem um mês para preparar uma apresentação e me mostrar ser melhor do que s Srtª Summer.
Naquele mês, Charles quase não a viu. Todo o seu pouco tempo livre era dedicado a fazer sua melhor interpretação de Rachmaninoff e não havia tempo para mais nada no mundo. Não chegou nem a contar ao seu pai da competição, ou entraria em problemas por não ter sido a primeira escolha do professor. Se quer conseguira olhar para a Srtª Summer no dia. Não queria descobrir que estava roubando o lugar de uma garota apaixonada por piano, cujo sonho da vida era ser pianista, mas roubou mesmo assim.
Julieta conseguiu fazer com que Charles a fosse buscar como se não esperasse outra coisa.
Teve medo de que parecesse estranho, como se ele devesse talvez ir buscar a garota com quem saia, mas quando ele apareceu em sua casa, a ligando, parecia tranquilo como se não esperasse outra coisa, então Julieta relaxou e deixou de se sentir como se estivesse fazendo algo muito, muito errado.
Quase desistira das roupas que Beatrice havia separado na noite anterior, mas, no fim, decidiu que se parecia consigo mesma ao usá-las; tranquila, suave, feminina.
Para sua própria surpresa, havia pensado bastante em Bernard naquela tarde. Quando acordou, ele já a tinha mandado uma mensagem, perguntando se ficara bem depois dos drinks da noite. Julieta, que havia bebido água o suficiente para afogar um elefante quando chegara em casa, riu para a tela quadrada e respondeu apenas depois de enfiar sua cabeça no travesseiro, feliz por achar em si mesma algum prazer no ato de flertar.
-Quer dizer que você saiu para dançar ontem com o pessoal? –Charles diminuiu o som da música clássica de fundo que tocava no carro quando ela entrou, dando uma olhada rápida para ela, que virou uma segunda olhada uma vez que ele a viu. –Você está encantadora.
Julieta corou de prazer, observando os olhos dele se demorarem em seu colo, onde jazia pálido o pingente de flor de amendoeira feito de pérolas que fora presente dele. Mas não comentou a escolha de joias dela, apenas deu partida no carro.
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Garotas Perfeitas Não Se Apaixonam
RomanceJulieta sabe bem que a poucas garotas pode ser dado o título de perfeita. Segundo o herói romântico de seu livro favorito, a moça deve saber pintar, desenhar e costurar, conhecer musica, ter aquele andar leve e, claro, ler bastante. Seguindo esses...