Capítulo 2 - Afrodite

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Alguns homens costumam dizer que as relações entre a Ásia e a Europa começaram com a Rota da Seda, mas os homens do presente pouco sabem sobre o passado. Menos Wonwoo. Jeon Wonwoo viveu o suficiente para saber sobre tudo, ou gosta de imaginar que sabe de tudo.

Viver muito tempo tem suas vantagens, afinal. O eterno jovem — já que mantém a mesma aparência de quando tinha vinte anos — teve a oportunidade de visitar e viver em todos os países que quis, de ter todos os nomes que achava bonito, de estudar tudo aquilo que o interessava, de ir de escultor a padeiro, de padeiro a detetive, de detetive a guia turístico e a lista seguia infinitamente.

Mas sua vida nem sempre fora daquela forma. Nascera normal. Bem, o mais normal que se podia nascer no ano 277 a.C, no que hoje é chamado de Changwon, uma cidade próxima a costa da Coreia do Sul, mas naquela época tudo fazia parte do grande império Qin. Teve uma infância normal cercado por muitos irmãos e aos 17 anos foi chamado, assim como todos os filhos de artesãos, a fazer parte da construção do mausoléu do primeiro imperador chinês, Qin Shi Huang Di.

O imperador desejava ter um exército feito de terracota o protegendo em sua vida após a morte e para isso os futuros artesãos deveriam aprender as técnicas gregas de escultura para conseguirem realizar um projeto de tal magnitude.

E assim, Wonwoo partira em um navio, levando todos os seus sonhos em uma sacola de pano e com seus olhos brilhando em ansiedade. Iria para a Grécia! Aprenderia com Alexandre de Antióquia, o famoso escultor. Não conseguia esconder sua animação que só aumentava durante a longa e lenta viagem.

Assim que desembarcou no porto de Pireu, o maior porto grego na época, sendo recebido pelo próprio Alexandre, de braços abertos e sorriso simpático.

— Jovem aprendiz Wonwoo! — exclamou animadamente em uma tentativa de mandarim, para sua sorte, Wonwoo havia estudado outros idiomas desde muito jovem então conseguia se comunicar em grego.

— É uma grande honra aprender com você, Alexandre. — disse no seu melhor grego surpreendendo o homem que sorriu mais ainda, mesmo que Wonwoo pensasse que era impossível.

— Você é bom em grego! — exclamou. — isso é ótimo e vai me poupar tanto trabalho! Mas vamos, temos muitas coisas que ver e encomendas a terminar, além do mais preciso te ensinar tudo, já que o seu imperador espera tê-lo de volta em três anos. Tão pouco tempo, tanta coisa para aprender... — terminou ajudando Wonwoo com sua mala, guiando-o até a saída daquele porto lotado de pessoas. Muitos comerciantes e futuros aprendizes, assim como ele, traziam vida àquele lugar encantador. Respirou fundo, sentindo a maresia que mesmo do outro lado do mundo tinha o mesmo cheiro.

E assim iniciou sua pequena aventura. Viajou por muitos lugares, esculpindo em madeira, mármore, marfim, bronze, prata e ouro. A forma como aquelas peças retas tomavam vida com cada movimento que fazia contra o material o encantavam. Durante três anos aprendeu técnicas importantes e conheceu pessoas mais importantes ainda.

— Aprenda a identificar a direção das fibras da pedra. Se bater contra elas, você quebrará a rocha. Não lute contra, apenas siga. — era o que Alexandre sempre dizia.

Era grato por sua vida mesmo que suas mãos tivessem pequenos ferimentos e fossem deveras ásperas e seu nariz se irritasse e ficasse todo vermelho com toda a poeira do estúdio de Alexandre, que havia se tornado como um pai e amigo para si, tanto no lado bom de passar seus conhecimentos para Wonwoo quanto nas horas ruins como usar o garoto para fazer as entregas das encomendas.

E talvez esse tenha sido o maior erro do homem. Vênus era uma grande e importante encomenda. Com seus 2 metros de puro mármore e mais de 5 meses para ficar pronta, deveria ser entregue no porto de Milos para compor um nicho no templo dedicado à deusa grega do amor.

Elos; sobre almas gêmeas e maldiçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora