Acordei na manhã seguinte com o barulho da campainha do meu quarto na pousada. Num segundo, coloquei meu vestido e fui abrir a porta. Era Víctor.
— Oi, amor. Feliz aniversário! — Ele estava lindo, como em todos os outros dias, e carregava nos braços um buquê enorme com rosas vermelhas!
— Ah, Víctor, obrigada! — Ele entrou, e eu fechei a porta. — Está tudo bem com o Lucas? — perguntei, ainda um pouco sonolenta.
— Sim, ele está ótimo. No fim do dia já estará em casa.
— Que bom.
— E você? — Ele me abraçou e deu um suave beijo no rosto.
— Estou bem.
Eu amava Víctor, e isto era um fato. Mas me preocupava muito com sua antiga família. Nem mesmo suas viagens me deixavam tão irritada quanto sua ex-mulher e seu adorável filho de oito anos. Eu também ficava imaginando várias situações que me deixariam furiosa, caso viessem a acontecer. Como, por exemplo, ter que conviver com a presença constante de Regina. Era óbvio que como ex-mulher, ela sempre estaria presente. Eu pensava muito sobre isso. E não gostava. Definitivamente, sabia que teria de me esforçar ao máximo para viver bem com a bagagem de Víctor.
— Me perdoe por ter te deixado na noite passada. Como você ficou?
— Fiquei bem. Carla é um amor e James foi muito gentil em me trazer até aqui.
— James?
— Sim, seu sobrinho. Ele me trouxe depois da queima de fogos. A festa realmente estava incrível.
Não revelei para Victor sobre minha corrida desenfreada com James até a montanha. Achei que tudo tinha sido infantil demais para se levar a sério, mas apesar disso eu tinha de confessar: foi muito divertido.
— Que bom. Fico feliz que tenham cuidado bem de você. O que quer fazer hoje? — ele perguntou, enquanto se dirigia ao pequeno bar que havia no quarto e se servia de uma dose de um líquido avermelhado de uma das muitas garrafas que estavam ali. Logo depois, sentou-se em um pequeno sofá próximo da sacada do quarto e provou a bebida.
— Não sei. O que você tem em mente?
— Bom, Carla está nos esperando para o almoço. Gostaria que você conhecesse a minha mãe. Ela não pôde estar na festa ontem, então achei que seria bom almoçarmos hoje. Mas não precisamos ir se você não quiser. À noite, voltaremos para o Rio e eu vou te levar para jantar. Vamos comemorar o seu aniversário. E depois, podemos comprar um vinho e ir para o meu apartamento. Ainda tenho mais dois dias para ficar na cidade, até voltar para São Paulo.
— Tão rápido! — eu disse, surpresa.
— Infelizmente, sim. Preciso o quanto antes buscar documentos para a análise de um processo que se encerra ainda no fim deste mês. E tenho que correr, senão terei que fazer hora extra em pleno Carnaval.
— Não, isso não! Você prometeu passar o feriado de Carnaval comigo, e não vai furar! — falei, querendo parecer irritada.
Víctor eu completaríamos um ano de namoro no Carnaval, e há mais de três meses eu estava planejando fazer uma viagem com ele. O Ano Novo não havia saído do jeito que eu havia planejado. Perder o feriado de Carnaval seria ainda mais desastroso.
— Então, meu bem — ele falou, tentando me acalmar, sem muito sucesso. — Por isso tenho que adiantar o serviço agora em janeiro, para que possamos aproveitar depois.
— Tudo bem. Desculpe. Acho que estou pegando no seu pé.
— Não está, não. Você é quem deve me desculpar por viajar tanto. Mas você sabe que é o meu trabalho. Preciso disso.
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Lembranças
RomanceAna é uma bailarina que gosta de sua vida rotineira e pacata. James é um músico apaixonado que está disposto a esperar por ela.