Capítulo 3

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O restaurante era incrível, como imaginei. Víctor e eu sentamos próximos de uma grande janela, de onde podíamos ver a luz da lua.

Pedimos uma salada fresca como entrada, acompanhado de um filé de salmão grelhado e vinho branco. Tudo estava perfeito, menos a parte em que eu tremia dos pés a cabeça toda vez que me lembrava da revelação de James naquela tarde.

Fiquei tão apavorada que peguei a primeira coisa do guarda roupas e vesti. Apenas depois fui ver que estava calor demais para eu estar com meu vestido roxo de mangas curtas. Deveria ter colocado o de cetim lilás. Seria mais fresco.

O intenso calor do verão não cessa nem ao cair da noite no Rio de Janeiro, e eu sinto falta da brisa fresca que passa pela varanda do sítio do meu pai, em Antonina.

Víctor, de vez em quando, me olhava e sorria. Um sorriso sedutor, que esbanjava felicidade. Ele falou durante todo o jantar, sobre o trabalho, sobre sua família, do nosso feriado juntos no mês seguinte e sobre seu filho. O garotinho já estava bem, com a mãe na casa dos avós maternos. Fiquei feliz, até porque conseguiríamos ficar juntos sem nos preocupar com as constantes ligações de Regina.

— Está tudo bem? — disse ele, segurando meus dedos que estavam pousados sobre a mesa.

— Sim — menti.

— Está tão quieta. O que está se passando nessa sua cabecinha?

— Nada.

— Bom, acho que tenho certeza de que o meu presente vai te deixar mais animada — falou Víctor com ar de mistério.

Depois que trouxeram a sobremesa, foi a vez dele também ficar quieto. Nenhum de nós falava. Saboreamos o doce de mil folhas com morangos calados.

Mas antes de ele terminar, começou a falar:

— Quer algo mais, querida?

— Não, obrigada. Vamos? — Eu estava incomodada com o que estava por vir.

— Sim. — Ele me olhou nos olhos e voltou a segurar minhas mãos. — Feliz aniversário, Ana. Estou muito feliz por estar aqui com você esta noite.

— Eu também.

Meu corpo ainda tremia. De nada adiantava o tecido quente do vestido. Minha respiração estava ofegante. Víctor mexia incessantemente no bolso interno do paletó e me olhava, sorrindo.

— Ana... — ele começou a dizer tirando de dentro do paletó um pequeno embrulho vermelho com um fino laço rosa. — Este é o meu presente para você.

Eu encarei a pequena caixa, atônita.

— Víctor, eu...

— Não é só um presente para você. — Ele interrompeu. — Também será um presente para mim se aceitar.

Ele me olhava ansioso, oferecendo a caixa.

— Não precisava se incomodar com presentes. Sabe que estar aqui com você é o mais importante.

— Eu sei, minha querida. Mas você merece. E como eu já disse, fiz isso também por mim. Você é uma pessoa maravilhosa, Ana, e quero que você esteja sempre ao meu lado.

Meu coração saltava cada vez que meus dedos desenrolavam um nó da fita rosada. E, aos poucos, fui tentando convencer a mim mesma de que talvez ele pudesse ter desistido do pedido. Queria que o presente fosse qualquer coisa, menos um anel.

Mas não tive como fugir. Levantei a tampa e um lindo anel com pequeninos brilhantes se revelou para mim. Eu não conseguia mais olhar para Víctor. Eu não tinha o que dizer. E ele parecia saber disso.

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