O restaurante era incrível, como imaginei. Víctor e eu sentamos próximos de uma grande janela, de onde podíamos ver a luz da lua.
Pedimos uma salada fresca como entrada, acompanhado de um filé de salmão grelhado e vinho branco. Tudo estava perfeito, menos a parte em que eu tremia dos pés a cabeça toda vez que me lembrava da revelação de James naquela tarde.
Fiquei tão apavorada que peguei a primeira coisa do guarda roupas e vesti. Apenas depois fui ver que estava calor demais para eu estar com meu vestido roxo de mangas curtas. Deveria ter colocado o de cetim lilás. Seria mais fresco.
O intenso calor do verão não cessa nem ao cair da noite no Rio de Janeiro, e eu sinto falta da brisa fresca que passa pela varanda do sítio do meu pai, em Antonina.
Víctor, de vez em quando, me olhava e sorria. Um sorriso sedutor, que esbanjava felicidade. Ele falou durante todo o jantar, sobre o trabalho, sobre sua família, do nosso feriado juntos no mês seguinte e sobre seu filho. O garotinho já estava bem, com a mãe na casa dos avós maternos. Fiquei feliz, até porque conseguiríamos ficar juntos sem nos preocupar com as constantes ligações de Regina.
— Está tudo bem? — disse ele, segurando meus dedos que estavam pousados sobre a mesa.
— Sim — menti.
— Está tão quieta. O que está se passando nessa sua cabecinha?
— Nada.
— Bom, acho que tenho certeza de que o meu presente vai te deixar mais animada — falou Víctor com ar de mistério.
Depois que trouxeram a sobremesa, foi a vez dele também ficar quieto. Nenhum de nós falava. Saboreamos o doce de mil folhas com morangos calados.
Mas antes de ele terminar, começou a falar:
— Quer algo mais, querida?
— Não, obrigada. Vamos? — Eu estava incomodada com o que estava por vir.
— Sim. — Ele me olhou nos olhos e voltou a segurar minhas mãos. — Feliz aniversário, Ana. Estou muito feliz por estar aqui com você esta noite.
— Eu também.
Meu corpo ainda tremia. De nada adiantava o tecido quente do vestido. Minha respiração estava ofegante. Víctor mexia incessantemente no bolso interno do paletó e me olhava, sorrindo.
— Ana... — ele começou a dizer tirando de dentro do paletó um pequeno embrulho vermelho com um fino laço rosa. — Este é o meu presente para você.
Eu encarei a pequena caixa, atônita.
— Víctor, eu...
— Não é só um presente para você. — Ele interrompeu. — Também será um presente para mim se aceitar.
Ele me olhava ansioso, oferecendo a caixa.
— Não precisava se incomodar com presentes. Sabe que estar aqui com você é o mais importante.
— Eu sei, minha querida. Mas você merece. E como eu já disse, fiz isso também por mim. Você é uma pessoa maravilhosa, Ana, e quero que você esteja sempre ao meu lado.
Meu coração saltava cada vez que meus dedos desenrolavam um nó da fita rosada. E, aos poucos, fui tentando convencer a mim mesma de que talvez ele pudesse ter desistido do pedido. Queria que o presente fosse qualquer coisa, menos um anel.
Mas não tive como fugir. Levantei a tampa e um lindo anel com pequeninos brilhantes se revelou para mim. Eu não conseguia mais olhar para Víctor. Eu não tinha o que dizer. E ele parecia saber disso.
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Lembranças
RomanceAna é uma bailarina que gosta de sua vida rotineira e pacata. James é um músico apaixonado que está disposto a esperar por ela.