Capítulo 4

2 0 0
                                    


No mês seguinte, eu já estava no meu carro a caminho da casa dos meus pais, no Paraná. Todos estavam à minha espera e, infelizmente, não era daquela forma que eu havia planejado meu feriado de Carnaval, mas eu não tive alternativas.

Depois daquele dia no restaurante, Víctor foi me procurar no meu apartamento umas três ou quatro vezes, não sei ao certo. Eu nunca atendia a porta, e ele ficava lá, me chamando, mas como eu não respondia, ele ia logo embora e sempre deixava um buque de flores no chão.

O namoro havia chegado ao fim e eu chorei por isso. Mas imaginar as palavras horríveis que ele havia me dito naquele dia me fazia chorar ainda mais.

Durou apenas duas semanas a insistência dele em me procurar, depois disso cessaram as ligações e as mensagens, até mesmo os e-mails não estavam chegando mais, e aquele foi o fim do nosso relacionamento.

Minha mãe ficou feliz por saber que eu estava por chegar, mesmo tão inesperadamente, pois eu havia marcado de ir para casa somente no final de junho, durante as férias do estúdio onde eu dava aulas.

E ali estava eu, na véspera da minha viagem com Víctor, de volta à Antonina, minha cidade natal.

Eu realmente não queria que aquilo tivesse acontecido, mas ele não me deu outra escolha. Hoje sei que foi melhor assim, nosso namoro estava ficando cada vez mais sério, e não era essa a minha intenção quando viajei para o Rio, não queria me prender a nada. Eu tinha meus objetivos e metas com o final do meu curso, precisava dar continuidade à minha carreira. Mas com o tempo eu me deixei levar pelos meus sentimentos e vivi com Víctor um ano maravilhoso. Só não podia dar o passo que ele me propôs, eu não queria me casar, não naquele momento.

E ainda tinha um agravante maior nessa história: a primeira família dele. Com certeza esse também foi outro motivo de eu dizer não para ele naquela noite. Pensei muito também na minha família e em como eles reagiriam quando conhecessem Víctor. Meus pais são muito conservadores e tradicionais. Um homem divorciado não era um exemplo de príncipe encantado que eles haviam sonhado para mim. Então, me agarrei a isso para convencer a mim mesma de que havia feito a melhor escolha.

Saí em uma manhã nublada de quarta feira rumo a Antonina, fiz parada de uma noite para descansar no centro de São Paulo e, no fim da tarde seguinte, finalmente cheguei ao meu destino. Situada entre montanhas e a Baía de Paranaguá está a minha pequena cidade. Suas vielas calçadas com paralelepípedos e construções arquitetônicas da época do Império continuavam do mesmo jeito desde a última vez em que estive lá, e isso me trouxe uma sensação de paz.

Passei próxima à beira-mar, no trapiche municipal, absorvendo aquela atmosfera familiar a fim de tentar esquecer um pouco dos meus problemas. Quando cheguei à entrada do sítio dos meus pais, peguei somente minha pequena bagagem de mão e desci. Eu só tinha um desejo naquele feriado: esquecer.

De longe, avistei meu pai, que estava com um sorriso radiante nos lábios e seus cabelos pareciam mais esbranquiçados. Sim, com certeza eu devia ter lhe dado bastante preocupação.

— Ana, minha filha! — exclamou, ao se aproximar com os braços abertos.

— Papai, que saudades!

Ele me abraçou forte e durante um bom tempo. Seu abraço era reconfortante.

— Que bom que você veio. Como foi a viagem? — perguntou ele, ainda me segurando pelo braço.

— Cansativa. Eu precisava muito vê-los. E a mamãe?

— Preparando aquele macarrão que você adora.

— Ai, meu Deus! Estou vendo que vou engordar uns vinte quilos só nesse feriado!

— Você conhece a sua mãe, ela adora ficar naquela cozinha, e agora vai querer te agradar o tempo todo — ele falou, pegando minha mala.

LembrançasOnde histórias criam vida. Descubra agora