Capítulo 1

28 7 21
                                    

Verão de 2019, Sydney

A primeira coisa que sinto quando acordo é minhas costas latejando e em segundo, é o chão.
Faz 867 dias que ela se foi. A partir desse dias eu sempre acordo no chão e eu não sei o porquê.

Apoio minha mão no chão e me levanto. Esse está sendo o pior verão de todos; eu não tenho nada pra fazer, a não ser os ensaios com a banda ou sair com o Clance para a praia.

Olho para o meu reflexo no espelho e dou um sorriso.

— Nada mau Keith. Mais bonito do que nunca. — falo para mim mesmo.

A única coisa que eu tive sorte na minha vida foi ser bonito, isso é uma qualidade que eu não posso negar.

Amarro meu cabelo num rabo na ponta da minha cabeça, coloco uma bermuda e uma blusa qualquer. Dou um último sorriso para o meu reflexo e vou para a cozinha.

Hank está cantando "Uma garota qualquer" da minha banda, enquanto mistura algo numa tigela. 

— Bom dia Keith! — meu irmão dá um sorriso, o que me faz ficar com raiva. Como alguém consegue acordar tão disposto?

— O que tá fazendo? — coloco o dedo na mistura.

— Bolo de baunilha. Tá gostoso? — ele me olha.

Hank pode ser o meu irmão, mas é totalmente diferente de mim. Enquanto ele é forte e musculoso e eu sou um magricela; e e ele também é mais educado e fica sorrindo o tempo todo. Não que eu não seja educado, só não gosto de tratar os outros com falsidade. Mas os nossos olhos são as únicas coisas que temos em comum, eles são violeta, o que é meio raro (palavras do médico).

— Dá pra comer. — falo. Hank bufa e eu pego meu cereal colorido em forma de rosquinhas.

— O que vai fazer hoje? — meu irmão coloca o bolo no forno e olha para mim.

— Eu? Nada. Eu pensei em ir dar uma volta com o Clance na praia. — repondo com a boca cheia.

— Ah, então tá. Mas é pra voltar seis horas em ponto, entendeu? — ele ergue a sobrancelha.

— Ok, ok. Seis em ponto. — continuo a comer.

Hank aumenta o som bem na parte do meu solo.

●●●●●●●●●●

— Keith! Keith! KEITH!

Deixo o meu baixo de lado e vou para a janela ver quem está me gritando. Clance.

— Que foi cara!? Precisava gritar? — meu amigo está com um boné e uma sacola de praia.

— A gente não ia à praia agora?

— Ah é. Tô descendo, só um minuto. — coloco uma blusa mais velha e pego meus chinelos.

Desço correndo o que me faz tropeçar no meio da escada.

— Vai com calma Keith, não é o fim do mundo. — Hank fala.

— Tchau Hank!

Lá fora está mais calor do que dentro do meu quarto.

— Finalmente. — Clance chega perto de mim e me dá a sacola. — Agora é sua vez de segurar.

Vasculho o conteúdo da sacola, tem um Doritos super grande, duas garrafas de água, protetor solar e uma H2oh enorme.

— Nossa Clance, isso que é comida.

— Minha mãe me obrigou, então não reclama. — ele começa a andar para a praia.

Depois de uns 15 minutos andando no sol quente chegamos. A praia hoje está lotada de gente, há gritos para todos os lados e pessoas nadando ou fazendo qualquer coisa.

— Ah, a praia — suspiro o ar do mar.

— Para com isso cara, tá parecendo um drogado cheirando o ar desse jeito — meu amigo me dá um tapa no braço.

— Não vai me dizer que você não gosta desse cheiro?

— É, é até bom. Vamos logo. — Clance me deixa lá parado enquanto ele avança para a praia.

Corro atrás dele com a sacola pesada nos meus braços.

Vamos para o nosso lugar na praia, que é bem no meio dela. Começamos a arrumar a nossa comida quando um bando de meninas aparece.

— Oi Keith, que coincidência te achar aqui — uma delas fala.

Reviro os olhos e murmuro um "oi".

— Até algum dia. — elas vão embora.

— Eu não suporto elas, todo dia isso. — me sento na areia.

— Cara, elas são tão lindas, você devia dar uma chance a elas.

— Não obrigado. Eu não sei o que elas veem em mim.

— Muita coisa. Acho que elas gostam da parte de você ser o solitário do baixo que perdeu a mãe e tem um corte de cabelo legal.

— Eu não quero nada com elas, como isso não está claro!? — enfio um Doritos na boca.

— Ah eu entendi tudo. Você quer ver a garota da sorveteria de novo né?

— Quê!? Não, claro que não. Tá maluco? — disfarço as minhas bochechas vermelhas.

— Quer sim! Cara..., você é o melhor! — Clance ri.

— Humpf! — resmungo.

Ficamos comendo Doritos e conversando sobre todo mundo quem passava na nossa frente pelo o resto da tarde.

Talvez seja verdade, eu gosto de ser o cara solitário do baixo que é muito lindo por sinal.

StunningOnde histórias criam vida. Descubra agora