Capítulo 1

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Encarei meu reflexo no espelho. O quarto no tom azul claro como cenário, que escolhi quando completei 5 anos. Era estranho me ver ali dentro novamente. Tanta coisa tinha mudado.

Quando eu sai da cidade para estudar música junto com o ensino médio em Londres, eu tinha 15 anos. Eu usava vestidos floridos, era expressiva com meus sentimentos e completamente inocente. Agora com 18, era diferente.

Grande parte da minha rebeldia foi o ódio que passei nos meus últimos dias na minha cidade natal. O volume de emoções novas e decepções foi muito grande para mim na época e quando pisei na capital, o poder de mudança estava nas minhas mãos. Ninguém me conhecia e eu poderia criar o personagem que eu quisesse.

Eu estava cansada de ser a dócil e ingênua Avery. Cansada de ser passada para trás, de aproveitarem da minha bondade. Foi aí que eu criei a rebelde sem causa Blake Brown. Fingi que meu nome não era Avery e passei usar o lindo nome do meio que mamãe escolheu para me dar. Coloquei os vestidos no fundo do armário, comprei mais blusas de banda, jeans rasgados e tênis pretos que eu poderia imaginar.

O segundo passo da mudança, depois de trocar meu armário, foi escurecer meus cabelos em alguns tons. O castanho claro tinha dado espaço ao castanho escuro, mas só porque não tive coragem o suficiente para pintá-lo de preto, pois eu sabia que não sairia nunca mais. Depois de um tempo, as pontas foram descoloridas ganhando uma cor chamativa a cada mês.

Eu não mostrava mais meus sentimentos, não sorria para qualquer um como antes e definitivamente meu coração não estava com vagas disponíveis, não depois do que aconteceu. A verdade é que foi uma forma de proteção. Óbvio que não funcionava todas as vezes e eu me abria com meus amigos próximos. Quero dizer, amiga no singular e feminino Claire Johnson, a única que ficou do meu lado em Londres.

O ambiente da arte pode ser bem competitivo. Então era difícil ter alguém do seu lado dizendo "Uau, você tem talento" sem querer te matar por dentro. A tentativa de sabotagem era frequente na escola, então fiquei muito feliz quando Claire me acolheu sem pensar duas vezes.

Eu e ela tínhamos uma aula de dança em comum e foi aí que nos conectamos de cara, quando ela deu uma patada em uma patricinha que me chamou de aberração por eu só usar preto, cinza e branco. É, eu sei, dramática. Eu e Claire rimos da indignação da garota e nos aproximamos daí.

Em uma noite que roubamos bebidas dos pais dela, acabei contando a minha verdadeira história, depois dela me perguntar com pesar porque eu era tão gentil e delicada com ela, sendo que as pessoas da escola tinham medo que eu as atacasse no corredor. Chorei um pouco e contei da noite que mudou minha vida.

Claire tinha alguns amigos além de mim, eles me aturavam e eu até que gostava deles também. Tendo um ou outro gatinho interessante que eram bons na distração nas enormes house partys da escola. Quem diria que os garotos do clube do drama seriam tão... sensuais.

Acabei me acostumando com a personagem da Blake e eu não era uma escrota sempre, só com quem meu santo não batia. Fora isso, eu era até que sociável. Me apeguei ao estilo roqueira, mas ainda escutava pop no último volume no meu quarto.

A parte realmente trágica começa com o motivo o qual me trouxe de volta para minha cidade, um mês antes.

Era fim do ano escolar, último ano escolar devo dizer. Na sexta-feira era a último show da escola e estaríamos livres para curtir o verão pré-faculdade. Eu havia planejado tudo com Claire e assim que eu acabasse minha apresentação no piano, fugiríamos da finalização e iríamos juntas para a festa (não oficial) de formatura, ajudar com os toques finais.

Seria na casa de Josh, meu antigo veterano que se formara no ano antes. Estávamos ficando há algumas semanas e eu estava com tudo planejado para passar a melhor noite da minha vida com ele.

De volta pra casaOnde histórias criam vida. Descubra agora