Capitulo II

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O vento grunhia em meus ouvidos quando retornei à escola naquela manhã.

Jimin não estava lá quando cheguei.

Ele sempre me esperava na entrada, escorado no portão, geralmente agarrado com seu livro de fantasia. Hoje havia um buraco naquele conhecido cenário. Minhas esperanças voaram junto ao vento que me acompanhou até a área dos armários.

As nuvens eram cinzas quase brancas. Pelo menos não chovia. Mas ainda estava um dia bem depressivo.

Aquele corredor parecia imenso quando não tinha alguém para me distrair. Estava me sentindo isolado, por ser o único desacompanhado entre aquelas centenas de alunos. Eu apertava meus livros didáticos contra o tronco e tentava me encolher para passar despercebido entre aqueles adolescentes, mas ainda sim minha aparência chamava atenção.

Alguém se chocou contra mim.

Meu livro de inglês, tão fino e de capa lisa, quase escorregou direto para o chão. Mas consegui segurá-lo a tempo.

Eu havia esbarrado em uma garota. Ela estava agachada a minha frente pegando alguns papéis esparramados no chão. Só tinha visão de seu cabelo preto meia-noite.

Minhas pernas dobraram.

Havia me abaixado para ajudá-la com a enorme bagunça que havíamos feito. Por mais que trabalhássemos rápido, a quantidade de papel parecia interminável.

Continha de tudo naquela papelada, desde resumos a inscrições de concursos. De alguma maneira eu sentia que ela não queria que eu visse.

Minha mão travou em um papel. Era um desenho rabiscado às pressas. Um garoto com o cabelo escondendo seus olhos, uma de suas mãos grande demais apoiava a cabeça…

A garota tomou a folha de minha mão.

— O-obrigada.

Ela se levantou às pressas deixando outra folha cair. Peguei-a entregando.

— Desculpe, eu esbarrei em você… — Murmurei baixo — Não foi minha intenção…

— N-não, não foi nada — seu rosto havia ficado com um tom forte de vermelho.

Ainda não havia visto seu rosto por completo. Sua franja tampava seus olhos e sua cabeça continuou abaixada. Mas eu sentia uma inexplicável vontade de questioná-la sobre o desenho.

— Meu nome..

Ela se virou rapidamente andando apressada pelo caminho a qual tinha vindo. Sendo tão pequena, logo a perdi de vista no meio da multidão. Mas seu cheiro de morango continuou comigo.

Aquele adocicado aroma me perseguiu o dia inteiro. Na aula de biologia e história, tudo que eu conseguia fazer era desenhar vários moranguinhos no cabeçalho do caderno. Não avistei mais aquela misteriosa menina.

Eu fechei meu armário. A porta rangeu abrindo novamente. Aquele velho móvel escolar precisava de vários empurrões para fechar de vez. Felizmente eu tive tempo para fazer isso.

Joguei meu ombro contra a portinha de ferro enferrujada e o baque me fez gemer. Novamente o alto rangido ecoou, mas ele não abriu. Franzi o cenho e cruzei os braços esperando a abertura, mas nada aconteceu. De novo outro rangido.

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