Capítulo III

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Toda ação tem uma reação, disse Newton certa vez. Errado ele não estava, mas eu nunca quis tanto que alguém estivesse, como agora.

— Sério ? Enfrentar Kwon ? Você tem merda na cabeça, Kim Taehyung ?! — Seokjin embrulhava minha mão numa faixa branca — Olha você, todo roxo, o que direi a Tia Lin ?

O chão parecia mais interessante que o olhar de Jin. Meus membros doíam demais para chorar, e minha garganta doía de tanto ter gritado no corredor. Eu não queria respondê-lo.

Sua mão agarrou meu queixo e o ergueu bruscamente.

— Olhe nos meus olhos, Taehyung ! — Ele era ríspido e grosso. — O que deu em você ?

Eu bufei me desvencilhando dele. O chão realmente estava mais interessante.

Depois que o espancamento começou perdi a noção de tempo. Acho que fiquei inconsciente até Jin me achar e me levar às pressas para enfermaria.

Nunca o vi tão desesperado.

— Você quase morreu ! — Ele voltou a enfaixar minha mão — Seu sangue está marcado no chão do pátio, a essas alturas, Taehyung o que você fez ?!

Queria entender como ele resolveria algo só me dando esporro ao invés de me ajudar. Não era a primeira vez que eu era alvo de Kwon, mas era a primeira vez que Seokjin dava as caras para cuidar de meus ferimentos.

— Pare de reclamar — Minha boca estava seca demais para eu falar alto— Não é você que vai voltar para casa parecendo uma múmia.

— E não é você que vai levar um bronca por ter deixado-o apanhar de um idiota !

— Você nunca esteve presente… quando eu apanhava — Murmurei exausto de ouvir lamúrias sem sentido — Não é a primeira vez que voltarei assim, e não será a primeira vez que você sairá ileso também.

Eu engasguei na última palavra, algo na minha costela doeu. Jin foi rápido em pegar água para mim. Mas seu silêncio era amedrontador, pois ou eu havia ganhado a discussão, ou ele estava arrumando um argumento muito superior ao meu.

— Mas é a primeira vez que você inicia a agressão.

Ele quase sussurrou. Sem me olhar nos olhos terminou o curativo.

— Por que ?

Seu olhar estava mais brando, mas meu peito ainda errava a batida pelo medo. Meus lábios estavam machucados de tanto mordê-los, meus olhos embaçaram.

Pela primeira vez eu me sentia um inútil por nunca ter me intrometido em uma briga de Kwon. Eu fui sua primeira vítima, eu fui a culpa de inocentes sofrerem. E eu fui o único que corria quando via alguém ser agredido.

— Você nunca ergueu a merda de um dedo para ajudar alguém, mas por que agora fez diferente ? — Ele voltou a gritar.

— Por que faz diferença… ?

Uma ardência subiu pela minha garganta. Havia forçado demais por um dia. Tive que beber mais água para cessar aquela dor. Seu gosto era tão amargo hoje, parecia que eu engolia bile.

Jin havia se calado.

— Por que é importante, se eu apanhei ou deixei de apanhar hoje ? — Murmurei

Ele não me olhou novamente. Mas saiu pela porta sem dizer um “a”. Fiz o mesmo depois de me recompor psicologicamente.

Antes de entender que estava chegando a saída, alguém segurou meu pulso.

— Meu Deus ! O que fizeram com você ?

A criatura era muito menor que eu. Por pouco não a reconheci, mas ao sentir seu perfume, lembrei na hora de quem se tratava.

— Taehyung, m-me desculpe, você entrou naquela briga e… — seu olhar para o teto era familiar, eu fazia o mesmo para segurar as lágrimas.

Seus braços delicados como plumas circularam o meu tronco.

Olhei com espanto a pequena figura à minha frente. Soltei um gemido de dor quando ela me apertou um pouco.

— Desculpe-me — ela se afastou assustada.

Finalmente pude observá-la com mais calma. Seus cabelos eram tão pretos como eu me recordava. Seus lábios eram tão grossos e desenhados como pude analisar no primeiro encontro, mas seus olhos estavam escondidos atrás da franja. Ainda sim pude ter o reflexo de um lindo azul em minhas lembranças.

— D-desculpe — Ela limpou os olhos e me olhou. — O que posso fazer em troca…? V-você… apanhou feio — Seus lábios franziram — Eu conheço uma erva que te ajudaria muito… Não, acho que seria forte demais, mas ainda acho que posso levá-lo a minha vó, ela..

Sua voz era receosa, mas ela ainda era rápida em sugerir tipos de pagamentos. Minha cabeça não acompanhou suas várias e várias alternativas. Uma voz falou mais alto em minha consciência.

Você é culpado…

— Nada !

A garota se sobressaltou.

Voltei a olhá-la.

— Não faça nada, por favor — Ela abriu a boca, mas completei rapidamente — Só não cruze o caminho de Kwon novamente.

— Mas eu…

— Por favor. Você já fez o que eu precisava.

Ela entrou em perigo. Aquilo bastava para mim.

Meu nariz ardeu.

Minha mão se ergueu lentamente, eu quase toquei a garota, mas voltei a andar antes que desse tempo.

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