Ninguém me aguardava quando desci do avião. Pude me certificar disso quando segui alguns passageiros até a sala de desembarque, onde pessoas com placas, ou mesmo sem elas, se abraçavam, carinhosamente, ou apenas apertavam as mãos de modo formal. Vasculhei por entre as placas o meu nome: Amber Trandafiri. Não encontrei absolutamente nada parecido. Sentei em uma cadeira à espera de qualquer sinal. Alguns funcionários do aeroporto se aproximaram de mim ao notar a minha confusão e, em uma tentativa dialética de inglês e romeno misturados, eu disse que esperaria mais um pouco.
Aproveitei aquele tempo para olhar a folha que minha mãe havia me dado, ainda nos Estados Unidos. Aquele potencial endereço, desenhado na forma de um mapa, parecia mais confuso do que o normal, talvez fosse por culpa do frio que agora eu sentia na barriga. Preferi utilizar como referência as palavras que estavam escritas, como o nome da casa, ou melhor, da mansão, Mansão Varcô, um nome bem estranho. Varcô era tão... Sonoramente esquisito, mas, talvez significasse alguma coisa no dialeto local. Além do nome da mansão estava escrito: Estrada Tuneric, ou algo do tipo.
Suspirei frustrada e cruzei os braços colocando o casaco sobre o meu rosto, depois inclinei minha cabeça para trás e usei o encosto da cadeira como um travesseiro metálico. Eu podia ouvir os barulhos das pessoas andando, suas respirações e conversas. Uma voz de garotinha gritava mimada, outra voz de mulher reclamava ao telefone, em um inglês britânico, o fato de seu noivo não ter chegado ainda, crianças faziam barulho correndo para cima e para baixo pelo aeroporto, além de outras conversas em um idioma novo e forasteiro que passaram despercebidas pela minha mente.
Assustei um gatuno, que devagar se aproximou de minha mala, jogando os meus pés de forma rude sobre os meus pertences, e ele se afastou rapidamente. Tirei o casaco do meu rosto e olhei as horas em meu relógio. Eu já havia configurado para o fuso local, como as aeromoças indicaram e, de acordo com ele, já passava das cinco da tarde. Levantei e, estalando o meu corpo, coloquei a minha mala de fuga nas costas e andei para fora do lugar. O céu já estava começando a escurecer. Caminhei para a rua onde alguns taxis estavam parados. Um taxista veio me socorrer:
-Para onde, senhorita?_ Ele perguntou primeiramente em romeno, mas, como não recebeu uma resposta, repetiu a mesma pergunta em inglês, com um sotaque forte. Ele pegou a bolsa de minhas costas e começou a andar em direção ao seu carro. Amassei o papel em minha mão formando uma bolinha e a enfiei no bolso de minha calça. Aquilo não adiantaria de nada, eu não entendia a caligrafia de minha mãe, e nem mesmo o dialeto local. Virei-me para o rosto ansioso do taxista que esperava uma ordem ou um comando. Dei de ombros:
-Bem... O senhor sabe onde fica a mansão Varcô? Sei apenas que passa por uma tal estrada Tuneric, ou algo assim._ Ele pareceu pensativo por um instante, como se traduzisse a mensagem em seu cérebro, e logo depois arregalou os olhos castanhos, de tamanho modo que chegou a me assustar, o que é algo bem raro:
-Mansão Varcô? O que a senhorita vai fazer na mansão Varcô a essa hora? Já está anoitecendo, não siga os trotes dos jovens daqui de espionar aquela gente..._ Ele falou alguma coisa em romeno, e eu comecei a pensar que talvez a minha maior barreira naquele novo lugar seria o idioma.
-Na verdade é o meu destino de viagem. Por que esse problema todo? Como são as pessoas que vivem na mansão?_ Respondi e questionei enquanto ele apertava a alça de minha mala, nervoso, após a minha resposta. Ele parecia ser de meia idade, os olhos castanhos e uma barba grossa. Colocou a minha mala no fundo de seu taxi e abriu a porta para mim:
-Desculpe se a ofendo, mas, não vou parar em frente à mansão. Vou parar um pouco antes e lhe indico o caminho. Sinto muito, você não vai encontrar nenhum outro taxi que chegue mais perto do que eu, visto o andar da hora._ Dei de ombros por tanto mistério envolvido, e entrei. Assim que ele ligou o motor e saímos daquele lugar, voltei a perguntar:
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O Clã Varcô - Amostra Grátis
General FictionAmber Trandafiri nunca foi como as outras pessoas. Seu corpo era mais forte, habilidoso e resistente. Seu comportamento também era instintivo, buscando sempre adrenalina e ação. Ela nunca conheceu o seu pai, vivendo apenas com sua mãe, julgando assi...