A Coroa

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Não houve apenas tortura, foram horas e horas de crueldade e violência de várias formas, sem que um segundo não fosse assistido pela criança. Porém a meia-humana era mais resistente do que parecia, apesar de tudo que sofria, ela não perdia o foco e mantinha um olhar de firmeza. Mas tudo já havia sido planejado, o objetivo de tudo aquilo não era a ferir, e sim quebrar o espírito do garoto.
Quando parecia que a tortura chegou ao fim e que a mulher poderia se recuperar, o nobre anunciou que havia adquirido um novo "brinquedo". Logo se ouve o som de uma pesada lona caindo ao fundo, revelando uma guilhotina. Ao perceber oque estava prestes a acontecer, o menino foi tomado por um desespero que parecia capaz de lhe engolir. Um grito doloroso corta o silêncio após o som de uma pesada lâmina ao despencar. Sua determinação fora finalmente quebrada, acabara de perder a única pessoa que lhe trazia conforto e segurança naquela vida infernal. Ao mesmo tempo que se ouvia seu choro desesperado, uma risada sinistra soando vitoriosa rasgava o ar. O nobre não era capaz de esconder o quanto estava se deleitando com tamanha crueldade que cometera. Mas poucos instantes depois sua risada foi silenciada por um estrondo metálico e sua máscara sinistra de felicidade logo caiu de seu rosto, junto dos portões de metal de sua propriedade.
E em frente ao enorme buraco que se abriu da entrada estava a causadora de tanto barulho. Uma senhora, com a idade denunciada por seus cabelos completamente grisalhos. Seria uma idosa normal, se não fosse pelo seu tamanho de dar inveja no maior dos homens, com braços musculosos surgindo das mangas rasgadas da jaqueta preta, um charuto no canto da boca e um tapa olho sobre o olho esquerdo.
Embora no local houvessem muitos guardas, ninguém ousou tentar atacá-la ou até mesmo se mexer. A pressão que aquela enorme figura exercia a cada passo ou palavra era quase palpável. Embora ela avançasse lentamente, sua fúria era totalmente perceptível, ninguém precisou dizer nada ou explicar qualquer coisa, tudo estava perfeitamente claro para ela. O choro desesperado da criança, o sangue de uma inocente derramado por motivos imperdoáveis e o rosto de um nobre que nunca imaginou que teria uma punição. Já bastava pra explicar.
Ela andou até o corpo ensanguentado e o pegou nos braços com todo cuidado do mundo, o colocou sobre uma mesa próxima. Em seguida recolheu a cabeça, colocou entre os braços do corpo e proferiu palavras que pareceram ser uma prece em respeito ao espírito da meio-humana. Logo após isso, caminhou até o nobre que ainda estava em estado de choque e o agarrou pela cabeça, o homem se debateu, mas era inútil, ele nunca teria chance contra a força daquela enorme mulher. Ela o arrastou e o colocou sentado em frente à lâmina da guilhotina. Então arrancou a lâmina do lugar, ergueu com uma mão e desferiu um poderoso soco com a outra, fazendo com que ela se quebrasse. Com o pedaço, começou a entortar o metal, fazendo com que fizesse uma circunferência, se assimilando com uma pequena coroa com chifres irregulares de ambos os lados. Levantou aquele estranho objeto como se mostrasse para todo mundo ao redor e logo se virou para o nobre, enfiando com toda força no topo da cabeça dele. Enquanto o tirano agonizava até a morte, ela lhe disse em um tom de desprezo: "Parabéns, agora você é o rei dos merdas".

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⏰ Última atualização: Jul 14, 2020 ⏰

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