A Última Redenção (Catradora)

3. Uma estratégia para crise

No dia seguinte, antes de iniciar a tarefas, uma boa notícia: aquela era a última região que precisava do auxílio do grupo e dentro de três dias todos poderiam voltar às devidas vidas normais, seja em Lua Clara, seja em qualquer outro reino. O bom espírito da conclusão e do trabalho em time tomou conta do grupo. Deu mais energia aos que quase não tinham mais.

Adora e Felina não passaram a manhã juntas. Quando Cintilante perguntou pelo paradeiro da outra, Adora não sabia dizer nada além de 'saiu por aí com o Melog' e entregar um sorriso falso, de uma falsa normalidade. Claro que Arqueiro e Cintilante trocaram olhares, daqueles que se falam tão bem e entendem tudo o que está acontecendo, mas, não se envolveram. Ao mesmo tempo que se preocupavam com suas amigas, também não queriam ser invasivos, e algo os dizia que eles seriam se perguntassem. Por vezes Arqueiro e Cintilante tinham os seus próprios problemas e preferiam resolver a sós, então, sabiam que com Adora e Felina isso também aconteceria. Mal sabiam que Adora não fazia ideia do que estava acontecendo ou como resolver, apesar de deixar claro que não queria compartilhar o que aconteceu toda vez que Cintilante se aproximava e perguntava se queria conversar. Felina só iria ficar mais decepcionada com ela de saber que estava contando o que aconteceu por aí. E isso é tudo o que ela menos queria.

Os dois dias que se passaram foram um tanto quanto cruéis com Adora, não pelo trabalho dobrado que SheRa recebeu, mas pelas poucas conversas rasas que conseguiu ter com sua namorada. Havia um certo receio, um certo perigo de acabar tocando em feridas que nenhuma delas queriam quando finalmente estavam juntas. Ao menos Felina permitia que ela se aproximasse toda noite e dormisse enlaçada a ela, acariciando atrás de sua orelha de gato até que pegasse no sono. Em uma dessas noites, ela até virou seu rosto para o de Adora e ficou a olhando por longos minutos, acariciando os traços dele com o punho delicadamente. Nenhuma palavra. Eram os toques, eram as carícias que provavam a presença de Felina ali. Que provavam que nem tudo estava perdido.

De todos as outras pessoas que notavam a distância de Felina, Scorpia era a mais preocupada. Ela conhecia essa tendência da amiga de se afastar no momento em que, na verdade, mais precisava de companhia. Não querendo subestimar Adora, que também a conhecia muito bem, mas, Scorpia não iria dar esse espaço todo. Ela iria atrás para acabar com o que a afligia de vez, nem que tivesse que usar a força bruta de seus músculos em um...Abraço.

Faltando um dia para que finalmente acabassem tudo, e vendo Felina e Melog sumirem pela floresta como estavam fazendo nas últimas manhãs e por todos os intervalos entre as tarefas, a princesa da Runa Negra resolveu agir. Saiu procurando sua amiga, sobretudo nos pontos mais altos das árvores, as que Felina gostava de se esconder. Depois de olhar para o alto pela 26ª ou algo assim, avistou a ex-comandante da Horda em um dos galhos com o corpo encostado no de Melog, afagando a cabeça dele. O olhar, mais vago e distante possível.

– Você vai descer ou vou precisar subir até aí? – Scorpia quis usar um tom ameaçador, mas toda a sua bondade a bloqueava de ser minimamente rude, inclusive com Felina.

– Não – Felina nem se mexeu.

– Não vai descer ou eu não preciso subir? – a princesa coçou a cabeça inocentemente confusa.

– Não vou descer e não precisa subir.

– Então eu vou sentar aqui e esperar até que desça. Você não vai ficar aí pra sempre, não é?

As orelhas de Felina levantaram por curiosidade e ela olhou para Scorpia, que estava sentada embaixo da árvore pacientemente, sorrindo para ela. A primeira coisa que sentiu subir do seu peito para sua garganta foi um nó. Um nó de raiva porque a princesa não estava respeitando a privacidade dela. Quem ela pensa que é? Logo veio o choque de realidade. Quem é? Sua amiga, alguém que você confia, alguém que não te julga, alguém que está aqui agora por você. O sentimento de raiva morreu instantaneamente.