8. Luz - Parte I

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Felina já estava há um tempo descendo pelo abismo, parecia não ter fim. Quanto mais fundo, menos se via e ouvia o que tinha lá em cima. A iluminação era provida apenas pelo feixe que incessante brilhava e reproduzia raios em sua direção. Não sabia se era pelo tempo que ficou sem essa adrenalina percorrendo em seu corpo desde que a guerra acabou, mas já começava a se sentir cansada. Sua fraqueza foi notada pelo portal que, aproveitando a agilidade debilitada de Felina, provocou uma falha exatamente onde ela iria apoiar o pé no próximo pulo.

A ex-comandante perdeu a base e seu corpo colapsou na parede do abismo, fazendo-a rolar descontroladamente para baixo. Durante a queda, tentava fincar suas unhas para se segurar, sem obter, porém, sucesso. Felina chegou no final do abismo com o tombo de metros de altura e ficou lá, caída no chão, por um tempo. Ainda estava tentando sentir algumas partes do seu corpo, mesmo que doídas. A respiração pesava desde que batera com as costas durante a queda, e as extremidades de seus braços e pernas estavam raladas.

Só depois de alguns minutos que Felina atreveu-se a abrir seus olhos heterocromáticos, mais por medo de estar longe de uma saída bem sucedida do que efetivamente pelo medo da dor que pulsava por todo o seu corpo.

– Comandante da Horda? Você está bem? – a voz de Angella estava bem mais perto agora.

Felina virou a cabeça e pôde observar a rainha, ainda dentro do feixe de luz, olhando assustada. Agora sim, muito mais próximas uma da outra, pouco mais de 3 metros de distância. E Angella não mais voava, tinha os pés bem apoiados no chão.

Não queria mais perder tempo esperando o seu corpo reagir, por isso, esforçou-se para sentar e, depois, apoiou ambas as mãos no chão para suportar-se de pé. Primeiro, o pé direito, depois, o esquerdo. No segundo, uma dor intensa veio junto.

– Ai! Meu pé... Acho que quebrei... – foi mais um pensamento alto do que uma resposta.

– O que veio fazer aqui? O que aconteceu? Eu não fechei o portal ficando aqui? Não salvei a realidade? A Horda venceu a guerra, é isso?

– Acho que alguém aqui tem muitas perguntas para fazer, não é? – Felina tentou sorrir simpática para a rainha, que não aceitou muito bem seu gesto.

Afinal, a última lembrança que Angella tinha de Felina é de quando abriu o portal pela primeira vez e causou tudo isso.

– Bom, eu... Cintilante e Micah podem te contar tudo melhor – Felina falava com um pouco de dor expressada na voz enquanto caminhava mancando para mais perto da rainha – O que posso dizer é que a guerra finalmente acabou e a Horda não venceu.

– Micah? Você disse Micah?

– Ahn... Sim. Adora e Arqueiro encontraram ele na Ilha da Fera quando foram resgatar a Entrapta – Que eu mandei para lá. Apesar de demostrar arrependimento no olhar, essa parte resolveu omitir da rainha, que já não estava muito confiante com sua presença.

– Micah... Meu Micah está vivo? – os olhos dela se encheram de lágrimas emocionadas. Estava tão aliviada com essa notícia. Permitiu-se abrir um discreto sorriso.

Felina fez o mesmo. Sabia quanto o bem-estar da pessoa que se ama é revigorante. Ela tinha isso com Adora, e via no olhar de sua namorada que a sensação era recíproca. Precisava sair dali o quanto antes com Angella e rever Adora. Precisava conversar com ela.

– Vamos. Ele, sua filha e todos de Lua Clara vão adorar te ver novamente – a ex-comandante estendeu a mão e manteve o sorriso no rosto. Tentou ignorar a forma como o próprio feixe de luz puxava seu braço conforme ia se aproximando de Angella.

A Última Redenção (Catradora)Onde histórias criam vida. Descubra agora