Capítulo 03

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Harry

       Depois de meu "aviso", Frederick tratou de inventar uma desculpa para não comparecer ao sarau que aconteceria hoje.
       Como mais uma forma de advertência, ontem à noite, eu havia escrito-lhe um bilhete alertando o que aconteceria com seu belo rostinho, se o visse no sarau.
Havia dado certo afinal.
O covarde acabou fugindo como eu esperava que faria.
Terminei de abotoar o último botão de meu colete e lembrei-me de algo que estava assombrando-me terrivelmente: casamento...
O meu casamento...
O que eu iria fazer?
        Teria apenas seis meses para arrumar uma noiva e considerando as mulheres com que eu saia, sabia que não agradariam em nada meus pais.
Suspirei pesadamente, enquanto observava meu reflexo no espelho.
Eu estava encrencado...
Assustei-me ao ouvir batidas na porta de meu aposento.
    — Entre! — eu disse, sem verificar para ver quem era.
A porta abriu-se e de lá, saiu Edward, com Beth no colo.
Ele sorriu e eu retribuí o gesto.
    — Vim em uma oferta de paz. — disse ele.
Sem tirar os olhos do espelho, respondi:
    — Não estou bravo com você, Ed.
Ele suspirou.
     — Que bom...Você sabe o quanto sua amizade significa para mim, não sabe?
Sorri.
     — É claro que sei. Pare de ser tão sentimental, Edward.
Ele sorriu e depois fitou o chão, cabisbaixo.
     — O que foi? — perguntei-lhe.
     — É minha sogra. Ela está novamente magoando minha esposa.
Ergui a sobrancelha.
     — O que foi que aquela velha aprontou?
Edward franziu o cenho.
     — Por Deus, Harry! Mais respeito!
Dei uma risada.
     — Pensei que estivesse bravo com ela.
     — E estou. Mas não é justificativa para desrrespeitá-la.
Revirei os olhos.
     — Certo, certo, senhor educação. Prossiga, o que ela aprontou?
     — Ela está rejeitando Simon. Diz que não é seu neto. Teve a ousadia de dizer isso pessoalmente, à Lilianna.
Torci o nariz.
     — Caramba, mas que senhora mais insuportável. Nunca gostei dela.
Ele riu.
     — Estou falando sério, Harry. Lilianna está magoada. Nem sei o que fazer...
Virei-me para ele, com uma expressão de deboche.
      — Diga à ela, para não se importar com aquela senhora desagradável. Por Deus, Edward! Nem Simon se importa com a opinião dela. Peça a sua esposa, que ignore as rudezas que saem da boca daquela mulher.
Edward suspirou.
     — Não é tão fácil assim. Ela...
Mais uma vez, Beth desatou-se em um berreiro.
     — Ah, por Deus, minha filha! Não me diga que está com fome novamente ? — disse Edward olhando para a criança em questão, que chorava desgovernada.
Edward olhou para mim, com uma expressão de pesar, ao ter de mais uma vez sair e deixar-me sozinho.
      — Está tudo bem. Vá, de uma vez!
E assim ele fez.
Mais uma vez, vi-me sozinho tendo os pensamentos voltados á situação complicada em que me encontrava.

     
       Depois de algumas horas,  já se era possível ouvir os sons dos convidados chegando. Olhei pela janela e vi que já era noite. Notei também a quantidade de carruagens despejando convidados na entrada da propriedade.
       Ajustei a gola de meu colete, e tratei de descer às escadas, seguindo o som das pessoas conversando.
      A sala da casa, estava lotada de convidados, alguns eu nunca havia visto, mas outros reconheci quase que imediatamente. Dentre eles, estava Edith Riggs, a mãe de Lilianna.
Ela sorriu para mim e curvei-me em uma reverência educada.
Passei os olhos por todo o salão, buscando pelas bebidas, sentindo-me completamente entediado.
Eu odiava eventos da alta sociedade.
Quase suspirei de alívio, quando vi um lacaio servindo bebidas.
Enquanto me adentrava na multidão de pessoas, pisei no babado de um vestido, e dando-me conta do que havia feito, tratei de desculpar-me.
     A mulher virou-se e dei novamente de cara com Annabeth Riggs.
Ela usava um vestido amarelo que cobria cada pedacinho de sua pele, deixando amostra apenas suas mãos.
O cabelo loiro estava coberto por um daqueles chapeuzinhos ridículos que as mulheres da alta sociedade costumam usar.
     Dirigi-lhe um sorriso e ela retribuiu com uma reverência.
Observei aqueles olhos azuis  me fitarem com timidez.
Aquela garota mais me parecia uma boneca do que uma mulher.
     Baixei o olhar para o babado de seu vestido em que eu havia pisado, e notei uma mancha escura causada pelo meu sapato, sob ele.
Seus olhos seguiram meu olhar e ela rapidamente tratou de dizer:
      — Está tudo bem, Sir Hampton. Não ligue para isto. Após uma boa lavagem, esta mancha sairá.
Lembrei-me das coisas que Edward havia me contado sobre Laura Riggs, e deduzi que a mocinha diante de mim levaria uma bronca, ao chegar em casa com o vestido manchado.
Suspirei.
    — Se a senhorita quiser, posso ajudá-la a retirar esta mancha. — eu disse, retirando um lenço do bolso de meu colete.
Annabeth fitava-me aparentemente surpresa por minha atitude. Ela olhou para o lenço em minhas mãos, e depois ergueu o rosto, fitando-me diretamente nos olhos.
Hum... Interessante.
Não eram todas as senhoritas que faziam contato visual e ela, de fato não o fazia, ou pelo menos não costumava fazê-lo.
Eu a tinha observado o suficiente para saber que ela sempre desviava os olhos para os mãos, numa atitude tímida, mas esta noite, estava me olhando nos olhos.
Ela sorriu.
     — Agradeço a gentileza, Sir. Mas não há necessidade.
Então desviou os olhos de mim, para o salão, vasculhando-o como se procurasse por alguém.
Guardei o lenço.
     — Bem, então se me der licença...— eu disse.
Ela fez uma reverência e antes que eu percebesse, já havia sumido dentre aquele aglomerado de pessoas.
Dei de ombros.
Retornei à minha busca pelas bebidas e quando estava a apenas alguns centímetros do lacaio, uma mão tocou meu ombro.
      Praguejei mentalmente quem quer que fosse, por mais uma vez interromper-me.
Ao virar-me, notei que aquela mão pertencia a minha querida amiga, Amanda Smith.
Alegrei-me quase que imediatamente.
Ela dirigiu aquele sorriso sedutor para mim, e dando uma olhada nela, notei seu nada sutil decote.
Amanda estava deslumbrante.
Ela usava um vestido vermelho, exatamente da cor de seus lábios, e os cabelos castanhos estavam soltos e  caíam em cachos ao redor de seus  ombros.
Ela sorriu.
     — Quanto tempo, Harry.
Dei meu melhor sorriso e notei seu olhar disparar para meus lábios.
     — O que você está fazendo aqui? Veio sozinha?
Ela riu.
     — Eu vim com algumas damas de companhia e respondendo a sua pergunta inicial, vim dar os parabéns pessoalmente ao filho de Edward.
Ergui uma sobrancelha.
     — Seu pai a deixou vir até Petersburg, sozinha?
     — Sim. Mas deixando este assunto de lado, o que você acha de darmos uma saidinha, em homenagem aos velhos tempos?
Sorri.
      — As damas primeiro.
Ela saiu e depois de alguns segundos, a segui.
      É... Talvez aquela noite não seria tão entediante quanto pensei que seria...
       Amanda e eu fomos para um cômodo afastado da casa, que ficava situado no segundo andar.
Eu tinha certeza que ninguém nos encontraria ali. Entramos no cômodo que deduzi ser um dos vários quartos de hóspedes daquela casa, e Amanda veio até mim, aproximando aquele corpo que eu conhecia tão bem, do meu.
Beijei aqueles lábios cor de escarlate  e ela começou a desabotoar meu colete.
     — Senti a sua falta, Harry... — disse ela, com a voz melosa.
      — Também senti a sua falta... — eu disse.
Bem, eu realmente sentia falta das nossas noitadas juntos.
      Amanda tratou de desfazer-se de meu colete e eu deu seu vestido.
Ela então, desceu seus beijos para meu pescoço, e enquanto eu tentava desabotoar as costas de seu vestido, vi algo ... Não. Alguém, nos observar pela soletra da porta.
Arregalei os olhos e antes que pudesse dizer alguma coisa, o visitante inesperado fugiu.
Empurrei levemente Amanda, afastando-a de mim.
     — Droga...! — eu disse.
Amanda pareceu confusa.
     — O que foi? — perguntou ela.
     — Alguém nos viu.
Ela arregalou os olhos.
     — O QUÊ?!!! Como assim? Quando?
Suspirei.
      — Foi quase neste instante. Vi alguém na porta, enquanto você tirava meu colete.
Amanda entrou em desespero, andado de um lado para o outro.
     — Oh, Céus! Se alguém descobrir... Estarei arruinada!
Então parou abruptamente.
     — Você viu quem era? Conseguiu identificar? — perguntou-me ela, exasperada.
      — Eu não...
Então retornou á minha cabeça, o vislumbre de um vestido amarelo com uma mancha no babado.
Então imediatamente descobri de quem se tratava:
      — .... Annabeth Riggs. Foi ela quem nos viu.
Amanda franziu o cenho.
     — Quem?
     — Annabeth, a irmã da esposa de Edward.
Amanda tratou de ajustar  apressadamente o corpete de seu vestido.
      — Se essa garota abrir o bico.... Estarei arruinada para o casamento! O que papai fará se descobrir...
Então virou-se para mim.
      — Você precisa fazer alguma coisa, Harry!
Arqueei uma sobrancelha.
     — Como é ?
Ela fitou-me furiosa.
      — É isso mesmo o que você ouviu! Precisa fazer alguma coisa ou senão estaremos arruinados! O que será de nossa reputação?
Eu ri.
     — Bem, em relação à minha reputação, não há como piorar. 
Ela me olhou feio.
     — Estou falando sério, Harry!
     — Certo, certo. Mas o que você quer que eu faça?
Ela bufou.
      — Não sei! Sei lá, ofereça dinheiro ou jóias ou qualquer coisa, contando que ela mantenha a boca fechada!
Assenti.
Droga... De todas as outras mulheres, por que tinha que ser justo ela, a moça mais puritana que eu conhecia, a nos flagrar?
Amanda arqueou uma sobrancelha.
       — Então, o que está esperando? Vá imediatamente atrás dela!
Revirei os olhos.
Pelo resto da noite, tratei de procurar por Annabeth Riggs, infelizmente sem sucesso algum.
Quando perguntei sobre o paradeiro de sua irmã, Lilianna pareceu intrigada enquanto revelava-me que aquela altura, Annabeth já deveria estar em casa.
Bufei, e cheguei a conclusão de que amanhã mesmo, eu iria atrás daquela mulher, para garantir que ela não contaria nada a ninguém...

Tinha que ser você - Irmãs Riggs 02Onde histórias criam vida. Descubra agora