Capítulo 16

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Bônus:

Elizabeth 

     Já fazia um mês desde que Harry Hampton havia partido de Petersburg.
    Durante todo este período, minha irmã havia mudado drasticamente.
Ela não comia, não sorria e muito menos, saía de casa.
     Os boatos sobre a repetitiva rejeição de Annabeth, já haviam espalhado-se por todo o nosso vilarejo. 
O pior de tudo era que ela não estava triste por ser repetitivamente alvo de fofocas, mas sim porque sentia saudades dele...
      Era muito frustrante vê-la todos os dias trancafiada no sótão de nossa casa. Annabeth não fazia nada mais do que pintar.
Estava obcecada em terminar um tela  que segundo ela, era a "solução"...
      O mais assustador era olhar para ela. Diferente de antes, ela agora não prendia os cabelos com perfeição ou trajava roupas elegantes; agora prendia os cabelos numa trança qualquer e as roupas, eram apenas vestidos velhos que estavam constantemente sujos de tinta.
Aquilo era o amor...?
Se assim fosse, eu não o queria.
Não queria tornar-me tão dependente assim de alguém, a ponto de perder o sentido de viver.
Era assustador...
     Todos em nossa casa, pareciam sofrer tanto quanto Annabeth.
Inclusive Lili, o fazia.
     Sempre que vinha visitar-nos, ela regressava para sua propriedade aos prantos. Eu a entendia perfeitamente. A triste e degradante situação em que Annabeth encontrava-se, parecia ser contagiante...
      Queria ser capaz de fazer algo para ajudá-la, fazê-la parar de sofrer, mas o que poderia fazer?
Não havia nada que eu pudesse fazer, a não ser rogar aos céus, para que minha irmã pudesse parar de afundar-se em seu próprio mundo...
Eu sabia o que a pintura significava para ela naquele momento... Era a única forma que ela encontrou, de fugir da dor... Mas a preço de quê?
Ela estava isolando-se do mundo e de todos...
Eu não queria perder a minha irmã.
     Mas só restava-me torcer por ela...

Annabeth

     Molhei o pincel na tinta mais uma vez.
     Ali, no sótão, era o único lugar onde eu não precisava escutar as queixas de mamãe, sobre o meu comportamento.
    Desde que ele foi embora, uma inspiração artística atingiu-me em cheio, fazendo-me dedicar quase todas as horas de meus dias, na preparação daquela tela.
     Minhas mãos pareciam ter vida  própria, fazendo-me perder o controle do que estava fazendo, do que saía do pincel.
Eu estava quebrada...
Sim. Era exatamente assim, que sentia-me.
Era como se os cacos de meu coração cortassem a cada dia mais, minha alma, fazendo-me perder as forças...
Não havia mais sentido algum para mim.
Eu estava morrendo aos poucos...
      Dei um passo para trás, observando o resultado da obra que eu havia trabalhado no último mês inteiro.
     Ao fazê-lo, não pude deixar de espantar-me.
     Na obra, o rosto de alguém estava retratado sob a tela, com uma imensa riqueza de detalhes.
Lágrimas escorreram pelos meus olhos.
Era o rosto dele, que estava estampado ali.
Os mesmos cabelos escuros...
O mesmo nariz reto...
O sorriso com as covinhas...
E os olhos... Aqueles olhos azuis penetrantes...
Coloquei a mão sobre o peito.
Eu havia literalmente posto o meu coração naquela pintura...
Eu havia expressado cada um dos meus sentimentos...
A saudade... O amor... A dor...
Era possível visualizá-los, apenas fitando aquela tela.
Nela, Harry estava sentado sozinho com um meio sorriso triste, enquanto tinha uma flor, sob uma das mãos.
      Larguei os pincéis abruptamente no chão e desci apressada, as escadas que davam acesso ao sótão.
Eu estava enlouquecendo?
      Quando pus os pés no chão, vi mamãe cobrindo a boca com as mãos.
Os olhos dela estavam arregalados, enquanto fitava a minha aparência.
      — Oh, céus... Olhe para você, minha filha...
Permaneci em silêncio, fitando meus pés.
Eu sabia que minha aparência não deveria ser das melhores agora, tendo em vista que fazia quase um mês que eu não me olhava no espelho.
Mamãe aproximou-se de mim, alisando meu rosto com as duas mãos.
      — Filha... O que ele fez com você...
Em outra ocasião, ao ver mamãe diante de mim, chorando tanto, eu teria fingido um sorriso e dito um: "Estou bem..."
Mas eu não estava bem.
Não precisava mentir ou fingir, todos sabiam disso. Bastava olhar para mim...
       — Sabe, filha... — continuou mamãe— , eu sei qual a solução para este problema...
Ergui os olhos do chão, esperando por sua resposta.
Mamãe abriu um sorriso esperançoso.
      — Eu soube que Frederick ainda está por aqui e...
Desvencilhei-me de seu toque.
      — Não... — eu disse — , não podes estar falando sério, mamãe...
Ela abriu e fechou a boca, até acrescentar:
      — Annabeth... As pessoas estão comentando...
Franzi as sobrancelhas.
     — As pessoas...? É com isto o que importa-se mamãe?!
Ela balançou a cabeça, negando.
      — Claro que não, minha filha eu...
      — Não, mamãe! Chega! Eu cansei! Será que pelo menos uma vez na vida, você poderia me ouvir?!
Ela arregalou os olhos e permaneceu em silêncio. 
      — Eu não quero me casar com ninguém que não seja Harry Hampton, mãe... — fungei— eu o amo... Só ele... 
Mamãe ergueu o queixo.
     —  Mas ele terá um filho com outra, Annabeth... A esta altura, já deve estar casado...
Fechei os olhos com força.
A dor sufocante havia dado as caras novamente.
Mamãe deu um passo a frente e tocou meu rosto.
      — E quanto à você, filha... O que vai fazer?
Abri os olhos.
      — Morrerei solteira, então...
Mamãe fitou-me com os olhos penosos.
     — Annabeth... Não brinque com algo assim.
     — Não estou brincando, mamãe. Não quero nenhum outro homem que não seja Harry...
Mamãe arregalou os olhos.
      — Annabeth... Por favor...
Desvencilhei-me dela e rumei até a sala. Chegando lá, vizualizei papai e Liza, sentados sob o sofá, próximos à lareira.
Os olhos de papai ergueram-se até mim enquanto ele sussurrava:
     — Filha...
Palavras ditas, Liza levantou-se abruptamente do sofá e veio até mim, com olhos preocupados.
     — Annabeth... Que bom que você desceu. Sentimos sua falta...
Ela deu um sorriso fraco e não pude controlar-me: comecei a chorar descontroladamente.
      Ela e papai rapidamente se puseram próximos à mim e abraçaram-me, com o intuito de que eu pudesse melhorar.
Nada ia mudar...
Não enquanto eu continuasse a ter Harry preso à minha cabeça e ao meu coração...
    

     

Tinha que ser você - Irmãs Riggs 02Onde histórias criam vida. Descubra agora