•29 de Agosto de 2019•
Jannet Murley
Desde que voltou, se tornou o único assunto falado na cidade inteira. No jornal local, dentro das lojas de conveniência e entre as pessoas na rua.
Graças a Jeová ele voltou, e está bem. Demorou um pouquinho para que todos nós pudéssemos o visitar, a situação dele não era nada bonita...- Ouvi por aí que ele perdeu um braço e um olho... - Disse Benjamin, enquanto dirigíamos em direção ao hospital.
- Mais que merda garoto, qual o seu problema??? - Donna gritou do banco de traz. - O Damian já falou que ele tá bem!!! O único problema são as penas dele...
- Pelo menos ele tá bem, né? - Eu me preocupava realmente com Hipólito, mesmo que o conhecesse a pouco tempo, foi o suficiente pra eu me apegar a aqueles olhos pesados e cabelinho macio.
- Vai ficar traumatizado o resto da vida. - Don resmungou baixo. - As coisas por qual ele passa... Eu queria fazer mais por ele. - Não, ele nunca nos contou absolutamente nada. Passamos uma tarde dando apoio a Senhorita Melanie, e ela e o Kim nos contaram coisas das quais nunca saberíamos.
- Não há mais nada que possamos fazer Don, até ele tinha segredos coisas que não contava pra nós... - Ben parecia bem menos preocupado que todo mundo. Ele podia ser simpático, extrovertido e fofo, mas é bem frio de vez em quando. - Ele não podia esconder essas coisas assim... Eram importantes... Poderíamos ter ajudado, talvez tivéssemos evitado algo, vendo por esse lado a culpa também é dele.
- EU JA NÃO TE MANDEI CALAR A BOCA?? Garoto eu vou fazer vc parar esse carro e vou enfiar meu salto na sua garganta e arrancar sua língua na unha, vamos ver se assim você continua dizendo escrotice, babaca! - É normal ela se exaltar em momentos tensos como esse. Na verdade, ela se exalta o tempo inteiro, mas talvez agora ela tenha exagerado um pouquinho.
Póli a ajudava justamente com isso: Temperamento. A Donna sempre precisou parecer forte para não a machucarem. Ela nasceu num família grande, com 4 irmãos mais velhos que acabavam com ela emocionalmente quando ainda criança, e seus pais nunca estavam em casa pra ajudar. Foi aí que ela mudou repentinamente de uma garotinha meiga, para alguém cujo você pensaria duas vezes antes de se quer passar perto. Era um sistema de defesa, ela fez uma promessa a si mesma que nunca iria deixar ninguém passar por cima dela de novo.
E isso foi bom, ajudou na auto confiança dela... Mas foi se alastrando, e ela se tornou agressiva e arrogante até mesmo quando desnecessário. Isso afastava as pessoas dela logo de cara, mas Hipólito ajudou a evitar o estresse e a ensinou a como baixar a guarda, nem todo mundo ia tentar machucá-la.Comigo foi parecido... Eu me fechei para o mundo e para as pessoas, por sempre ter sido taxada de esquisita, estranha, essas coisas, me excluíam das atividades, brincadeiras, nunca falavam comigo. Ninguém queria se aproximar de mim, então eu decidi que seria só eu e eu, e isso não mudou quando virei amiga do pessoal. Eu não conseguia criar laços de intimidade e nem sabia sequer me aproximar fisicamente de alguém.
Então ele abriu meus olhos, para um novo caminho que eu podia escolher: Enxergar e ter certeza que eles me amavam... Eram meus amigos de verdade. Consegui me permitir tentar um relacionamento mais pessoal com eles.Deu certo... Para nós duas. O que não sabíamos, era que por trás daquele sorriso gentil e gestos delicados e sensíveis, tinha uma alma amargurada e torturada em silêncio, que precisava de ajuda urgentemente. Talvez ainda não seja tarde demais..., Pelo menos eu espero que não.
Seguimos a viagem completamente calados, e o tempo parecia não passar. Até que enfim, chegamos no hospital. Sem perder tempo, saímos em busca de como achar hipólito, e dando o nome para as recepcionistas chegamos ao seu quarto.
Kim, Damian e Melanie, estavam sentados conversando com ele.
Ele já estava sorrindo.- Gente??? - Ele semicerrou os olhos em busca de nos enxergar melhor, e quando nos reconheceu abriu um sorriso enorme. O mais puro e sincero sorriso que eu já tinha visto.
- HIPÓLITO. - Gritamos todos juntos e fomos até ele. Eu tinha tantas perguntas, "Quem?", "Quando?", "Por qual motivo?". Mas na hora eu só sabia chorar. Não consegui vê-lo daquela forma: pernas enfaixadas, curativos pelo corpo inteiro, gesso no braço...
•••
Depois de uma longa tarde conversando e chorando muito, mas muito mesmo, o horário de visitas estava prestes a acabar.
- Você foi tão corajoso, meu amor. - Kim disse enquanto beijava o menor na bochecha.
- Nhaaa, você é babão. - Disse Póli afastando ele e fazendo todos rirem, ele não perdeu o jeitinho ácido de antes... - Bom, eu sei que está na hora de irem, então não esqueçam de vir amanhã me visitar.
- Não vamos esquecer meu bem, mas você também tem que falar com as autoridades. Não pode ficar calado pra sempre... Tem que contar onde ele está. - Disse Melanie, mas Hipólito fechou a cara no mesmo instante e se calou.
Por fim a enfermeira chegou para nos tirar da sala, mas saindo eu me lembro de deixar o telefone na sala, então eu volto correndo.
- Oi vim pegar meu celular... - Sorri indo até a cadeira onde estava meu aparelho.
- Me acha estranho?... - Ele disse de repente. - Por gostar demais dele para conseguir entregá-lo...
- Do que está falando?
- É como aquela vez que você me pediu pra pintar aquela Mandala enorme e eu usei só uma cor... Mas em tons diferentes. Com ele é o mesmo, ele pode ser maluco,um criminoso, psicopata... Mas ele também é gentil, divertido e... Esses são os tons dele... Ele continua sendo o Jason de sempre e antes, o por quem eu me apaixonei... Faz sentido pra você. - Na hora não fazia sentido algum, mas talvez eu só precisasse pensar.
- Claro amigo... Faz sim. Eu vou orar por você, ligo isso tudo vai acabar. - Sorri e fui até ele o abraçando forte, saindo e voltando para a porta de saída. - Sabe Hipólito... - Parei antes de sair - Você pensa que está apaixonado, quando você só está sofrendo... - Eu não olhei pra ele, mas pude sentir seu olhar me atravessar.
Eu tenho medo dessa obsessão maluca dele pelo Blanco, não faz sentido algum amar alguém que só lhe causou dor esse tempo todo.
Hmmmm, isso me lembra um mangá... Killing...?
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SpRing LOve
RomanceHipólito tem 14 anos, apenas um botão de Rosa prestes a Florescer. Ele se apaixona pela pior pessoa que poderia e agora tem que lidar com as consequências, enquanto um círculo de romance e sofrimento é relavelado lentamente por todos a sua volta. Ma...