Fotossíntese

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•24 de Agosto de 2019•

Hipólito Adams

Eu sinto minha vida se esvaindo. Escorrendo vagarosamente pelos meus dedos, jogando fora todo e qualquer objetivo ou sonho que eu tivesse, e nem seria por culpa minha... Estão me roubando as chances de alcançá-lo.
Admito. Eu o amo, estranhamente o amo e ao mesmo tempo que quero dar o fora daqui, também quero passar o resto da minha vida ao seu lado...
Jason entra na cozinha irritado, me olhando de cima á baixo.

- Aconteceu algo?... - Resolvo perguntar. Nossa relação tinha evoluído um pouco... Não o bastante, mas estava bem melhor.

Ele rosna, passando a mão no cabelo com força.

- Precisamos ir embora daqui. - Diz me olhando nos olhos e se aproximando em passos largos e lentos, é, parecia um maníaco.
Logo saiu correndo até o quarto, pude ouvir alguns barulhos de coisas caindo... Resolvi não me intrometer.

•••

Algumas horas depois os barulhos não haviam cessado. Ele havia voltado á cozinha e me prendido á pia. Eu lavei a louça, tive tempo pra secar, passei um pano na pia... Estava começando a ficar com tédio.
Havia uma janela na cozinha, que mesmo fechada, deixava escapar alguns raios de luz. Era um dia de sol, daqueles que numa situação normal eu odiaria, mas agora eu daria de tudo pra sair e observar o céu, e correr por aí igual um idiota, e rolar na grama, e...

- Por qual motivo exatamente você está preso á mesa? - Jason chega de repente na cozinha como se já estivesse lá por minutos. E talvez estivesse mesmo, e eu não tenha percebido por estar completamente perdido nos meus pensamentos.

- Na verdade você–

- Mas que garoto IDIOTA! - Ele corta minha fala e vem até mim. - Não faz nada direito... - Ri ironicamente e me solta, voltando pro quarto logo em seguida. É... Ele parece drogado.

Bom acho que agora eu deveria voltar para o porão como de costume... Espera...
Ando devagar até a porta do quarto e vejo Jason jogando as roupas para todo lado, algumas arrumadas na mala e coisas quebradas pelo chão. Parecia bem ocupado... Distraído.
Volto meu olhar para a porta da sala, que era a saída. Estava entreaberta.
Olho para Jason, olho para porta, e de novo pra ele... E saio correndo até a porta, parando de súbito, abrindo-á devagar e saindo no mesmo ritmo.

No momento em que senti o calor se espalhando pelo meu corpo, foi como se toda a energia que eu precisava viesse atravessando minha pele pálida e entrando nas minhas veias.
A melhor e mais gentil sensação de todas!

Não pensei em mais nada, apenas saí correndo pelo jardim. As pedrinhas machucavam meus pés e o pólen das flores irritavam meu nariz, mas eu tava pouco me fodendo. Era tudo que eu sonhei depois de todos esses dias dentro dessa casa.

Quando me toquei, estava dançando para fora do cercado, mas parei perto do portãozinho.
A única coisa no momento, que me separava da minha liberdade e possível chance de sobreviver.
Muita coisa passou pela minha cabeça na hora... Minha mãe, meus amigos, Kim e... O Jason... Tudo tinha seu lado bom e seu lado ruim. Comecei a entrar em Pânico, sentia que meu cérebro ia explodir. Mas mesmo tonto eu dei um passo para frente.

- Eu estou fora?... - Olhando pra trás, vi a casa. Ela me dizia pra fugir e correr como se minha vida dependesse disso, e obviamente dependia.

Então de imediato eu corri, dentre as árvores altas e arbustos espinhosos, mas tropeço numa raíz, indo de encontro ao chão.

Rio de mim mesmo, levanto e sorrindo.

- Estou fora. - Ergo os braços e pulando de pura felicidade. Olhando para trás novamente, eu nem tinha ido tão longe, ainda podia ver a casa nitidamente. E nesse momento, ele viu a porta de abrindo, era Jason o procurando pelo jardim e chamando pelo seu nome.
Ao ver aquilo, seu primeiro gesto foi andar até ele, mas parou. Sentiu seu coração sair pela boca. Dando passos para trás, tropeçou na mesma raiz de novo, fazendo barulho.

- Hipólito, é você? - Jason caminha em direção ao barulho. - Póli?... Eu consigo te ver...

É o fim... Achei que estivesse finalmente livre, mas me enganei. E nem mais nada pra fazer.

- Ooi... O que está fazendo aqui? Não lembro de te deixar sair. Vêm. - Ele me pega pelo braço e me puxando de volta para o nosso lar.

Eu estava consentindo e indo junto, mas quando chegamos no jardim, parei de andar quando notei algo estranho.

- O que é aquele buraco ali?

- Aaah... Acho que é seu irmão. Não achei outro lugar melhor pra enterrar ele. - Disse sorrindo. - Agora vamos,estou com fome você não fez o Jantar.

Ele me puxa novamente, mas sua mão escapa do meu pulso enquanto eu recuo.

- Ma-Matou ele? - Minha voz quase não saiu.

- É... Qual o problema? Nem gostava dele mesmo... - Senta me segurar de novo mas eu me esquivei. - Hipólito... Não torne as coisas difíceis, sabe que eu não quero ter que te machucar.

- você... Vo-você...

- O que? Fala alto, sabe que eu odeio quando resmunga. - Disse já impaciente e cruzando os braços.

- Você me ama?

Houve uma pausa silenciosa no ambiente inteiro, mais parecia que o mundo todo queria ouvir a resposta.

- É óbvio que amo. - Ri e colocou as mãos calejadas no meu rosto. - Você é meu brotinho de Rosa.

Meus olhos brilharam e eu o beijei. Um beijo quente e enérgico, como ele gostava.

- Uau... O que foi isso? - Disse um pouco ofegante depois de nós separarmos.

- Um beijo de despedida. - Logo, acertei um chute no seu saco. Um chute bem dado, pra ele não ter que passar esse genes psicótico pra nenhuma criança inocente.

- FILHO DA- Disse com uma voz rouca e sem fôlego.

Neste momento, eu saí correndo de volta pra floresta, ele não teria como me seguir. Estava errado.

- VOLTA AQUI SEU MERDINHA. - Mesmo com dificuldade, ele correu atrás de mim, me perseguindo dentro da floresta. - HIPÓLITO!!! - Berrou. O que fez meu corpo estremecer de medo.

- Por favor senhor, eu não quero voltar, por favor! - Disse comigo mesmo, enquanto as lágrimas de dispersavam no ar.

Estava desistindo, ele estava próximo e eu cansado, até que ele caiu. Tropeçou naquela raíz. Uma bola dentro dona árvore.
Continuei correndo enquanto ele estava estirado no chão. Corri incansavelmente, até que cheguei no parque...

- Parque Conton's?... - Percebi onde estava ao olhar em volta. Estava de volta... - Mãe...
Aí eu desmaiei.




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