Lu e Valério

Segredos revelados

Os minutos se transformaram em horas sentadas naquela escada.  Eu olhei de soslaio para Valerio esperando me encontrar com seus olhos castanhos olhando na minha direção e, portanto, sei que nem tudo estava perdido, mas quanto mais tempo passava, a expressão em seu rosto se tornava mais fria e os gritos de meu pai mais alto.  .
  - É tudo culpa sua se você passar mais tempo com eles, isso não teria acontecido!
Durante muito tempo eu não via meu pai com tanta raiva, o grande Sr. Montesinos costumava ser uma pessoa pacífica, sempre sereno, um homem inteligente, com uma família exemplar, ele mesmo  que neste momento pareceu desmoronar.
- Esta é a gota d'água, você tem alguma idéia do que um escândalo como esse faria com a minha carreira?
e continuou pelo que pareceu horas.  Quando meu pai finalmente pareceu ficar sem reivindicações de minha mãe, a caminho de nós, ele parou na nossa frente  sem sequer nos olhar e disse:
- Valério falará com sua mãe de manhã e você voltará no primeiro avião para o Chile, não vou permitir que você fique um ou mais um dia aqui
Olhei na direção do meu irmão, que apenas acenou com a cabeça gentilmente e esperou que meu pai dissesse outra coisa
- quanto a você lucrecia ...
Não sei o que me incomodou mais, se o tom de sua voz  isso refletia apenas uma profunda decepção, ou o fato de que ele não era capaz de me olhar nos olhos.
+Você será punida sem saídas até novo aviso, você só vai de casa para a escola e da escola para casa sem exceções, ah  Está claro?
Abaixei a cabeça e sussurrei um simples sim
-bem, agora para os seus quartos, vocês dois, preciso pensar e agora sua presença não é exatamente  a mais agradável.
  Nós dois fomos para os nossos quartos sem nos olharmos como se não existíssemos um para o outro.  Senti raiva, mas ao mesmo tempo triste e desapontado.  Porque ele?  De todas as pessoas, a única que acreditava que eu nunca iria me trair, a única que sempre estava lá por mim.  Suas palavras ecoam em minha mente repetidamente como um disco riscado "Você é minha irmã, apenas isso."  Sem perceber, algumas lágrimas rebeldes correram pelas minhas bochechas, que eu enxuguei rapidamente com fúria.  -Não Lucrécia, ninguém merece suas lágrimas.
Tomei um banho rápido, vesti meu pijama e deitei na cama, uma vaga lembrança me veio à mente, embora agora parecesse mais um sonho, daqueles que você tem quando criança e eles permanecem gravados em um lugar profundo da sua mente  destinado a ser esquecido, ainda estava lá.
-Lu, querida, desça agora! - Ouvi o grito de minha mãe vindo do térreo - você não ficou animada em conhecer seu irmão? - até aquele momento a idéia de ter um irmão nunca passou pela minha cabeça.  No entanto, havia uma pequena menina de seis anos de idade descendo as escadas da residência de Montesinos pronta para encontrar seu irmão mais velho, resultado do primeiro casamento de seu pai.  Ao descer as escadas, encontrou um menino bonitinho com cabelos encaracolados, sentado em sua sala de estar, não parecia muito
mais velho que ela, provavelmente tinha  dois anos de diferença no máximo. 
Sua mãe fez um gesto para que ele dissesse olá a  Lu de seis anos respondeu com um olá feliz,
-Eu sou Lucrécia, mas se você quiser, pode me dizer Lu, qual é o seu nome? ela disse enquanto estendia a mãozinha em direção ao garoto.  o mesmo gesto que vira o pai fazer centenas de vezes nos jantares de negócios.  O garoto que até então não tinha levantado a cabeça para olhar para a mão estreita dela, levantou o rosto e com um sorriso tímido disse
- Valério, mas se você quiser, pode me chamar de Val. 
Seu doce sorriso e o olhar em seus grandes olhos castanhos sempre a faziam se sentir em casa, mesmo quando eram crianças, o olhar reconfortante de seu irmão mais velho tinha o poder de transformar um dia triste em algo bonito.  Pena que esses sorrisos não carregariam mais meu nome neles, eu finalmente adormeci com esse pensamento triste e a memória daquele primeiro sorriso, que sem saber acabaria virando meu mundo de cabeça para baixo.