Este capítulo não se trata de um poema ou uma história que é contada em rimas, mas sim de um texto que escrevi. Eu gostei bastante e ele é bem filosófico, o que se encaixa na proposta deste livro. Não sei se é realmente uma crônica ou um texto qualquer, mas gostei do nome. Boa leitura!
Crônica da vida
A gente nasce. Nasce assim por nascer mesmo, apenas por uma simples coincidência de um óvulo e um espermatozoide se encontrarem. Cresce, enfrentando as adversidades da vida. Aprende a falar, andar, ler, escrever, jogar bola, andar de bicicleta e soltar pipa. Brinca de tudo um pouco.
Sai pela primeira vez, tem o primeiro porre, dá o primeiro beijo, se apaixona por uma bela garota, namora, separa, sonha e vai pra faculdade. Que faculdade? Pô, a mais econômica, a que te dê mais tempo, a que te dê mais dinheiro, a que te dê um futuro estável ou a que seja a mais próxima. Se forma. Pega o diploma e começa a trabalhar. Trabalhar onde? Em uma grande empresa, em um banco, na prefeitura ou num lugar grande qualquer. Enterra o sonho de ser professor, escritor, pintor, arrumador de bicicleta, cantor, diplomata, antropólogo, filósofo. Tudo em nome de dinheiro, estabilidade, comodidade, facilidade, vergonha ou pressão.
Pode ser que a gente continue realizando essas atividades. Ensina um sobrinho, escreve uns poemas, pinta uns desenhos, arruma umas bicicletas, canta no chuveiro... Mas chega uma hora que isso acaba, esfria. Por cansaço, falta de retorno, desesperança ou comodidade.
Encontra novamente uma bela menina. Encantadora, que te dá até algum gás pra prosseguir. Se casa com ela, só pra não deixá-la ir, por pressão da família ou por pensar que ela é o amor da nossa vida. Tem filhos. Dois, três ou sete. Trabalha como um condenado, pra não deixar faltar nada pra sua família. Se afasta da criação dos filhos, da esposa e enterra novamente os sonhos. Num lugar mais secreto e mais fundo desta vez.
Com alguns anos de casamento, o que era beleza, vira tragédia. Dívidas aparecem, brigas se intensificam, as crianças se rebelam, o amor esfria, o sexo não acontece, a mulher te trai, a gente trai ela. Mas não se separa. Empurra com a barriga, empurra com vontade. Só pra não ter um escândalo, os vizinhos não terem motivo pra fazer fofoca, pros filhos não se revoltarem mais, pra não perder o suado dinheiro ou por comodidade mesmo.
Os anos novamente passam, a gente se vê velho, acabado, sem nenhum legado. Desenterramos alguns sonhos, devaneios, vontades. E novamente nos vemos longe demais pra realizar, pra fazer as coisas que sempre quisemos. Enterramos tudo novamente. A esposa morre, os filhos saem de casa, tem seus próprios filhos, que por sua vez tem seus próprios filhos. A gente se vê sozinho, trancado em uma casa ou num asilo.
O que sobra da nossa vida incrível é o diploma indesejado, uma aposentadoria que é entregue aos filhos ou a casa de repouso, lembranças de um péssimo casamento, arrependimento e o caixão dos sonhos.
O caixão dos sonhos? Não, o nosso próprio caixão. O caixão que sempre mantivemos por perto, mas escondido. Nunca tivemos coragem de abri-lo, tentar de verdade, deixar a opinião das pessoas de lado e mostrá-las que a vida é só uma e que ela é nossa. A gente por fim morre. Morre por morrer. Mas morre com uma única esperança: de nascer. Nascer por simplesmente nascer e fazer tudo diferente.
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MultiVersos
PoetryA história de uma vida, Comprimida em um livro. Por que não ser lido? Existiriam mesmo MultiVersos? Não sei, na verdade. Mas na mente deste autor, em sua totalidade, Existem diversos. Desejos, experiências, amor ou dor: Tudo compilado para o diverti...