7. Azul

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Querido Jimin,

Talvez esteja na hora de escrever sobre finais. Os fatos da vida se desenrolam e se combinam: diferentes inícios para diferentes finais. Eu sempre os odiei. Fora os felizes, odeio todos. Sempre fui muito apegado.

Quando me despedi apressadamente de Taehyung após nosso beijo, pensei que aquele seria o final mais doloroso de uma vida que eu estava recém começando. No momento da dor nunca enxergamos tudo o que temos pela frente.

Já faziam algumas semanas que eu não via ele. Semanas tristes e azuis. Azul da cor do mar. As flores estavam cada vez mais sufocantes, o cheiro mais irritante, a respiração mais difícil. Saudade cada vez mais apertada.

A falta que eu sentia dele era como um zumbido em meus ouvidos, silencioso o bastante para que eu esquecesse por alguns minutos mas presente o bastante para não sumir por completo. Flores que pareciam pedras.

Marquei a cirurgia de remoção das flores para um domingo. Dois dias antes eu iria em uma festa do Yoongi em seu novo apartamento com seu novo companheiro de quarto, Jungkook, um carinha bonitinho do Direito. O convite foi feito sob a justificativa de eu merecer um último porre dedicado a Taehyung. Quem sabe até conhecer esse novo carinha. Concordei.

Decidi que quando o meu sangue virasse puro álcool eu iria me permitir ligar para Taehyung e dizer umas boas verdades. Me imaginei podre de bêbado com o telefone na mão, confundido as palavras, rindo antes de terminar as frases. Falaria que em poucas horas eu estaria esquecendo ele para sempre. 

Mesmo que esse pensamento fosse um pouco tosco, eu queria me agarrar a ele. Eu poderia me permitir ser um pouco tosco. Eu queria me permitir ser mais tosco, pois tosco eu já me sentia de qualquer forma.

Esta, Jimin, é uma pequena carta azul. Azul é a cor que melhor representa a tristeza do amor, a perda de algo que não teve início. Uma cor melancólica mas também a cor do mar e do céu em dias claros.

Eu era azul – a parte triste da cor. Taehyung era azul – a parte bonita da cor.

Com carinho,

Jimin.

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