Querido Jimin,
Imagine a tela ficando preto e branco agora, efeito vintage. Flashback.
Yoongi e Hoseok se conheceram em uma festa da Arquitetura. Naquela noite, os dois ficaram grudados a noite inteira, se amassando desde o primeiro momento em que grudaram os olhos um no outro. Mais para o fim da festa eu já estava exausto de tanto dançar e um pouco entediado de ter sido deixado de lado, então fui ao banheiro jogar uma água no rosto para tirar o chateamento do corpo. Comprei uma água com o pessoal da Atlética e fui em direção ao banheiro.
Quando abri a porta encontrei uma menina sentada no chão, de pernas cruzadas e segurando pequeninas flores de orquídea amassada nas mãos. O rímel borrado escorrendo dos olhos e um choro baixinho, intercalado com soluços. A imagem era de cortar o coração. Eu não fazia a mínima ideia da origem das flores.
Peguei papel toalha e me sentei ao lado dela, colocando as folhas e a garrafa d'água em sua frente. Ela disse que se chamava Marta. Olhou para as orquídeas, deu mais um soluço e completou, notando minha confusão.
"Doença de Hanahaki," ela me disse. "Doença do amor."
Limpou as lágrimas com as costas da mão, assoou o nariz e tomou um gole de água. Senti o cheiro forte de vodca barata misturado com o cheiro rançoso de banheiro masculino em festa universitária. Os olhos dela continuavam fixos nas orquídeas que agora estavam jogadas pelo chão. Quando se acalmou um pouquinho, me explicou que estava doente. Doente desde que sua melhor amiga Ana foi pedida em noivado, alguns meses atrás. Que desde então tossia todos os dias, cada vez mais flores obstruindo sua respiração e saindo por sua boca.
Aquela noite foi a primeira vez que eu descobri que existia uma doença de amor. Ela me explicou que tinha duas formas de melhorar: se a melhor amiga correspondesse seus sentimentos ou se ela fizesse uma cirurgia para tirar as flores de dentro do seu pulmão. Falou que não queria sufocar até a morte mas também não queria deixar de amar sua amiga. Ela me falou que sempre foi otimista.
Repentinamente, uma menina de cabelos loiros compridos entrou no banheiro. Ela parecia procurar alguém, e quando deitou os olhos em nós, suspirou em alívio. Pegou um amarrador de cabelo do pulso e prendeu seu cabelo loiro em um rabo de cavalo. Notei um anel de brilhante em seu dedo anelar. Pela forma que a Marta suspirou, presumi que a loira era a tal da Ana. A menina perguntou pra mim o que tinha acontecido e respondi que quando entrei no banheiro, Marta já estava sentada chorando com flores nas mãos.
Ana parecia estar de coração quebrado também. Eu nunca tinha passado por uma situação parecida, mas sempre estive familiarizado das dores do amor. Ana parecia estar de coração quebrado também. A dor parecia ser compartilhada por ambas. Não era culpa de ninguém. Era fácil de ler em seus olhos que ela se preocupava com Marta. Agradeceu a mim por ter tomado conta da amiga e disse para a menina que estava a procurando por tudo quanto é canto, táxi já estacionado e esperando no começo da rua.
Perguntei se elas queriam ajuda. Marta começou a roncar. Atendendo o pedido de Ana, peguei no colo de forma delicada a amiga já adormecida e as acompanhei até o táxi, preocupado que elas chegassem em segurança até seu destino.
Voltei caminhando até a República em que a festa estava rolando, procurando Hoseok e Yoongi para avisar que estava cansado e queria voltar pra casa. Encontrei os dois sentados e enroscados em um banco de madeira na varanda da casa. Hoseok disse que Yoongi ia dormir lá em casa naquela noite, e eu concordei. Eu não quis empatar a foda do meu melhor amigo. Quem diria que uns anos depois eu seria padrinho de casamento daqueles dois.
Como a República era perto do nosso prédio, fomos caminhando até em casa. Eu já estava sóbrio e os dois estavam cambaleando. Yoongi segurava em uma mão a cintura de Hoseok e na outra um tabaco bolado, meio amassado.
Perguntei pro Yoongi se ele sabia o que era doença de Hanahaki, já que ele fazia Biologia. Ele disse que sim, explicando os casos curiosos que seus professores de Botânica contavam na aula, cada tipo de planta mais bizarro que o outro. As pessoas vomitavam flores quando estavam apaixonadas e não eram correspondidas. As flores cresciam no pulmão das pessoas. O caso mais curioso que ele contou foi de um cara que vomitava flores de cacto.
Quando ele me falou isso eu disse brincando que se eu me apaixonasse por alguém que me fizesse vomitar flor de cacto, e não sei lá, um dente de leão, eu matava a pessoa e resolvia dois problemas numa tacada só, onde já se viu! Começamos a rir na hora. O Yoongi sempre foi meio bonitinho, né? Consigo ver o porque o Hoseok é até hoje apaixonado por ele.
Fim da cena de flashback. Imagine as cores da tela voltando ao normal. Volto para o período temporal em que comecei essa história.
Descobri o porque das pétalas vermelhas na semana seguinte em que conheci Taehyung. O dia estava ensolarado e ele usava uma camisa da Stevie Nicks. Tomava um chá gelado do lado de fora da sala de aula.
Sentei em seu lado e encarei a tatuagem com um pesar no meu coração: era uma flor vermelha em seu antebraço. Ele percebeu meu olhar concentrado. Taehyung não perguntou nada, me questiono até hoje o que fez ele falar sem eu ao menos ter perguntado. Talvez estivesse estampado no brilho do meu olho ou na sonoridade da minha respiração. Acho que naquele momento ele conseguiu ver meu coração em meus olhos.
Ele espantou as mechas bagunçadas da testa dele e me explicou. "Papoula, flor da família Papaceraceae. O nome científico é Papaver rhoeas. Cultivada para fazer ópio ou decoração. Uma das minhas favoritas da Georgia O'Keeffe."
Isso foi tempos depois daquela festa.
Lá estava eu, tal qual Marta. Com a doença do amor. Comecei a ter flores dentro de mim, papoulas vermelhas em meus órgãos. No mesmo dia que o conheci ele já fez flores crescerem dentro de mim. Flores que poderiam muito bem me sufocar. Kim Taehyung era o dono das minhas flores e meu amor não me amava de volta.
As papoulas vermelhas diziam que meus sentimentos não eram correspondidos.
Com carinho,
Jimin.

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Papoula
Fiksi PenggemarLembra do olhar do Taehyung, Jimin. Começa por ai. Começa por aquela pétala de papoula vermelha, primeira flor que escapuliu do seu pulmão quando esse mesmo menino bonito segurou sua mão pela primeira vez. Você sabe como essa história terminou, o mu...