Breath again

Prólogo

Sophia sempre amou o cheiro dos hospitais. Passava noites sonhando com o dia em que estaria com seu jaleco coordenando um parto em um plantão conturbado. Mas naquele dia o cheiro do hospital lhe embrulhava o estômago.Estava a 2 semanas internada se recuperando da retirada parcial de seu pulmão esquerdo após a fumaça do incêndio tê-lo queimado. O incêndio...
2 semanas atrás a família materna de Sophia estava na fazenda de seu avô fazendo o almoço de todo domingo. Ela estava aérea pois precisava entregar um trabalho urgente para completar sua graduação no Ensino Médio antecipada e não percebeu o cheiro de gás quando saiu para conseguir área. 5 minutos depois uma explosão. Em segundos que pareciam horas, ela correu de volta pra casa lutando contra a fumaça que ardia seus olhos e arranhava sua garganta e gritava chamando por sua mãe, seu pai, sua irmã, sua madrinha, seus primos, seus avós. Todos estavam lá, ninguém se salvou.
Quando os bombeiros chegavam escorria sangue do nariz de Sophia enquanto ela encarava as cinzas da casa do sítio de sua infância onde jaziam os corpos de seus familiares carbonizados. Tudo que ela queria era ter ido junto com eles, ficar era um fardo, lidar com a perda, com os comentários de pena, com a dor pra respirar. Com cada batida do seu coração que não acompanhava mais a música do seu avô ou a dança de sua prima ou o violão de sua irmã. Ela não queria ter ficado.
2 semanas em uma cama de hospital serviram para ela programar sua vida, pediria que sua avó materna a emancipasse, e em questão de semanas conseguiria seu visto para os Estado Unidos com todas as provas internacionais que havia gabaritado como auxílio. Ela deixaria pra trás toda a dor de ter ficado, toda a angústia de não vê-los de novo, toda a dificuldade para respirar com a saudade esmagando o peito. Ela começaria de novo, longe, por eles.