Epílogo - 1° Elo - Dandhara

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Correr sem destino era o que me restava.

Quase não enxergava o chão sob meus pés, pisava em falso a todo momento, tropeçava em alguns buracos, escorregava e tinha o corpo acertado por alguns galhos filhos das árvores.
Estava relativamente frio, mas a noite estava clara, e havia uma lua linda iluminando ainda que um pouco o meu caminho para liberdade.

Fugir, no momento, era a única possibilidade de ter liberdade que me restára após os últimos meses. Deixar tudo para trás era um mal necessário.

Desde a morte de minha irmã um ano atrás, Marconi meu amado cunhado, que sempre tinha cuidado de mim como uma filha, durante seu relacionamento com minha irmã, tinha se tornado outra pessoa, ficara agressivo, passou a beber com frequência e me tratava com frieza e desprezo.

Durante suas bebedeiras ele ficava descontrolado e passou a descontar em mim sua raiva, por vezes me agarrando, outras vezes me batendo, xingava-me e me prendia em casa como um cachorro com correntes, sem comida ou bebida por dias, para depois voltar a me agredir.

Para todos ele dizia que eu não tinha superado a morte de minha irmã, e por isso não ia mais a escola, não saia de casa, e não queria ver ninguém, quando na verdade ele havia escondido ou destruído meus documentos, me tornando uma indigente.

O maldito conseguiu me fazer acreditar que tudo aquilo era uma fase e que ele sentia remorso por tudo que fazia e por um tempo me iludi, mas depois de um tempo ele nem se dava ao trabalho de tentar me enganar. Tinha me feito acreditar que eu era a culpada de tudo, e que deveria retribuir a ele o teto e o alimento que ele me dava, uma vez que ele não tinha a obrigação de cuidar de mim. Eu quem lhe devia e iria pagar como pudesse, mesmo que fosse com "favores sexuais".

Por muito tempo acreditei nisso, mas as agressões se tornaram tantas que eu simplesmente decidi que não queria mais ser grata, eu preferia ser uma sem teto, viver desabrigada e ao relento, do que ter de me dobrar para aquele porco novamente.

Então numa noite, enquanto ele bebia, tentei fugir, mas o maldito cão da família me delatou, ao começar a latir, por sorte aquele bêbado imundo estava tão fora de si, que não teve reação quando o acertei na cabeça com a garrafa do seu wiskey favorito, deixando-o no chão sob sua própria baba.

Se ele tinha morrido ou não, eu não ficaria para ver. Sai correndo da casa e ainda consegui pegar a chave do carro antes de deixar aquele lugar para trás. Quando a gasolina acabou, horas depois, eu não sabia onde estava, mas sabia estar longe o suficiente daquele lugar. Abandonei o carro e comecei a caminhar, mas em determinado momento a exaustão física e emocional começaram a me fazer ouvir coisas e podia jurar que Marconi gritava por mim enquanto me perseguia, me angustiei e comecei a correr.

Corri por minha vida, mas estava no limite do meu corpo. Fazia dias desde a última refeição descente que tinha feito escondido daquele porco.
Em algum momento eu caí, tinha consciência de estar em algum lugar da estrada, só precisava descansar por alguns minutos ou talvez para sempre.

De uma coisa eu tinha certeza absoluta: nunca mais eu iria deixar alguém mandar em mim, nunca mais iria me subordinar ou me submeter a alguém. Nunca mais me envolveria num relacionamento abusivo como aquela prisão em que eu havia permanecido por um ano inteiro.
Se eu tivesse a chance de viver mais um dia... Nunca mais ia deixar me envolver com homem algum.

***

Acordei assustada e quase pulei da cama. Lágrimas se formaram e cairam por meus olhos, se eu estava em uma casa, depois de ter desmaiado em algum lugar na estrada, Marconi deveria ter me achado e me levado para algum lugar diferente e eu estava ferrada.

_para onde pensa que vai mocinha? - pulei da cama com aquela voz masculina próximo a mim.

Fitei aqueles olhos gatiados, aquela porra era como encarar um gato e um sorriso tranquilo.

_você está a salvo! - ele falou feliz.

Eu só conseguia pensar que tipo de alucinação era aquela ou se eu tinha morrido e ido para o céu.

_ah querida, estamos um pouco longe do céu! - o olhei incrédula, completamente arrepiada - sou Yohan e vim cuidar de você! Qual seu nome? - perguntou, mas eu não lhe diria assim do nada - quer dizer, eu sei que se chama Dandhara, sabe?! Perguntei apenas por educação!

_o que está acontecendo? - perguntei me encolhendo na cama - onde estamos?

_estamos na cabana de um amigo que lhe encontrou na estrada... Ele esta um pouco ocupado agora... - sorriu, mostrando-me pequenas presas pontiagudas - está no meio de um cio... Não é bom incomodar um Alpha no cio sabe? Eles ficam perigosos!

Alpha? Cio? Haviam animais ali? Quem eram eles? Onde eu estava?

_esta segura, pode confiar em mim! - sorriu gentil.

Algo naquele estranho com olhos de gato me tranquilizou. Eu estava temporariamente segura, dentro de mim, sentia isso... Talvez fosse apenas uma esperança idiota de querer estar segura em algum lugar, mas eu precisava me agarrar em alguma coisa por enquanto.

Aquele seria meu recomeço.



Comentem de qual casal deve ser o próximo livro Aiden e Dandhara (água com açúcar) ou Yohan e Aya (tretas trevosas??)
Nos vemos na próxima meu Pandinhas! Até breve, beijos de bambu no coração!

Companheiro do Urso - Livro III - Série Amores Indomáveis Onde histórias criam vida. Descubra agora