Um

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Maitê Dutra

RECIFE, PERNAMBUCO
Dias atuais..

Eu amo aniversários.

A data sempre foi motivo para comemorações quando eu era criança e apesar de nunca ter tido uma festa com direito a balões e uma decoração imensa eu apreciava o fato de ter tido a oportunidade de ter um bolinho e está com às pessoas que eu amo.

Desde cedo aprendi sobre os bens matérias que não poderíamos ter nas condições que vivíamos, não podíamos nos dar o luxo de querer mais do que já tínhamos, Nina sempre me disse que o pouco com Deus é muito, e o muito sem Deus é nada.

Olho para o rosto das minhas duas meninas, o sorriso largo que enfeita seus lábios aquece meu coração por inteiro. Maria Luiza me olha com expectativas pedindo permissão para pegar um pedaço do bolo enquanto Maria Eduarda vai contra todos os ensinamentos que dei a ela e passa o dedo pela borda com chantilly. Prendo a risada para não rir, ela sempre foi a mais travessa das duas.

— O que estão esperando para devorar esse bolo? — Me aproximo das duas, agarro a espátula e Maria Luiza me ajuda a partir um pedaço bem grande pra ela, com Maria Eduarda não é diferente — Comam devagar, não quero que vocês passem mal.

— Não me peça isso, mãe. — Duda responde passando por mim com uma garfada enorme prestes a entrar na sua boca.

Assisto em silêncio às duas comendo animadamente no sofá, não sou de comprar muitos bolos recheados pra não deixar elas mal acostumadas além de não achar saudável, mas vez ou outra não faz mal não é mesmo?

Não sei quando iria poder comprar outro já que estou desempregada e o seguro desemprego está chegando ao fim, mas apesar do pouco dinheiro não podia deixar o aniversário de nove anos delas passar em branco.

Fui demitida do último emprego a seis meses atrás depois de ter sido assediada pelo meu superior, possessa fui atrás do gerente da boate que trabalhava e a únicas palavras que ouvi foi que "isso é normal" normal é a minha mão na cara de cada um deles. Fiquei meses tentando de alguma forma causar a minha demissão para poder ter direito a tudo que não me é permitido caso eu mesma pedisse demissão, e foi com isso que eu tive a brilhante ideia de expor a boate nas redes sociais, tive um alcance considerável alto com o post no Twitter e na semana seguinte assinei a minha demissão com todo os meus meus direitos disponíveis.

Foi o único trabalho estável que eu tive, porquê o gerente da Boate fez questão de sujar o meu currículo inteiro, me dando uma má recomendação como funcionária e com isso eu fiquei três vezes mais possessa e fui bater lá na boate, só não sentei a minha mão na cara daquele bastardo filho de uma mãe porquê tive escrúpulos e medo de receber um processo.

Desde esse incidente só fui chamada para ir a uma única entrevista e isso porquê fui indicada por uma ex-colega de trabalho, mas nem de caixa quiseram me contratar, quem dera de bartender.

A pouco menos de três anos fiz o curso após ser contratada para trabalhar em uma boate não tão conhecida, eles precisavam de um rosto bonito para ficar atrás do balcão servindo bebidas e eu precisava de um emprego para me manter aqui em Recife, e após alguns meses juntando dinheiro investi em um curso rápido de doze dias e recebi meu certificado. Com isso, consegui o emprego fixo onde trabalhei com carteira registrada durante três anos, desde então estou desempregada e desesperada por um emprego onde eu pudesse manter as minhas duas meninas.

Armações do amor (Fazenda dos Alcântaras) Onde histórias criam vida. Descubra agora