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   Esta noite, uma bomba explodiu no triângulo de ouro. A avenue George-V, o lado ímpar dos Champs-Elysées e a avenue Montaigne estão parcialmente destruídos, o asfalto está coberto de vestidos de alta-costura dilacerados, destroços e corpos. Paris é apenas uma lembrança. Sessenta e três industriais, destacados homens de negócios e da política perderam seus filhos na catástrofe, parte da família principesca da Arábia Saudita foi abatida no Four Seasons, o ministro das Relações Exteriores jantava na casa de amigos na rue du Boccador, metade das embaixadas em Paris foi arrasada, a França, tomada de pânico, foi paralisada, o mundo inteiro está inquieto e tem razão de estar, visto que... NÓS TODOS MORREMOS NA EXPLOSÃO.

   – Bip! Bip! Bip!

   Eu me sobressalto. Minha mão emerge dos lençóis e se fecha sobre essa porra de celular:

   – ESTOU DORMINDO! – urro antes de desligá-lo violentamente.

   Venho à tona dez minutos depois. Quero dizer que recomeço a pensar com clareza. Esta noite é domingo, e odeio os domingos. Digo esta noite, e não hoje, porque já são cinco horas da tarde, porque acabo de acordar e já é NOITE, uma vez que estamos em novembro, mês cujos dias acabam antes do início do meu. De forma que perdi um dia da minha vida, isso me irrita, ainda por cima, domingo, não tem nada para fazer, e em novembro faz FRIO, pronto, estou de mau humor.

   Experimento levantar-me, tentativa infrutífera, todas as partes do meu corpo se unem para suplicar piedade. Ontem à noite, deixei que me arrastassem para uma saideira patética depois do Maison Blanche e cheguei em casa às oito horas da manhã. Então, derrubei uma espécie de vaso monstruoso que estragava a minha volta para casa, e que agora já não estraga mais, visto que se encontra em mil pedaços, o estorvo, mas ele custava muito caro e todo esse esporro acordou os meus pais, que urraram por causa da hora, da cara fodida, do vaso, eu disse que a gente conversava amanhã e fui dormir, porque bem que precisava disso.

   Ligo então para a linha parental disfarçando minha identidade para verificar se eles ainda estão em casa e se, sim ou não, iria haver reprimendas, mas o telefone toca 12 vezes e quem atende é a secretária eletrônica com a mensagem babaca deles. Só preciso tomar um banho e me vestir a jato, em seguida me mandar em speed antes que eles voltem e que tenha início o drama.

   São oito horas, finalmente estou pronta e tive sorte, muita sorte de eles ainda não terem voltado. Estou usando um jeans Guess, botas Prada, um pulôver preto no qual está escrito "glamour" com cristais Swarowski e meu casaco de couro, estou de cara lavada, não tive tempo de me maquiar e disparo pelo corredor, uma vez que o táxi já está a minha espera há dez minutos.

   Esta noite a gente vai jantar no Coffee e a hora marcada era às oito.

   Entro no restaurante, sou a última a chegar e Victoria, Lydie, Laetitia, Chloé, Sibylle, Cassandre e Charlotte começam a berrar ao mesmo tempo que faz uma meia hora que estão me esperando, que elas estão com fome, que já pediram um club sandwich para mim e que, se eu não estiver contente com ele, problema meu de chegar atrasada, merda.

   Eu me instalo soltando uma mentira, que meus pais tentaram me sequestrar para me castigar por ter quebrado uns vasos, mas que escapei pela janela fabricando uma corda com meus lençóis amarrados uns nos outros.

   Ninguém acredita em mim e, de qualquer jeito, se fez um enorme silêncio, porque o garçom acaba de chegar com os pratos, então me dou conta de que Chloé está vestida exatamente da mesma forma que eu, com o mesmo GLAMOUR gritante, o que me exaspera; felizmente o lencinho dela é com monogramas do Vuitton, enquanto o meu tem detalhes em couro.

Hell | Lolita PilleOnde histórias criam vida. Descubra agora