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   Desenganada antes do tempo, vomito sobre os sentimentos artificiais.

   O que a gente chama de amor é apenas o álibi consolador da união de um perverso com uma puta, é somente o véu rosado que cobre o rosto assustador da Solidão invencível.

   Vesti uma carapaça de cinismo, meu coração é castrado, sou a Dependência lamentável, a zombaria do Engodo universal; Eros com uma foice enfiada na sua aljava.

   Amor, isto é tudo que a gente encontrou para alienar a depressão pós-cópula, para justificar a fornicação, para consolidar o orgasmo. Ele é a quintessência do Belo, do Bem, do Verdadeiro, que remodela a sua cara escrota, que sublima a sua existência mesquinha.

   Bom, eu, eu o rejeito.

   Pratico e louvo o hedonismo mundano, ele me poupa. Ele me poupa das euforias grotescas do primeiro beijo, do primeiro telefonema, de escutar uma dúzia de vezes um simples recado, de tomar um café, uma bebida: as reminiscências da infância, os amigos comuns, as férias na Côte d'Azur, seguidas de um jantar: os escritores prediletos, o mal-estar de viver, o porquê de sair todas as noites, a primeira noite, seguida de outras mil, não ter mais nada o que dizer, foder para preencher os vazios, perder até a vontade de foder, se afastar, mas ficando mesmo assim junto, brigar, se reconciliar escondendo que no fundo tudo está morto, ir foder com outros, e depois mais nada.

   Sofrer...

Hell | Lolita PilleOnde histórias criam vida. Descubra agora