Valéria Arantes é uma contradição em si mesma: declaradamente gay, aparece subitamente grávida; a mesma garota que não dava a mínima para os estudos, de repente, se torna a melhor aluna do curso de Direito - enquanto repete aos quatro ventos que tud...
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Florença, agosto de 2018
Valéria
Eu perdi completamente as rédeas da minha vida. Mas foi só por um segundo. Talvez, dois.
O objeto sobre a pia de mármore do banheiro luxuoso da minha suíte teve essa capacidade, não ele, plástico, alguns produtos químicos e um pouco de xixi humano – o que ele representa.
Positivo.
Estou grávida.
O barulho do riso alto que sai de mim durante esses dois segundos de desespero não deve atingir outros ouvidos que não o meu.
Como um raio, o pensamento sarcástico perfura o meu cérebro: sou como a Virgem Maria. Só que sem qualquer interferência do Espírito Santo!
Para uma garota italiana, crescida numa família católica apostólica romana, não é apenas sarcasmo, é sacrilégio!
É, eu sei. Eu ri, mas não era porque aquilo fosse de alguma forma realmente engraçado! Não, era mais como um se colocar no top do próprio mundo e depois levar uma rasteira tão rápida da vida que você foi incapaz de entender de onde ela veio, que porra é essa que aconteceu que te derrubou com a cara bem no meio de um monte de estrume ainda quentinho de um cavalo que acabou de passar.
Nojento? É, também acho!
Você também deve estar achando que eu não tenho coração e queridos, tenham certeza, eu entendo vocês.
Até me sinto grata que pensem assim.
Por que?
Porque eu lutei para conseguir construir essa máscara e agora, ela faz parte de mim, de quem eu sou. Ou queria ser, até alguns segundos atrás.
Deixa eu te explicar como é que eu cheguei até aqui e você vai entender tudo.
Inclusive, porque eu acabo de tomar uma decisão absolutamente radical sobre a minha vida e a dessa criança, que envolve uma instituição religiosa de moral bastante duvidosa, um pouco de saber jurídico e alimentar um feed com notícias falsas para que a minha máscara, tão cuidadosamente construída, não me deixe agora.
Eu posso até ter levado uma rasteira, mas eu sou uma menina grande, saberei me levantar e seguir em frente!
