Capítulo 6

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Florença, janeiro de 2019

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Florença, janeiro de 2019

Valéria

Vida normal. É o que quero me convencer que estou levando, desde que os obriguei a me darem alta e voltei pra casa.

Me olhando no espelho, realmente não há absolutamente nada diferente, talvez os cabelos, um pouco mais compridos, mas acho que prefiro o long bob de antes.

Quem olha pra mim, não faz ideia de tudo o que eu vivi nos últimos meses. E ainda que eu goste que seja assim, gostaria de olhar pra mim e sentir a mesma segurança de antes, quando me achava invencível.

Tudo o que aconteceu me serviu para descobrir que não sou. Não domino nada, sequer, minha própria vida.

O receio no olhar da minha família agora não é só aquele de eu cometer alguma gafe em frente à alguém importante ou desmentir alguma de duas "mentirinhas sociais". Não, há um medo real e diferente escondido ali, como se a qualquer momento eu fosse sofrer outro meltdown igual aquele no hospital.

"Cedo demais para estar tão bem", foi o comentário dito entre murmúrios que eu ouvi.

Mas que droga eles queriam que eu fizesse da minha vida?

Aparentemente, existe um tipo de regra social para quando alguém vê o filho morrer, que eu nunca conheci! Porque eu devo agir como se minha vida tivesse acabado quando fui eu quem sobrevivi?

E em cima disso tudo, está o fato de que ninguém sequer sabia do meu filho, então, não há nenhum motivo para divulgar qualquer tipo de luto!

Evitei todos os convites de final de ano alegando estar numa praia paradisíaca na altura da linha do equador, mas o ano novo chegou e eu preciso sair dessa casa sob pena de enlouquecer!

Então, quando a mensagem chegou, eu rapidamente repliquei uma resposta positiva, ainda que eu suspeite que nenhum assunto com o Dr. Matteo possa ser minimamente divertido!

Coloco um vestido bonito sobre meias grossas e debaixo de um casaco elegante, no mínimo três cores pra mim, não é porque é inverno e eu supostamente deveria estar de luto que vou andar por aí como uma daquelas viúvas que usam preto para o resto da vida!

A maquiagem é forte – não entendo as pessoas que se maquiam para parecer apenas natural (se eu quiser ser natural não uso porra nenhuma!) e meu humor melhora quando eu o vejo levantar-se da mesa do café para o qual me convidou, tão inesperadamente.

Lindo, num terno de três peças cinza chumbo e camisa vermelha, com lenço combinando. Céus, quem é que usa lenço de bolso hoje em dia? Dr. Matteo de Santi!

___ Obrigado por ter vindo Valéria, como está? – ele me cumprimenta com um aperto de mãos, mas é claro que eu não posso conter a vontade de sentir o seu perfume, então o puxo para um beijo no rosto como se fôssemos velhos amigos.

Jardim dos Girassóis - Vol. 3 - As Leis da LuxúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora