II - Dúvidas

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Voltando para o dormitório, Kanji para no meio do caminho e pensa "Eu poderia ter comprado uma caminha para Kuro também... Quem sabe da próxima.". Quando finalmente chega em seu quarto, Kuro estava deitado em cima da cama dormindo, as janelas abertas deixavam uma leve brisa gelada entrar no quarto, a luz da lua azulada entrando no quarto, as cortinas balançando com o vento deixavam uma paisagem limpa e bela. Kanji larga as sacolas perto da porta e vai para cozinha, já estava quase no horário de recolher então naquele dia ele teria que comer curry gelado de novo. Depois de tomar banho, Kuro aparece na porta do banheiro e lambe as gotas de água que estavam nas pernas de Kanji, quando o mesmo olha para o prato de ração e o pote de água do gatinho já não tinha mais nada, colocou ração e água para ele e o pequeno felino comeu e bebeu. Ambos foram dormir depois de terem se alimentado e, novamente, Kuro dormiu na cama com Kanji.
      Ao acordar, Kuro já estava despertado e brincando com a sua bolinha indo para um lado e para o outro do quarto.

- Bom dia, Kuro.

Kanji se levanta e vai ao banheiro escovar os dentes. Enquanto ele estava escovando, o gatinho passa pela porta do banheiro brincando com a bola e o jovem escuta um barulho meio alto, bota a cabeça para fora do banheiro e vê Kuro ainda brincando com a bolinha e a lata de lixo derrubada no chão, ele apenas volta a escovar os dentes.
      Como ainda era dia de folga, Kanji não sabia bem o que fazer e não podia ir com Kuro para comprar a caminha dele já que teria gastado quase tudo da sua mesada com Akemi no dia anterior, que, por sinal, foi um dia que ficará marcado na lembrança de Kanji. Depois de um tempo deitado em sua cama, lendo alguns livros, o rapaz ficou curioso e foi perguntar algumas coisas a Hayato. Ao bater na porta de seu vizinho, o mesmo abre a porta como se tivesse acabado de acordar.

- *Bocejo* Kanji, o que houve a essa hora?
- São 11:00 Hayato. - Responde olhando para o relógio.
-Miau
- A... Oi Kuro. - se abaixa para acariciar o gato. - Entre, vamos conversar aqui dentro.

Kanji entra com o gatinho e se senta a mesa enquanto Kuro fica andando pelo quarto.

- Como foi seu encontro? - Pergunta Hayato.
- Como assim? - Kanji leva sua mão até sua cabeça em um estado de confusão.
- Você saiu com Akemi ontem certo? Tiveram um encontro. - Disse enquanto abre a geladeira pegando leite.
- Nós apenas compramos um microondas. - Desvia o olhar de Hayato e brinca com Kuro.

Hayato se engasga enquanto bebia seu copo de leite e ficou pasmo com a informação.

- Q-QUE... EU PENSEI QUE... VOCÊS DOIS. - Falava confuso enquanto se limpava.
- O que? - Kanji para por um momento de brincar com Kuro. - Você tá bem?
- Não é nada... Só fui precipitado, apenas isso. - Hayato levanta a mão e acena como se fosse para dizer que não tinha com o que se preocupar e sorri.
- Mas eu vim aqui para te perguntar algumas coisas. - Por um momento, Kanji passou a ter um semblante mais sério e esmagador.
- Cl-claro, o que você quer? - Ele sentiu a pressão que a conversa estava carregando.
- Você tem ideia de quem te prendeu naquele depósito?
- Eu... - Hayato bota a mão na testa. - realmente não me lembro de nada depois que passei pelo laboratório.
- Não tem sequer uma pequena lembrança ou alguém em mente que te faria isso?
- Meow

Kuro se aproxima de Hayato e sobe em seu colo.

- Não consigo imaginar uma pessoa que não goste de mim... - Disse enquanto acariciava o pequeno gato.
- Sério mesmo? - Olha ao redor do quarto. - Loiro, olhos azuis, popular, se dá bem com todos, boas notas, amado pelos professores... Você acha mesmo que todo mundo vai gostar de você? - Volta a olhar nos olhos de Hayato. - Eu não devo ser o único que percebeu seu sorriso de fachada e, acredite, muitos acham isso nojento.
- Eu sei que não sou do jeito que me vêem... - Olha para baixo com uma expressão de raiva. - Mas o que eu posso fazer? Não posso mudar de uma hora para outra. - A face que antes demonstrava raiva, agora aparenta ser de desprezo por si.
- Não sou eu que vou te dar a resposta, só vim para te perguntar quem teria te prendido.
- Eu não sei, não me vem ninguém na cabeça. E mesmo assim, que essa pessoa continue me odiando, não quero ter que mudar só por que alguém não gostou de como me comporto... Não quero perder amizades.
- *Suspiro* Se fossem seus amigos de verdade, não se importariam com quem você realmente é, pelo menos foi isso que me ensinaram. - Kanji se levanta e vai para a porta.
- Quem? Seus pais? - Hayato também se levanta para abrir a porta.

Quando Kanji sai do quarto com Kuro em seus braços, olha para baixo com uma expressão nítida de desprezo e diz:

- Digamos que sim.

      Hayato não tinha conseguido entender o que havia acabado de acontecer, mas tinha percebido que teria tocado em um assunto delicado. "Por que ele fez aquela cara?", "Será que eu devo perguntar a ele?", "Seria me intrometer de mais?", Eram perguntas que ficavam perturbando a consciência dele.
      Após aquela noite, Kanji acorda com leves miados ao seu lado.

- Bom dia, Kuro. - Senta na cama, boceja e olha para o pequeno gato. - O que foi?
- Miau.
- Tá com fome? - Acaricia o gato.
- Miau. - Pula da cama e vai até o prato no chão.
- Só um minuto.

Depois de alguns minutos o jovem finalmente se levanta e vai até a cozinha e observa o calendário.

- Domingo... 19 de abril... - Pega a ração no armário ao lado. - *Suspiro* Outro dia sem fazer nada.

Kanji coloca a ração no prato apta Kuro e se senta na cama novamente.
      Uma das coisas que o jovem mais apreciava era uma boa meditação, e já tinha um tempo que ele não fazia. Fechou as pernas e os olhos, deixou seu corpo leve, tentou não pensar em nada além de escutar o som do vento que batia em sua janela, o pequeno barulho da ração se quebrando entre os dentes do gatinho e, em seus olhos, uma leve mudança de iluminação que mudava com sua cortina passando pela sua frente ao balançar com o sopro do vento. Depois de um bom tempo parado, apenas analisando e aproveitando as coisas aí seu redor, Kanji desperta uma memória.

      Em uma sala completamente branca...  Crianças estão enfileiradas... Alguém na frente está falando algo... Um adulto... Uma das crianças tem um ataq...

Depois desse pequeno fragmento de memória Kanji sente uma forte dor de cabeça, era como se fosse algo que ele estava proibido de descobrir, ou algo que veio a sua mente em uma hora inoportuna e o fez sentir dor, mas uma coisa era certa, Kanji não se lembrava de seu passado direito, o mesmo passou por um trauma infantil, o mesmo trauma que provavelmente fez com que ele perdesse suas emoções.
      Ainda meio desnorteado com tudo, visão embaçada e tontura, Kanji vai até sua geladeira e pega um pouco de água, senta em sua cama e tenta descansar. Após o repouso, o garoto se dirige ao banheiro para tomar um banho e, enquanto isso, aproveita este momento para se fazer algumas perguntas:

- Eu me lembro de algo, mas é tão incerto. - Ele pega o shampoo para lavar o cabelo. - Por que eu estava naquela sala com aquelas crianças? Tem algo a ver com os meus sonhos? - Molha o cabelo. - O que houve com aquela que caiu no chão? O que a fez ter aquela reação... Não consigo me lembrar de nada... Ela conseguiu sair viva? Por acaso ela morreu?

Quando sai de seu banho, Kanji tem sua mente mais limpa, sente a brisa do vento bater em seu corpo que o dá uma sensação refrescante e, ao olhar para Kuro, ele decide o que irá fazer hoje.
      Veste seu uniforme escolar, tira todos os livros de sua bolsa e coloca o gatinho dentro dela com um espaço aberto para que conseguisse respirar facilmente, a abertura era o suficiente para Kuro colocar a cabeça para fora da bolsa.

- Fica em silêncio por enquanto okay? - Diz enquanto olhava para o gatinho com a cabeça de fora fazendo um sinal. - Vamos comprar umas coisinhas para você.
- Meow... - Entra na bolsa.

Kanji sai de seu quarto, vai até a saída do Instituto Kamiyama e se depara novamente com a visão do prédio abandonado acinzentado com algumas vinhas saindo de suas janelas e portas, mas continua seu caminho até a praça da central de comércio. Chegando lá ela passa por várias lojas de apetrechos para o gatinho, compra uma caminha que, por curiosidade, também é preta escolhida pelo próprio Kuro, um pequeno arranhador, petiscos e algumas tigelas para por ração e água. 
      Depois que terminou de passear com o pequeno gato pelo centro comercial, já estava um pouco tarde e Kanji teria que voltar para o dormitório, mas ao chegar perto da entrada, uma visão lhe foi curiosa, uma pessoa estaria entrando no prédio abandonado. 


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⏰ Última atualização: Aug 01, 2020 ⏰

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