III - Born Sick

693 52 77
                                    

A casa estava silenciosa. É possível dizer que era uma casa abandonada, mas haviam pessoas lá. Se alguém chegasse mais próximo à porta que leva ao porão da moradia, alguns murmúrios são capazes de serem ouvidos. Dentro do porão haviam velas distribuídas em candelabros. É possível sentir o calor que elas emanavam.

Em um emaranhado de lençóis e travesseiros uma mulher grávida alisava a barriga com as mãos e sentia as contrações do parto, um aviso que seus gêmeos estavam prestes a nascer. Ela aparenta ter um pouco mais de vinte anos, talvez um pouco nova demais para ter filhos. Possuía cabelos escuros e pele caucasiana.

— Parece-me que eles já estão chegando. — Falou o homem que observava a cena. Ele carregava um sorriso sombrio. — Como você está se sentindo Johannah?

Ele era alto, também possuía cabelos escuros e a mesma pele caucasiana que a moça.

— Cale a boca, Mark. — Ela respondeu um tanto ofegante. — Você sabe que eu não vou sobreviver ao parto deles.

— Obviamente. — Ele respondeu de modo frio. — Uma pena nossos filhos não poderem conhecer a mãe. Vou falar bem de você para eles. Veja isto como uma última promessa.

 Igual aquela vez que você prometeu que nunca iria me machucar? Mas o fez; e claro ainda me violentou e aqui estamos nós, oito meses depois. — Ela disse enquanto tentava ignorar a dor que sentia. Apesar de ter passado os últimos anos treinando para ser uma caçadora, Johanna nunca esteve preparada para se apaixonar por um bruxo. Ela sabia das consequências, mas estava cega pelo amor. Quando percebeu que estava em perigo, era tarde demais.

Eles recém haviam voltado de um encontro. Discutiram. Brigaram. E quando ela deu por si, estava presa na cama por algum feitiço de paralisia; enquanto ele a violava e ela pedia para que ele parasse através de gritos. Ela acabou grávida. Agora, após oito meses, ela dava a luz aos frutos dessa relação proibida. Claro que ela estava arrependida, mas ela amava essas crianças com todo seu coração, sem mesmo ter visto seus rostos.

— Eu devia ter avisado a Aliança assim que tive chance. — Ela disse.

— A troco de quê? Para que eles matassem nosso filhos só porque eles serão bruxos? — Ele respondeu. Ele tinha razão. Híbridos não eram permitidios legalmente pela Aliança, mas existiam alguns que ainda viviam às escondidas dessa política rígida.

— Você sabe que somente um deles vai se tornar um, os seus genes... — Ela foi interrompida por uma contração forte. Forte até demais. O primeiro deles estava vindo. A dor que ela sentiu foi a pior de sua vida, se não contar a dor de ter seu coração partido. Ela nem se lembrou de fazer força para ajudar a primeira criança sair. Na realidade, se quer precisou, ela já estava fora.

Mark já estava pronto para pegar o primeiro recém-nascido. Ela ouviu o choro do primeiro. Era um menino. O homem havia preparado uma tesoura e cortou o cordão umbilical. Ela não sentiu a dor do corte. Um encantamento, talvez? Ou será que sua morte já estava próxima?

O menino foi enrolado em um lençol branco e colocado no mesmo emaranhado de panos que ela estava. A moça relaxou por um momento, porém mais um bebê tinha que nascer. Ela fez força enquanto ouvia o choro da primeira criança. Suor descia pela sua testa e sangue manchava parte do seu vestido. Finalmente o segundo bebê nasceu. Foi devidamente separado da mãe. Era uma menina. A mais nova foi enrolada em um lençol, também branco, e foi colocada ao lado de Johanna. A mulher já se sentia fraca, eram seus últimos minutos.

— Eles serão lindos caçadores. — Ela disse. Mark ficou confuso, ele achou que ela estava ficando louca

— Como você tem tanta certeza disso? — Retrucou ele.

Witchery (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora