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Levanto da cama com o sol ainda nascendo. Não consigo dormir. Como conseguiria em um dia como esse? Visto um shorts qualquer e coloco uma camisa regata. Calço os velhos chinelos que outrora pertenceram ao meu pai e deixo meu quarto.

Minha casa não é grande. Tem dois quartos pequenos, um banheiro e um ambiente que serve como cozinha e sala, muito embora eu saiba que isso é mais do que metade do país deve ter. Metade dos distritos, é claro. A Capital não se encaixa nisso. Eles podem ter tudo o que quiserem, quanto quiserem. Nós dos distritos não. Trabalhamos muito, mas tudo o que fazemos é para a Capital. De certa forma, tenho sorte de ter nascido no Distrito 4. É um dos distritos mais ricos de Panem, atrás do Distrito 1 e Distrito 2. Há distritos muito piores para se viver, como no 11 e no 12.

Meus pais ainda dormem no quarto ao lado. Deixo eles dormirem mais, se eles conseguirem. A tarde será tão angustiante para mim quanto para eles.

Pego um pedaço de pão no formato de um peixe com algas da mesa da cozinha e saio de casa. As ruas ainda estão vazias. Como é feriado, as pessoas podem dormir mais. Mas muitos não conseguem.

De casa consigo ver o mar. Moro a uma curta caminhada da praia, pois sou filho de pescadores. Quase todos da região são pescadores, mas por aqui também temos os fabricantes de redes. Longe da praia fica a cidade, onde moram os mercadores, no segundo andar de seus comércios.

Sento na areia, e observo o mar, deixando o sol bater em meu rosto. Será que eu deveria estar tão preocupado assim? Nem tenho tantos papeizinhos assim...Já vi crianças de 12 anos sendo colhidas, isso é verdade, mas eram de distritos como o 10, 11 e 12, onde imagino que devam pegar muitas tésseras. Tésseras. Essa é uma das coisas que muito pouca gente se preocupa aqui no 4. Poucas famílias precisam que seus filhos coloquem os nomes mais vezes em troca de grãos e óleo. Nunca precisei pegar nenhuma para minha família, assim meu nome aparecerá em 3 papéis.

É assim que funciona a Colheita. É obrigatório que todos os jovens entre 12 e 18 anos participem. Seu nome aparece uma vez aos doze anos, e a cada ano que passe é adicionado mais um papelzinho com seu nome, até os dezoito anos, onde você aparecerá sete vezes.

– Imaginei que você estaria por aqui, – sinto duas mãos apertarem meus ombros e me viro. Annie Cresta abre um sorriso e senta ao meu lado, encostando seu ombro no meu. Annie é minha melhor amiga.

– Annie, – bagunço seus cabelos ruivos e entrego um pedaço do pão para ela.

– Estou preocupada, Finn –ela admite.

É claro que está. Annie completou doze anos esse ano, e essa é sua primeira Colheita.

– Vai ficar tudo bem, Annie. Seu nome só está lá uma vez. – asseguro, colocando a mão dela entre as minhas. Não posso fazer mais do que isso. Não posso prometer que ela não vai ser colhida. Não tenho controle sobre o que acontece na Colheita. –Venha –digo, levantando e puxando-a comigo.

–Finnick! – ela começa mas já é tarde demais. Estou correndo em direção a água. Fico com a água nos joelhos, e Annie quase na metade da coxa. –Aqui está bom.

Annie não é uma boa nadadora, devo admitir isso, mesmo vivendo no Distrito 4. Sua família não depende diretamente dela para sobreviver. Os Cresta fabricam redes. Annie só aprendeu a nadar depois que nos conhecemos. Quero dizer, eu ainda a estou ensinando. Esse tipo de coisa leva tempo.

– Amanhã vamos passar o dia aqui na praia. Você e eu. – digo. – Vamos continuar as lições. – sorrio e jogo um pouco de água em sua direção. Ela responde jogando mais água em mim.

Ficamos ali, brincando na água por algum tempo, antes de voltarmos a areia. Tínhamos poucas horas juntos. A Colheita começaria as duas.

–Como é? – ela me pergunta.

Survivor -Finnick OdairOnde histórias criam vida. Descubra agora