𝐑𝐔𝐍 𝐀𝐖𝐀𝐘, 𝗳𝗮𝗰𝗸

[26] ➴ 𝐢𝐭'𝐬 𝐛𝐞𝐭𝐭𝐞𝐫 𝐰𝐞 𝐟𝐮𝐜𝐤 𝐢𝐧 𝐭𝐡𝐞 𝐜𝐚𝐫

Narradora's POV

Você já teve aquela sensação de quanto mais próximo parece estar da luz no fim do túnel, mais longe ela fica? Bom, é essa a sensação que persegue Jack toda vez que algo positivo acontece consigo. E sempre passa de um mero pressentimento, para a mais pura realidade.

Como no dia que descobriu a senha do pen-drive e foi contente da vida ao galpão, pensando que aquele pesadelo acabaria na mesma tarde, mas aquilo foi apenas o início do verdadeiro tormento. Ou como quando após acordar na clínica psiquiátrica, encontrou sua mãe pensando que seus dóceis braços lhe acolheriam de volta e lhe tirariam de lá, mas apenas descobriu o quão amargos e cruéis eram. E como agora, quando Finn conseguiu tirar-lhe daquele inferno e estavam em seu carro convencidos de que nada mais atrapalharia-os, mas as luzes de dois faróis ofuscaram seus olhos pelo espelho retrovisor, e uma nova perseguição iniciou-se. De fato, aquele pressentimento nunca falha.

— Mas de que caralhos esse carro é? - Jack perguntou já tomado pelo nervosismo.

— Harbour e Alexi estão neles - Finn identificou pelo retrovisor ao colocar seus óculos de grau para conseguir enxergar na escuridão que a noite deixava.

— Não acredito que esse demônio já nos encontrou. Se você acelerar e chegarmos mais rápido onde os agentes estão, nós conseguimos encurralá-los, não conseguimos?

— Então... estamos praticamente fora da cidade. Mesmo se eu acelerar, vamos demorar muito pra chegar.

De fato, Angela havia escolhido o lugar mais distante para isolar Jack, e a única estrada que levariam-nos de volta para a cidade tinha um enorme trajeto.

— Droga, droga, droga! Então vamos ter que despistá-los?

Finn inclinou seu torso para seu braço alcançar o porta luvas ao seu lado - e na frente do assento de Grazer - e apenas com um leve aperto no fecho, tal "gaveta" propendeu-se para frente junto com uma pistola Glock que deslizou a superfície à fora.

— É o único jeito - voltou sua postura para o volante.

Jack tocou na munição com as mãos trêmulas, e flashes que há semanas deixaram de atormentá-lo, vieram à sua cabeça. A mancha escarlate aumentando gradualmente na camisa de Martin Brenner, os gritos de alunos e sirenes da polícia. Por um momento, ao lembrar daquela noite, viu suas próprias mãos ensanguentadas naquela mesma cor, mas espantou a miragem piscando repetidamente.

— Amor, eu sei que você provavelmente tem um trauma com armas por causa daquela noite na escola, mas é só atirar nas rodas do carro. Por favor, você consegue... - ele puxou o gatilho para o garoto, vendo que ele ainda nem conseguia pegar no objeto direito.

Jack respirou fundo, tão fundo que o todo o ar inspirado transformou-se em coragem quando chegou ao peito estufado. Ele abriu o teto solar, suas mãos envolveram com firmeza o cano da Glock, e vendo que o carro dos perseguidores tinha a distância cada vez menor do seu conversível, espantou qualquer tremor que cobria o seu corpo de medo e insegurança.

Às vezes, vivemos aqueles cinco segundos que ficam gravados na mente para sempre. Não importa o quão aleatórios sejam eles, mas os lembraremos para sempre mesmo.

E Grazer tinha certeza que seu cérebro selecionaria aqueles cinco segundos que na sua cabeça pareceram passar em câmera lenta, para serem recordados depois. Quando se pôs de joelhos na dobra do banco do carro, com a metade do seu tórax para cima do teto, esticou seus braços em direção ao automóvel preto e atirou com certidão na mira as rodas surradas sobre a estrada. Talvez ele tenha sido levado pela adrenalina do momento e se empolgado, atirando mais do que devia por outros pontos do carro, mas não se importou nenhum pouco. Ver o carro de Harbour perder a direção e rodopiar até se engatar numa cerca rasgada de proteção foi tão prazeroso quanto imaginava, e gerou um sorriso no canto de seus lábios que Jack nunca pensou que fosse possível se formar enquanto segurava uma arma que tanto temia.