Capítulo 4 - O tempo começava a mudar

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fazendo com que a atmosfera da floresta ficasse ainda mais densa. Com os nervos à flor da pele James sacou o revólver e apontou para a direção da moita.

— Revele-se agora! Tem uma arma apontada para você! — Ele gritou. No mesmo instante Amélia surgiu com as mão para cima.

— Por favor, acalme-se. Eu vim ajudar nas buscas, não pude ficar em casa sem fazer nada!

— Você está maluca? Eu quase atirei em você, nunca mais surpreenda alguém desta forma!

— Você tem razão, eu peço desculpas, mas não voltarei atrás. — Disse determinada.

Antônio intercedeu dizendo que não era prudente que se separassem naquele lugar. Ela deveria acompanhá-los a partir dali. A voz dele, por vezes, parecia trêmula como se estivesse nervoso. Mas Jhon começou a desconfiar que algo estava errado em torno de seu conveniente guia.

A vegetação mudava ao longo do caminho de uma maneira estranha. As árvores pareciam mais vivas, menos retorcidas e ainda mais altas. Arbustos com grandes folhas azuis do tamanho de guarda-chuvas, samambaias cor de rosa e cogumelos de todas as cores e tamanhos.

Era algo realmente bonito, mas ainda causava calafrios no grupo. Aquele pedaço da floresta não se encaixava. A trilha havia desaparecido já a algum tempo, por isso iam pregando fitas vermelhas às árvores onde passavam. Jhon se aproximou aos poucos de Antônio na intenção de descobrir se seus instintos estavam enganando-o dessa vez.

O guia contou sobre sua infância e como foi crescer ali. Sempre foi um lugar muito pacato que mantinha uma relação de grande respeito com as matas. Jhon podia sentir uma nostalgia verdadeira na voz dele, mas o respeito ao qual se referia soava mais como um medo reprimido.

— Mas diga-nos, meu senhor, o que lhe motivou a entrar aqui e explorar se sua família sempre o ensinou a respeitar este lugar e se manter distância? Eles devem ter desaprovado quando o senhor veio pela primeira vez. — Questionou Jhon.

— Eu sempre quis ver este lugar, poder provar as histórias que ouvi desde criança. Antes de vocês ninguém nunca ousou, então criei coragem.

— Está querendo dizer que essa é a primeira vez que entra aqui e tem coragem de nos dizer que tem experiência neste lugar? Tudo baseado em contos de fada que ouviu quando criança?! — Ele começava a perder a paciência quando um som muito o grave o interrompeu.

Bum, como um grande tambor fazendo as folhas chacoalharem com no mesmo ritmo. Até o vento parecia carregar o eco de propósito. Não era natural como a natureza se comportava ali. Dava para sentir o "bum" no peito, como se o próprio coração também sincronizasse suas batidas com o eco. Bum novamente.

Todos avançaram na direção do som rapidamente, transpassando galhos pedras e o que mais se encontrasse no caminho. Não era natural, era a chance de encontrar a todos! Não havia tempo nem espaço para que mais nada ocupasse a mente do grupo.

Havia uma ferocidade em Jhon, que assumiu a frente do grupo, um instinto incontrolável como de uma fera durante a caça. Andavam tão rápido que que já parecia uma corrida. Bum! Estava mais próximo. Estava mais alto! — Mais rápido! — Os corações pareciam querer sair do peito. BUM.

Uma parede de rochas de cinco metros surgiu a frente. Era uma formação natural, mas parecia esculpida devido a simetria das pedras. Duas escadas se projetavam em espiral levando ao topo da barreira. Uma na direita e a outra na esquerda, escavadas e esculpidas rusticamente a partir da mesma rocha da parede.

BUM. Jhon correu na frente subindo as escadas. Os outros o acompanharam porém, mais cautelosos. Ele parecia hipnotizado e James se deu conta de que algo estava errado quando um feixe da luz do Sol passou em seus olhos, era como se algo o acordasse de um transe.

— Jhon, espere! — Gritou enquanto subia as escadas logo atrás. Até aquele momento nenhum deles parecia estar muito consciente. Jhon avistou uma clareira circular com grandes rochas dispostas em círculo no centro. Sete pedras com pelo menos cinco metros de altura e dois metros de diâmetro.

Não havia ninguém lá, a grama baixa que cobria o chão de toda a clareira parecia estar intocada a muito tempo. — O que será isso, James? Ruínas de alguma civilização? — Jhon perguntou.

— Eu não sei. Talvez de algum povo humano que viveu por aqui.

— Não seja tolo! Humanos não existem mais, que dirá neste lugar. — Um dos policiais respondeu com desdém.

Um olhar de James foi suficiente para fazê-lo se encolher. — Devemos investigar, não importa qual raça construiu este lugar, temos que encontrar minha mãe. — Disse Amélia olhando profundamente para James, que retribuiu o olhar. Jhon avançou em direção às rochas com o coração acelerado e cautela nos passos. O grupo o seguiu, mas já pareciam receosos.

"Está muito quieto" ele pensou ao mesmo tempo que pensava em outras mil coisas. Tudo o incomodava: o tambor parar de soar; quem poderia estar tocando-o; o motivo de tudo aquilo e, até mesmo, o olhar de James, que ele já havia recebido antes e conhecia muito bem. BUM!

O chão tremeu e um buraco se abriu sob os pés de Jhon o engolindo. Seu corpo escorregando pela borda e caindo sobre a terra húmida. Levantou-se e limpou as mãos uma na outra enquanto seus olhos se acostumavam com a penumbra.

— Jhon, você está bem?! Responda! — Gritou James.

— Estou bem, não me machuquei. — Respondeu enquanto observava o túnel que se estendia iluminado por alguns feixes de luz do sol que pareciam penetrar a terra e raízes que pendiam do teto.

— Espere aí, vamos arrumar um jeito de puxá-lo de volta!

— Não avancem pela clareira, ao que parece tem vários túneis aqui embaixo que podem desabar também. Voltem exatamente por onde viemos.

— Está bem, aguente firme! Logo tiraremos você daí.

Um leve uivo do vento balançou de cabelo chamando sua atenção. Não parecia que o túnel havia sido escavado, mas talvez houvesse uma saída. Ele começou a andar em frente. Finos feixes laranjas de luz passavam em diagonal fazendo-o lembrar que logo anoiteceria.

O caminho se bifurcou e voltou, se dividiu novamente, se estreitou e alargou. Ele já não sabia mais de onde tinha vindo ou em que direção estava indo. A luz começou a ganhar tons de azul à medida que diminuía. Começou a esfriar. Ele estava cansado, pensando que talvez nunca encontrasse uma saída. Talvez não houvesse uma.

Passos. Sons que talvez fossem passos. Pareciam vir em sua direção rapidamente. Ele puxou do bolso um isqueiro e apontou para o fundo do túnel. O barulho estava mais alto, já podia ouvir claramente os passos, como se estivessem em cima dele. E estava.

Alguém caminhava rapidamente sobre o túnel na superfície. Rapidamente ele seguiu o som. — Ei! Quem está aí?! Eu estou preso aqui em baixo! — Era passos muito leves mas muito ágeis. Uma luz azulada surgiu a frente iluminando uma escada de pedra em caracol, igual a que levava à clareira. Uma saída!

Colocou o isqueiro no bolso e correu. Sua espinha sofreu um arrepio ao ver uma sombra que se projetava do topo da escada. Tomou coragem e subiu. A que entrava era da Lua que o ofuscou, dificultando enxergar quem era a silhueta sentada na rocha a sua frente.

Um menino com não mais que quinze anos. Corpo esguio e cabelos negros. Roupas estranhas, que não se assemelhavam com nenhuma que Jhon lembrasse de ter visto e segurava uma das fitas que haviam pregado nas árvores pelo caminho.

— Quem é você? — Jhon perguntou suavemente. Seus olhos já se acostumavam com a nova iluminação. — Eu não teria encontrado a saída sem sua ajuda! Não sei como lhe agradecer.

O menino apenas sorriu. Algo era diferente em sua fisionomia. — Espere, o que é você? — Jhon deu dois passos para trás.

Não se preocupe, Jhon. Este, definitivamente, não é o fim.

Fadas não contam históriasOnde histórias criam vida. Descubra agora