e Thomas estava empolgado. O calor fazia bem a suas longas orelhas e aumentava sua disposição. A corrida do campanário de Fréya estava chegando e neste ano ele estava determinado a ganhar. Tinha apenas treze anos mas em sua cabeça já se sentia um adulto. Sentia que podia desbravar o mundo inteiro.
Desceu as escadas correndo veloz como uma flecha, escorregou por debaixo da mesa da cozinha e saltou porta a fora desejando um bom dia à sua mãe. Ela o repreendeu para que não corresse daquele jeito, como sempre. Esse era o jeito que ele levava a vida, correndo como se o mundo dependesse disso.
Nunca se demorava em seus afazeres, tudo era uma corrida contra o tempo. E isso o fazia muito bem, ele tinha muita energia. Até mesmo seus pensamentos voavam, e as vezes ele nem conseguia entender. As outras crianças caçoavam dele, mas ele nunca ligou, não havia espaço em seu coração para se preocupar com isso.
Nem mesmo o fato de nunca ter conhecido seu pai o incomodava, sua mãe dizia que ele tinha muita força e que não precisava de ninguém. Um cuidava do outro e assim seguiam.
Correu pelo campo até chegar na casa dos Hamber. Felipe, um dos filhos mais novos, era o melhor amigo de Thomas e havia prometido ajudá-lo a treinar. Chegando lá saltou por cima da cerca como se seu corpo não tivesse peso algum. Parou pouco antes da porta e recuperou seu fôlego em um instante.
— Bom dia, Tom! — Disse a senhora Hamber ao abrir a porta. Ela era firme, precisa e gentil.
— Bom dia, o Felipe já levantou?
— Eu lhe darei um prêmio se conseguir tirar aquele preguiçoso da cama. — Desafiou-o sinalizando para que entrasse. Ele correu até o quarto do amigo no andar de cima. Entrou silenciosamente no quarto, um passo de cada vez. Felipe estava dormindo de bruços com um braço arrastando no chão. Tom se aproximou e berrou enquanto abria as cortinas: — Acorde! Seu preguiçoso! É hoje o solstício.
Ele saltou de susto com o berro, de maneira desajeitada, quase caindo da cama. — Não faça isso, Tom, eu poderia ter morrido. — Ele reclamou com os olhos esbugalhados.
— Você tem um coração bem forte, pode aguentar um susto às vezes. — Respondeu jogando uma camiseta para que ele vestisse. — Você tem que me ajudar a treinar.
— Eu sei, eu sei.
Era difícil acompanhar o ritmo de Thomas, mas Felipe gostava de tentar, mesmo que tivesse bem menos disposição. Ele era quem tinha as ideias mais engenhosas enquanto Thomas o ajudava a sair da enrascadas em que se metiam. Haruni começava a parecer pequena para aqueles dois.
Desceram as escadas e quando se dirigiam à porta, a senhora Hamber, que trabalhava em algo na bancada da cozinha, lançou uma maçã de costas por cima da cabeça. Thomas a pegou e mordeu sem parar de andar. — Seu prêmio. — Ela disse ainda de costas.
— Obrigado, senhora Hamber!
— Como assim prêmio? Perguntou Felipe confusamente intrigado.
— Depois eu lhe conto... — Respondeu soltando uma risada maliciosa.
Porta fora e os pés de Thomas precisavam correr novamente. Saíram sem demora e logo chegaram ao rio Renard, que contornava a cidade. Felipe havia pensado em um circuito de obstáculos para ajudar no treino. Quando eram bem mais novos, encontraram uma casa na árvore perto das margens, que se tornou o esconderijo da dupla.
Saltaram de rocha em rocha através das correntezas do rio, como de costume. Algumas árvores depois da margem e lá estava a casinha circular com telhado pontudo. Uma escada de cordas pendia pela lateral. Dentro eles tinham vários objetos que colecionavam de suas aventuras e também alguns papéis que Felipe usava para planejar as próximas.
— E então, meu caro, como planejas me ajudar a vencer?
— Primeiro você tem que parecer mais velho, meu senhor! Ano passado não te deixaram participar, lembra?
— Mas esse ano é diferente, eu já tenho até bigode! — Falou apontando para uma leve penugem acima dos lábios.
— Você está brincando? Não tem nada aí!
— Não me insulte! Eu já sou um elfo adulto!
— Me desculpe, senhor adulto, mas acho que seu bigode esqueceu de se juntar a nós nesta manhã.
Ambos começaram a rir e se estapear.
— Vamos, Felipe! Eu não posso perder tempo! O que iremos fazer?
— Está bem, está bem. Nada de construir obstáculos dessa vez, eu tive uma ideia, mas você não vai gostar...
Os pelos da nuca de Thomas de eriçaram.
— A curiosidade está prestes a me fazer explodir! Desembucha!
— Meu pai recebeu o velho Jensen lá em casa ontem. Eles estavam conversando sobre a lenda do bosque da Lua. Tu já ouviu falar dela?
— E quem não ouviu? A mamãe sempre me disse pra ficar longe de lá, pois nada de ruim que eu encontrasse lá seria pior que o que ela faria comigo, haha.
— Pois bem, parece que tem alguma coisa acontecendo lá, e está deixando o velho Jensen bem preocupado.
— Aonde está pretendendo chegar?
— Eu quero descobrir o que tem lá, se conseguirmos ir e voltar, ninguém estará mais preparado para enfrentar a corrida.
— Deixe de besteira, não tem nada lá, são apenas histórias que o velho Jensen inventa. Vamos acabar perdendo tempo.
— Você está é com medo! Vamos, Tom, onde está seu espírito de aventura?
— Eu não tenho medo de nada! Eu irei, mas se eu perder, você será o culpado.
— Perfeito! Mas antes, tem mais uma coisa que eu preciso te contar...
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Fadas não contam histórias
FantasíaE se você pudesse ver todas as coisas que uma árvore já viu? Quem sabe uma floresta? Eu posso contar. Eu vou contar. Os capítulos serão publicados semanalmente, geralmente nos fins de semana. (tenham paciência com a minha procrastinação, sofro de bl...