O S O N H O"Quando se procura pelo tesouro, se começa uma jornada. Sem ambição, não se chega ao final, mas com ela se cega, e não se percebe que aquilo o que procura sempre esteve ao seu alcance."
...
As sombras estavam reunidas, junto a nós na grande ceia. Mesmo sendo vários, éramos apenas um. Diferentes e iguais. Opostos que não eram completos separados. Apesar de tudo, nunca houve uma verdadeira divergência, nossas ideias não eram convergentes, mas se encontravam em um único ponto. Havia a essência do equilíbrio, e ela se fazia presente em cada taça naquela mesa.Após mais uma jornada pelos mares, nós, dezoito ao total, desfrutamos de um grande jantar, que se estenderia a um longo descanso. Se não fosse pela memória da última descoberta, a profecia do Oráculo de Delfos.
E as discussões se davam, sem rumo a um alguém. Dedos se apontavam, mas aquilo já não me interessava, não há como mudar o futuro já feito, nós duas sabíamos disso. Da mesma maneira, a atenção dela também era usurpada para qualquer ponto que não fosse aquela conversa.
As discussões não traziam as respostas. Se queríamos respostas, tínhamos que procura-las.
Quando a olho, seus olhos se encontram no que estava além de mim, minha cabeça a segue, convergindo na caixa de cobre. A mesma que encontramos no exato momento que o navio atracou em terra, nosso primeiro passo foi até ela.
Curiosamente, a trouxemos para a casa, sem ao menos abrir ou ver se guardava algo. Na verdade, os outros não se interessaram, era pequena demais para ter algo valioso. Entretanto, era minimamente intrigante, seja o que estivesse lá dentro, parecia gritar para que fosse liberto.
Nossos olhares se encontram, e não precisamos falar nada para entender o que queríamos dizer, a nossa conexão nos permitia à essa simples interpretação. Em uma única concordância, deixamos a mesa, a discussão era calorosa demais para que os outros notassem.
A caixa brilhava, e não era pela luz ou pelo cobre, era um brilho divino, ao qual me fazia questionar o motivo ninguém a ter encontrado antes. Era atrativa demais para estar largada sobre a areia. Às vezes o mundo guarda mistérios questionáveis, aos quais não podemos designar uma resposta exata, simplesmente as coisas acontecem porque precisam acontecer, quase tudo é uma obra do destino.
Apesar do desejo, o último questionamento me faz parar e querer pensar um pouco mais. Algo tão chamativo, não seria facilmente perdido, ao menos que quisessem que se perdesse.
Diferente de mim, suas mãos se esticam tocando a caixa e seus olhos ganham um novo brilho. Essa era outra diferença estabelecida entre nós, - tudo aquilo que me fazia temer atraía a sua atenção.
— Está sentindo? - a figura adornada de preto da cabeça aos pés coloca minha mão sobre a caixa que antes tocara.
Algo parece despertar em mim, é como se aquele sensação corresse por cada célula do meu corpo. Eu não sabia dizer o que era, mas parecia atrativo demais para estar preso.
Meus dedos rapidamente se prendem em seu fecho dourado, girando a trava com um único estalar. Eu sinto minhas mãos se esquentarem, e tudo parece se tornar mais forte, ainda era tempo de fechar e voltar a mesa. Mas algo me puxava, como um encanto eu estava presa aquilo e não conseguia voltar. Não me havia outra escolha, se a encontramos então o universo queria que nós a encontrasse.
Os segundos se dão como se eu estivesse sozinha, e quando minha mão faz um único movimento, outra a segura.
— Acho que deveríamos parar... - ela me olha apreensiva.
— Não me diga que está como medo? - sorrio lateralmente, e seu sorriso consegue ser mais sarcástico que o meu.
— Não sou eu que corro da minha própria sombra...
— Talvez agora seja a hora de inciar um novo ciclo! - afasto sua mão.
— Não seja imatura! Você sempre foge do que sente, e sabe disso! - os sentimentos se afloram quando toca em minha sina.
— Mesmo assim, eu sou o suficiente para dar a cara ao que faço, eu não me escondo na escuridão esperando o momento certo de atacar.
Pela primeira vez, estávamos evidenciando cada um de nossos problemas. Minha mão que ainda tocava a caixa, parecia queimar a cada segundo. As nossas colocações estavam se tornando pessoais.
— Não quer ficar eternamente presa a uma única ação, não é? - ela conseguia ser passional, mesmo com tudo.
— Seja lá o que for, eu posso pagar por isso. - toco seu ombro a afastando. — Não tente fazer do seu desejo as minhas ações!
Sem a mínima paciência em esperar qualquer reação, eu me viro, puxando aquela trava e abrindo a tampa com um leve movimento. Ouço sua última repreensão, mas já era tarde demais.
A luz dourada se dissipa, atravessando todo o cômodo e indo além das paredes e se tornando cinza. Então coisas que nunca senti parecem me cercar, cada uma delas como se estivessem prestes a me apunhalar. Eu sentia a pressão em minha cabeça e o ar sair de meus pulmões.
Meus olhos enxergam além do ambiente, cenas nunca vistas ou imaginadas, histórias nunca contadas, fatos que nunca existiam.
Armas. Guerras. Mortes. Injustiças.
Um mundo ao qual era claro, se transformava em escuro. E tudo parecia correr em proporções avassaladores, sugando cada essência das virtudes. Meu corpo se projeta para frente, meus braços se esticam para fechar a caixa. Mas é tudo em vão, quanto eu mais tentava me aproximar, mais eu me afastava.
Eu lutava contra o que não era visto, mas sentido, naquele momento era a batalha de uma pessoa só. Sentia meu corpo se cansar a cada tentiva, mas não podia deixar que tudo saísse daquela caixa.
Quando sinto meus pulmões clamarem por ar, meus pés queimarem feito brasa e minha cabeça pulsar, tento unir as poucas forças que me restavam, sendo mais forte que tudo o que havia ali. Meus passos se firmam, e finalmente eu chego a caixa de beleza ilusória, com as duas mãos eu forço para que feche e então toda a luz se encerra.
Meu corpo implorava por ar, e meus pulmões trabalhavam em busca. Meus olhos se fecham, e minha cabeça se abaixa, sinto o suor escorrer por minha testa. Aos poucos eu me restabelecia.
Assim que retomo minha visão, o cenário era catastrófico como um verdadeiro pós guerra. Flocos brancos se espalhavam por toda a sala, frios como a neve. O grande lustre que era a atração aos olhos de todos que ali entravam, estava caído sobre a mesa. As taças espalhadas, e toda aquela essência que nos equilibrava escorria ao chão. Não permiti que déssemos ao menos um último brinde.
As sombras não estavam mais ali, éramos apenas nove. E logo mais, apenas eu.
Seguro firmemente a caixa, abraçando contra meu peito e sentido o peso do mundo cair em minhas costas. Assim eu cedo, caindo sobre meus joelhos e apertando meus olhos. Eu estava me afundando em um rio denso de desespero, me perdendo em quem eu era, deixando de registrar minha existência para mim mesma. Depois da completa certeza de estar sozinha, eu sinto o toque em meu ombro e a conhecida voz me puxar.
— Abra seus olhos...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pandora | Kim Hongjoong
FanfictionO que parecia ser um simples sonho, era apenas a memória do passado, das vidas ao qual vivera e se esquecera. Após o presente dos deuses falhar no primeiro plano, ele chega até as mãos do destino, fazendo com que nove pessoas estejam fadadas à uma...