Capítulo 1- Como nos (re)conhecemos

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Triiiiim! Triiiiim!

Ao Acordar, logo percebi que eu estava extremamente atrasada para a minha primeira aula do dia. Para começar, eu sou uma professora de Geografia de uma cidade do interior, chamada Araçuaí, na qual possui mais ou menos 60.000 habitantes, escolhi morar nesse lugar tão bonito por ser muito arborizado, confortável, limpo e por possuir pessoas extremamente gentis. A minha casa não é grande, mas dispõe de um jardim cheio de plantas e flores diversas e uma decoração que é bem rústica. 

Já logo devo dizer que eu costumo ser bem mais organizada com os meus horários, porém faz um tempo que eu não me sinto bem, mas não estou com muito tempo para me dar ao luxo de consultar um médico. Olho no espelho e percebo que estou péssima, meu cabelo cacheado precisa de ser lavado, a minha pele morena precisa de creme e reparo que estou um pouco magra. Levanto-me depressa, passo pelo meu quarto, vou ao banheiro e entro no banho. Imediatamente compreendo que há algo de errado comigo, talvez seja a minha pressão? 

- Oh, não! – vejo que ao meu redor tudo ficou escuro e caio no chão.

Novamente acordo, porém dessa vez no hospital com a minha amiga Letícia desesperada ao meu lado.

- Gabriela, está tudo bem? - Diz Letícia

Ao voltar aos meus sentidos percebo que a minha cabeça dói muito, mas digo que sim com a cabeça afirmando que estou bem.

- Posso examiná-la? – Ouço o barulho de uma voz masculina atrás de mim.

- Sim, Hugo! 

Vejo que a minha amiga o conhece e vejo que eu o conheço também!

- Posso falar com ela a sós?

- Ah, claro! Eu preciso voltar ao meu trabalho urgentemente. Gabizinha, te ligo depois, ok? 

Eu aceno que sim e mando um singelo beijo para ela. Volto à minha realidade e enquanto ficávamos a sós eu me lembrei do quanto eu o odeio, tenho ódio dele até ao ouvir a sua respiração. Eu tinha que vir logo a este hospital? Ah, claro! Ele é o único da minha cidade!

- Você está com anemia, tem se alimentado direito? – Ele fala com a voz suave, mas com um tom receoso.

- Pelo visto não, já que estou infelizmente ao seu lado nesse momento. - Digo eu, brava

Ele me olhou com seriedade e eu comecei a lembrar-me que eu estava pelada dentro da minha casa e fiquei vermelha com a possibilidade dele ter visto algo. E ele percebeu isso.

- Em relação a sua roupa, não se preocupe, eu não vi nada, a enfermeira já havia colocado a sua camisola e, além disso, eu estou acostumado a ver corpos. – Eu não disse nada.

- Você irá ficar em observação essa noite e amanhã te receitarei umas vitaminas e os remédios necessários, recomendo também que você vá a uma nutricionista.

- Ok, Hugo! Muito obrigada. – Disse eu, ironicamente.

No momento em que ele saiu da sala, a minha amiga enfermeira entrou e me perguntou o que estava acontecendo já que eu sempre fui tão cuidadosa quanto aos cuidados com o meu corpo. Eu não sou uma pessoa muito aberta para falar dos meus problemas, entretanto, não conseguia mais guardar tantas coisas dentro de mim e acabei falando:

- Ah, Karol! Estou afundada em dívidas, eu trabalho tanto dando aulas particulares, lecionando na sala de aula e escrevendo livros que eu não tenho mais tempo para mim. Além disso, sabemos que o salário do educador no Brasil é baixíssimo.

- Gabi, por que não me disse? – Ela disse preocupada.

- Você sabe que eu não gosto de preocupar ninguém, me desculpe! No entanto, eu posso perder a minha casa se eu não pagar as últimas parcelas e eu dei muito duro para consegui-la, você sabe...

- Eu sei, daremos um jeito juntas, tudo bem? – Ela diz me dando um aperto no ombro para me consolar.

Escuto um barulho de algo caindo atrás de nós.

- Ah, Dr. Hugo, deseja algo?

- Não, Karolina. Apenas estou aqui para verificar se ela está bem.

- Ela está ótima...

- A senhorita poderia verificar os outros pacientes?

- Ah, claro, fiquei tempo demais por aqui. Gabi, depois eu volto para conversarmos mais, ok? – Aceno que sim e ela saí da sala.

- Eu ouvi a sua conversa com a Karolina...

- Agora você ouve atrás da porta?

- Eu sei que você me odeia e tem as suas razões para isso. Mas também sei que você está passando por problemas financeiros...

- E...? Não me diga que tem um emprego para mim? Bom, eu não aceito...

- Se você me deixar falar, você saberá! – Disse ele, com um tom irônico.

- Então fale!

- Desse modo, sem rodeios, você só precisa se passar por minha noiva por um tempo...

- Sua noiva? – Dou umas risadas – Você só pode estar brincando, no entanto, estamos um pouco velhos pra isso não é mesmo? Tudo bem que você implicou comigo durante dias da minha adolescência e falava coisas horríveis para mim todos os dias da minha escola, mas agora isso? Não estou maluca para aceitar uma loucura como essa!

- Você que sabe... Mas lembre-se de que você terá que voltar para as asinhas da sua mãe, mesmo depois de ter trabalhado tanto para não fazer isso!

Eu parei para pensar um pouco enquanto ele me olhava de forma avaliativa. Recordei-me que a minha relação com a minha mãe era péssima e que eu não queria dar um motivo para ter que voltar a morar em Belo Horizonte, ou pior, ter que sair da minha casa faltando tão pouco para finalizar o pagamento.

Enquanto isso, eu finalmente comecei a olhar direito em sua direção e percebi o quanto ele ficou bonito com o tempo. Seus olhos são azuis como o mar, seu corpo aparenta ser suficientemente forte, sua pele morena é incrivelmente bem cuidada. Entretanto, eu precisava voltar aos meus sentidos e então perguntei:

- Como você sabe que eu voltaria para as asas da minha mãe dessa forma? – Ele pareceu um pouco desnorteado com a pergunta. Mas então respondeu:

- Bom, eu deduzi. O que você acha desse acordo?

- Eu aceito! – Disse eu, de forma totalmente e absurdamente impulsiva -. Mas com algumas condições, você não pode me tocar a não ser que seja extremamente necessário. E eu vou apenas fingir por um tempo ser a sua noiva... não vamos nos casar de jeito nenhum, anotado?

- E você acha mesmo que eu quero te tocar? Preciso de um mínimo de toques possíveis e somente quando estivermos perto da minha família e amigos. – Disse ele rindo.

Nesse momento eu estava com tanta raiva que eu quis tocá-lo, porém com um soco bem no meio do seu nariz.

- Irei fazer um contrato sobre isso e irei conversar com você em sua casa assim que você sair do hospital para avaliarmos todas as regras. Agora eu devo ir atender outros pacientes. Já passei muito tempo com você.

- Espere um minuto, como sabe o meu endereço? – Ele não disse nada, apenas saiu da sala.

Ok, essa foi uma situação estranha e embaraçosa. Mas há outra saída?

Um Acordo ConvenienteOnde histórias criam vida. Descubra agora