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"Todos os seres derivam
de outros seres mais
antigos por transformações
sucessivas."

Anaximandro de Mileto

Havia se passado quase uma semana desde que minha vó morreu, e algumas coisas estranhas aconteceram nesse pequeno tempo. Eu tenho sonhado com libélulas, pessoas falando " SALVE A GUARDIÃ! ", meus desenhos são apenas de libélulas, bruxaria, eu só posso estar enlouquecendo.

Consultamos o médico um dia após a morte de minha avó e ele disse que eu não precisaria tomar mais o chá, o que achei estranho, mas mesmo assim aceitei, o chá era horrível mesmo.

Cheguei da escola e como de costume, minha mãe não estava em casa, ele era arquiteta, estava sempre em alguma obra resolvendo as coisas.

Subo para meu quarto, entro e jogo a mochila na cama, entro no banheiro e percebo que tem algo de estranho, volto para meu quarto e do um pulo de susto

- AH MEU DEUS, QUEM É VOCÊ? - pego um pincel de maquiagem na minha penteadeira e aponto para aquela pessoa.
- O que você vai fazer de mal com um pincel de maquiagem? Errar o tom da base? - o garoto sentado na minha cama fala rindo. - Bem, não vim te fazer mal. Sou Carlos, um skinwalkers. - sorri.
- Impossível, skinwalkers são seres sobrenaturais que não existem, na verdade, seres sobrenaturais não existem. Você é um maluco que fugiu do manicômio.

O vejo se levantar e se transformar em um leão, depois em um pássaro, e então volta para a forma humana. Sento com tudo na cadeira que estava ao meu lado.

- Eu realmente enlouqueci, ah meu Deus.
- Você não enlouqueceu, sua memória foi apagada! Eu sou o guardião dez, e vim aqui com a missão de te contar sobre o seu mundo, não o que você vive, mas o que você nasceu.
- Olha, eu só posso estar delirando, você não existe. Eu vou fechar os olhos e quando eu abrir novamente, você não vai estar aqui.

Fechei os olhos e esperei uns dois segundos, abri novamente e Carlos me olhava com os braços cruzados.

- Eu posso começar a falar ou a donzela não acabou o drama? - levanta uma sobrancelha e o olhei feio. - Ok, vou aceitar isso como um sim. Vamos lá, - sentou na cama de frente pra mim. -
a muitos séculos, os seres sobrenaturais viviam entre os humanos mas houve uma grande guerra entre humanos e sobrenaturais, então, bruxos e feiticeiros se reuniram e fizeram submundos, existem dez submundos, cada um tem um guardião, e existe a Guardiã Onze, que lidera todos os outros submundos.
A guardiã onze é liderada por uma família de bruxas, a neta de cada guardiã onze, será a próxima guardiã após a avó morrer.
E você é a escolhida, a próxima Onze, mas sua mãe não quer isso pra você, tanto que fez você esquecer tudo que sabe, tudo que aprendeu até seus cinco anos, ser Guardiã Onze é um lugar muito disputado e perigoso. Muitos dos outros guardiões querem esse lugar, por ser o mais importante, outros seres também.
- Você realmente saiu de um manicômio! - ri - como consegue provar que o que disse é verdade?
- Mexa no escritório da sua mãe! Lá tem todos os livros, as coisas de bruxa, tudo!
- Você é um doido, isso sim! Eu vou ligar pra polícia e dizer que um maluco entrou na minha casa. - Levanto e pego o celular.
- Mexa na parte proibida. Você sabe que é verdade o que eu disse, só está com medo de enfrentar o que te espera. - se transforma em pássaro e sai voando pela janela.

Suspiro e pego um casaco, mando uma mensagem para Pedro me encontrar no lugar de sempre e saiu da minha casa.

Vou até a escola, pulo o muro e caminho até a parte dos fundos, entro em uma casinha branca e me sento no chão, olhando para o teto de vidro, hoje o céu está estrelado.

Várias coisas começam a passar na minha cabeça, e se o que aquele cara falou é real? Ou, será que eu tô começando a ficar maluca? A segunda alternativa me parece a mais certa nesse caso.

Ouço a porta se abrir e alguém sentar do meu lado.

- Oi baixinha, o que aconteceu?
- Pedro eu acho que eu enlouqueci de vez - o olhei. - Você não sabe o que aconteceu comigo logo depois que cheguei em casa.
- O que aconteceu? Ah meu Deus, tá tudo bem? - pergunta preocupado.
- Calma! Assim, uma espécie de skinwalkers tava no meu quarto, veio com papo de eu ser uma guardiã onze, disse que era pra mim olhar no lugar proibido do escritório da minha mãe que comprovaria que ele estava falando a verdade - ri e o olhei, vi ele travar o maxilar e olhar para os lados. Ele fazia isso sempre que estava escondendo algo. - Pedro Johnson Wilson, o que você está me escondendo?
- Nada Ana... é, o que mais ele disse?
- Eu sei que está escondendo algo, fala logo!
- Ok, você me conhece...
- Sabia! Fala de uma vez, Pedro.
- Faça o que ele disse - me olha - mexa no baú do escritório da sua mãe.
- Tá maluco? Minha mãe não deixa eu chegar perto daquele... o lugar proibido... como você sabe disso?
- Eu... eu tenho que ir, fica bem! - beija o topo da minha cabeça e sai correndo, levanto e saiu atrás dele, mas nada, ele tinha sumido muito rápido.

Ao entrar em casa, sinto um cheiro de lasanha, vou atéa cozinha e vejo minha mãe arrumando a mesa.

- Oi filha - sorri - saiu pra caminhar foi?
- Sim, tava precisando esfriar a cabeça..
- Saudade dela né? Eu também estou, ela faz muita falta - suspira triste.
- Isso também, mas anda acontecendo muitas coisas ultimamente - sento na mesa e ela me serve.
- Como assim? - senta e serve o prato dela, me olha
- Ah.. an, a escola sabe, último ano, está muito puxado.
- Se precisar se ajuda, sou ótima em exatas - sorri.
- Claro - sorri de canto e comi minha lasanha em silêncio.

Depois do jantar, minha mãe foi olhar um filme e eu resolvi tomar um banho, me deitei na cama e peguei meu caderno de desenho, comecei a desenhar algo aleatoriamente.

Quando terminei o desenho, o olhei e arqueei uma sobrancelha. Desenhei um livro, com uma libélula na capa, algumas folhas também. O estranho era que tinha a sensação de já ter visto esse livro antes, fechei o caderno e levantei, sai do quarto e desci até a cozinha.

Minha mãe não estava mais na sala, peguei um copo d'água e tomei metade. Quando me virei para ir em direção a escada, olho para o lado, a porta do escritório da minha mãe. Será que deveria?

Suspiro, não posso desobedecer ela por conta de uma loucura repentina. Vou até as escadas e começo a subir, o colar brilha novamente. Desde o dia em que minha avó morreu, ele não brilhou mais.

atrás da verdade, ou isso irá te enlouquecer de verdade.

Aquela voz falou de novo e a luz se apagou, suspiro novamente e desci as escadas, me aproximo do escritório.

Querem outro capítulo hoje? kkkkk

Skinwalker
Os skinwalkers , no folclore dos nativos americanos, são pessoas que possuem o poder de assumir a forma de diferentes animais.

Guardiã dos Submundos Onde histórias criam vida. Descubra agora