8 - Verdades ainda encobertas

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Se tem uma coisa que eu não gosto são corredores longos, eles parecem que vão se fechar sobre mim a qualquer momento, ainda mais quando eles não têm nem uma luz natural. Alessandra está andando em minha frente e Giovanna vem logo atrás de mim. Meu corpo está tenso, meu coração ainda não acelerou, mas sinto que isso pode acontecer em qualquer momento.

Chegamos no final do corredor do terceiro andar, não tinha reparado que havia esse andar, pois a escada não é tão majestosa quanto a que leva para o segundo andar. Alessandra abre uma porta dupla e entramos em uma grande sala, de frente com a porta uma mesa de madeira e logo atrás dela está Giacomo com o que parece um cigarro, mas esse tem uma cor marrom e é maior que um cigarro.

Do lado direito tem uma mesa de tamanho médio com 8 cadeiras, na frente da mesa de Giacomo se encontram 3 cadeiras de estofado preto, ao virar para o lado esquerdo noto a Presença de Piero em pé perto de uma janela, esse sim está com um cigarro em seus lábios, nossos olhos se encontram por uma fração de segundos, sem nem uma expressão, vazios.

— Antonella, sente-se aqui — Giacomo fala apontando para a primeira cadeira da direita para esquerda, me sento como o indicado.

Sinto um peso dentro da sala, um clima estranho.

— Bem, essa reunião vai ser difícil de fazer — Giacomo começa a falar, se acomoda melhor em sua grande cadeira de couro preto e assim posso ver como ele está desconfortável — Antonella quero contar algumas coisas do seu passado — Ele aponta para mim — Só peço que escute.

É aí que meu coração começa dar sinais que vai acelerar, respire e inspire. Apenas confirmo com a cabeça, Giacomo faz alguns segundos de pausa e começa.

— Bem, como você já sabe eu e Alessandra somos seus padrinhos — Ele olha para sua mulher — Seus pais, principalmente seu pai foi um grande amigo meu quando eu era mais jovem, ele era meu confidente, até me ajudou no primeiro encontro com Alessandra — Ele sorri com a lembrança — Eu não sei exatamente como contar tudo para você de uma maneira delicada, mas vou começar com o que é mais fácil.

Ele traga seu grande cigarro marrom e solta a fumaça, parece realmente incomodado com aquela situação toda.

— Muitos anos atrás, meu avô Gioachino Marchetti começou com um negócio sigiloso de bebidas, ele mandava licor e vinhos para os Estados Unidos, na época da Lei Seca. Os negócios começaram a evoluir e partiu para os jogos de azar e as apostas e continuou a evoluir indo para o tráfico de drogas e esse é o começo da história da nossa família.

Ele faz uma pequena pausa para ver se estou prestando atenção, é uma informação bem interessante para se absorver nesse momento. Ele continua.

Os negócios eram muito lucrativos na época, porém ele tinha muito dinheiro e já tinha uma pequena gangue que o ajudava nos negócios, com isso meu avô comprou um hotel para fazer lavagem do dinheiro, se tornou influente, poderoso e já mandava sumir com algumas pessoas que queriam atrapalhar seus planos — Ele fala não entrando em mais detalhes e dá uma tragada profunda — Enfim, os negócios deram tão certos que continuamos até hoje, o hotel tem um casino secreto, que nos ajuda muito, mas o que lava grande parte desse dinheiro são as hospedagens com pessoas comuns e de quem busca nossa proteção. Eu comando tudo, sou o Dom da Lampeggiatore, nosso trabalho é a máfia. — Ele termina de falar e fica me olhando esperando alguma reação da minha parte.

Permaneço em silêncio tentando processar isso tudo, ainda estou pelo domínio das taças de vinho o que me impede de pensar mais rápido. Mesmo eu tendo passado tantos anos dentro de uma clínica psiquiátrica toda Itália conhece sobre as máfias e o que eles são capazes. Algumas vezes eu ouvia alguma história que as enfermeiras contavam sobre esses grupos e as coisas que eles fazem, mas nunca pensei que estaria de frente com um mafioso, ou pelo que entendi bem uma família de mafiosos.

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