Capítulo 16

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HampellVille - julho de 2018.

Quebrada.

Quebrada em um bilhão de pedaços. É assim que eu me sinto.

Peter presumia o que ia acontecer, ele esperava que acontecesse, ele queria isso.

Releio a carta pela segunda vez e eu escuto meu coração quebrar,pela segunda vez.

A tristeza é tão grande que chegava a doer fisicamente. Porra.

Já sentiu seu coração pesar, suas mãos suarem, sua garganta doer e seus olhos embarçarem? Isso é sinal de que você está segurando o choro e ansiosa, não? Estou exatamente assim, no meio da praça.

Sinto raiva, tristeza, culpa, todos os sentimentos ao mesmo tempo.

Eu não consigo acreditar que ele queria isso - indiretamente, mas queria. Não, me recuso.

Peter sempre foi tão alegre e resolveu se entregar. Ele já não aceitava, não aguentava mais.

Ele morreu lutando, e eu o admiro por isso, me orgulho tanto. Mas ainda sim, dói. Dói muito.

Seco as lágrimas com a costa da mão e soluço.

- Porra, Peter. - Sussurrei e soltei uma lufada de ar.

- Oi, docinho. Eu vi a sua mensagem sobre a carta e... - Escutei a voz grossa do Davies, que parou de falar assim que me viu chorando. No meio da praça.

Eu mandei a seguinte para ele antes de ler a carta: me encontre na praça, encontrei um carta de Peter em cima da cama.
Ele me disse que estava a caminho e que eu devia esperá-lo aqui para lermos a carta juntos, mas fiquei tão ansiosa que a li sozinha e agora estou completamente sem chão.

Ele sentou ao meu lado no banco e me abraçou, com as sobrancelhas franzindas, sem entender o porquê do meu choro descontrolado.

- Ssssh, está tudo bem. - Ele afagou minhas costas. O abracei apertado, com todas as minhas forças. - Não chora, Med. Por favor, eu não sei lidar com pessoas chorando. - Soltei uma risadinha pela voz de desespero dele.

Me afastei dele e dei um sorrisinho de agradecimento.
Vi o castanho dos olhos deles se tornarem um fino círculo, o preto dominando toda a orbe dos olhos de Davies.
Ele me deu um pequeno sorrisinho, mas verdadeiro, que fez meu coração errar uma batida.

E infelizmente, eu sabia o que aquilo significava.

O observei, sentado despojadamente no banco, com a habitual jaqueta de couro, camisa escura sem estampa, jeans escuros e coturnos masculinos. Desde que o conheci, sabia que aquela era a marca registrada de Davies. Bem bad boy clichê de filmes, especificamente romances.

O encarei profundamente. São por volta das seis da tarde e o sol já está se pondo. Os últimos raios solares batem na pele pálida dele, o deixando ainda mais atraente, como se desse um contraste em Davies.
Os olhos castanhos dele me observam com tanta intensidade que é necessário desviar o olhar, então encaro uma árvore qualquer.

Balanço a perna num ritmo frenético, claramente nervosa.
Todo esse negócio da carta abriu ainda mais a ferida em meu coração e a cotucou com o indicador, mais especificamente, com a unha pontuda, pra machucar ainda mais.

Suspirei fundo e pedi:

- Você pode me levar pra casa, por favor? Preciso escrever uma carta. - Ele me olhou com as sobrancelhas juntas, sem entender nada. Suspirei outra vez e continuei: - Doutor Willians recomendou que eu escrevesse uma carta de despedida para Peter, dizendo tudo que eu sinto e tudo mais. Talvez ajude. - Dei de ombros, como se não fosse importante e ele concordou.

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