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Mia:

— Eu odeio este lugar — resmunguei baixinho para que meu pai, que estava no banheiro, não me ouvisse. — E a cada segundo que se passa, parece que meu ódio só aumenta...

— Não seja tão dramática, amiga. Lembre-se do motivo que a fez se mudar para a Inglaterra — Penny, minha melhor amiga, aconselhou-me.

Suspirei pesadamente.

— É, você está certa. Nada é mais importante do que o meu pai.

— E como ele está?

— Aparentemente bem. Sabe como ele é... Nunca diz o que realmente está sentindo o que dificulta um pouco.

— Espero que ele fique bem.

— Eu também.

— Bem, foi muito bom conversar com você e ficar quase uma hora te ouvindo falar mal da Inglaterra — ela riu do outro lado da linha. — Mas agora eu tenho que ir. Ainda estou com sono. E você vai se atrasar.

— Tudo bem. Até mais, amiga.

— Beijos!

E desligou.

Levantei da cadeira e peguei uma maçã, mordendo-a. Meu pai surgiu na cozinha com um sorriso enorme embora seu semblante denunciasse o quanto estava abatido.

Mesmo doente, meu pai ainda exibia um sorriso animado, os olhos azuis sempre brilhantes. Estava mais magro do que antes e os dedos pareciam mais ossudos. Os cabelos castanhos claros não existiam mais. Haviam sido raspados desde que iniciara a quimioterapia. Mas, mesmo assim, aos meus olhos, meu pai ainda era o cara mais lindo que existia de todo o planeta.

— Animada para o seu último primeiro dia de aula? — perguntou ao me enlaçar em um abraço gostoso.

— Estou, sim. Mesmo que não seja nada demais.

— Como assim? Você está no último ano do High School!

— E continua não sendo nada demais... — sorri para ele ao me afastar de seu abraço.

— Você deveria ser mais alegre. Sabe, nem parece com a menina que conheço. Está meio ranzinza, tristonha pelos cantos...

— É só estresse de volta as aulas.

— Também não era um entusiasta dos estudos. Mas minhas notas sempre foram excelentes.

Revirei os olhos.

— Nesse quesito você não tem o que reclamar de mim. Sempre fui uma aluna exemplar, elogiada.

— Sei disso, querido. E tenho muito orgulho — abraçou-me mais uma vez e beijou o topo da minha cabeça. — Estou tentando me preparar para o dia em que você não estará mais aqui.

— O que quer dizer com isso? — indaguei confusa.

— Essa cidadezinha, embora eu ame, é muito pequena para você, para os seus sonhos. Não nutro esperanças de que permaneça aqui após findar os estudos. Sei que é ambiciosa, que tem objetivos e...

— Não irei embora, pai. Ficarei aqui com você — repliquei sem titubear.

— Filha, não quero ser um empecilho em sua vida. Quero que realize seus sonhos, cumpra suas metas.

— Meu desejo é morar aqui, com você.

— Não ficarei magoado quando partir. Você merece mais do que essa cidade tem a oferecer.

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⏰ Última atualização: Mar 03, 2022 ⏰

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Você é o meu AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora