Capítulo V - Brisas

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Meu corpo dolorido pesava sob o colchão macio do qual minha pessoa descansava. A sensação de não estar sozinho no comodo alertava meus pensamentos que ainda se lembravam vagamente dos acontecidos.

— Priya, o que está fazendo aqui? — Reconheci a voz grave e rouca que sussurrava.

— Você sabe o motivo. — Relembrei-me da mulher que havia conhecido mais cedo. Meus olhos pesavam me impedindo de abri-los. — Francis me requisitou ao seu lado. — Então essa era a convidada anônima.

— Dês de quando bruxas fazem alianças com humanos? — A voz ríspida de Castiel soava pelo cômodo. Senti a cama macia e o edredom acetinado sob meu corpo.

— Dês de que eles querem a mesma coisa que eu, recomeçar o reino de Amorís. — Disparou como se fosse algo incrivelmente óbvio. — Mas você não está em posição de dizer nada, aliás, está se apaixonando por um. — Meu coração disparou, mas eu não poderia me prender a uma ideia especulada.

— Não seja tão ridícula, Priya. — Proclamou. — Acha mesmo que ele sequer dará algum lugar para feiticeiros na corte deles? — Sua voz emanava o escárnio, por um instante, me senti menosprezado por ser um humano, mas não teria como tirar sua razão, estávamos dizimando sua gente.

— E você, acha que pode protege-lo? Têm sorte de ter sido apenas eu quem viu aquela linda cena do seu coração de gelo derretendo na estufa, claro, além daquele guarda nojento. — Priya comentou, sua voz parecia querer reprimir um sorriso dissimulado. — Castiel, sabe que é muito mais seguro para o príncipe se você for embora. — Alertou. — Não pretendo machuca-lo, o que realmente me importa é conseguir a confiança total de Francis, aquele imbecil quer o amor da rainha para se tornar rei, é tão óbvio, apenas quero informações.

O que a feiticeira havia citado não era e nunca foi totalmente um mistério para mim, Francis em sua tentativa de seduzir a rainha, tomando o lugar do próprio irmão por interesses políticos exacerbados e repugnantes.

— E eu fiz bem em apagar a memória do guarda sobre ontem a noite, se eu não chegasse você o teria matado. — Expressou espantada. — Qual era o nome dele mesmo? — Procurou em sua mente. — Owen, sim! Ele vai ser executado na manhã de hoje. — Um estranho sentimento apossou-se do meu corpo, eu sabia que a punição para crimes contra a coroa seria a forca.

— Apenas não conte para Rosalya, ela iria surtar. — Pediu Castiel, seus pensamentos pareciam estar longe daqui.

— Bem, ela já sabe. . . — Riu incomodada, sabendo que havia feito algo que não deveria, seguidamente ouvi o ruivo suspirar pesadamente. — Ela merece saber por onde o irmão anda, fazem meses que você não volta para casa, você ainda é parte daquela família. — Disse ainda tentando dissipar a tensão que causou.

— Não tenho o sangue deles, sabe disso. — Proclamou, e dessa vez foi a deixa para Priya suspirar.

— Mas o pai deles confiou tudo a você, não fuja das suas obrigações. — Ouvi um estalar da língua de Castiel já saturado da conversa. — Faça o que têm que fazer, ainda preciso descobrir algumas coisas que acontecem por aqui. — A mulher se distanciou e enfim ouvi o som da porta ser fechada. O silencio pairou por um momento até os sonidos dos sapatos da mulher não serem mais ouvidos.

— Por quanto tempo ainda pretende fingir que está dormindo, alteza? — Meu corpo se enrijeceu, se ele sabia que eu estava acordado esse tempo todo, por qual motivo se absteve de alertar a feiticeira?

Descerrei meus olhos observando a figura assentada no colchão de minha cama, estávamos no meu quarto, o que me deixou ainda mais inquieto do que eu estava enquanto ouvia na surdina a conversa dos feiticeiros. Por mais que ainda desacreditava que o castelo — o lugar de mais aversão as praticas ocultas — estivesse aguaritando pessoas como Castiel, eu me sentia estranhamente seguro sabendo desse fato do que com as próprias pessoas que me rodeavam.

— Como está se sentindo? — Perguntou Castiel, o tom baixo de sua voz incrivelmente atraente fortalecia os sentimentos que eu negava a todo custo. Levantei para me assentar quando senti a dor se amplificar nos músculos de minhas costas.

— Droga. . . — Praguejei, as mãos do ruivo em meus ombros impediam-me de fazer movimentos bruscos, me ajudando a sentar.

— Você é idiota? Foi um baque e tanto que você levou, não fique se mexendo demais. — Alertou, apesar de soar rude, ainda pude sentir a gentileza e a preocupação que emitia, mas eu não conseguia olhá-lo nos olhos.

— Castiel. . . Por que me ajudou? — Disparei a pergunta sem me importar muito com minhas condições. — E. . . Foi você que me enfeitiçou para voltar para o castelo ontem a noite?

— Foi preciso. — Disse frio. — Mas parece que as circunstâncias apenas te deram mais certezas.

— Nunca mais faça isso! — Eu estava com raiva, eu entendo os motivos da situação ser complicada, mas eu realmente não queria esquecer. Quando tomei coragem para fita-lo, seus olhos vidrados em mim pareciam emitir certa eletricidade, eram ferozes e sérios.

— Você não entende. . . — Pronunciou-se se levantando da cama e caminhando até a janela. — Eu perdi o controle e isso pode ser perigoso para você, pare de ser mimado. 

Com um impulso repentino levantei-me de cama indo de encontro ao mais alto que franzia o cenho, eu tinha total noção da dor que com suas fisgadas repentinas me impedia de esquece-la.

— Você é tão teimoso. — Disse incrédulo examinando meu estado e suspirando novamente. Os olhos prateados centralizados em meu rosto que denunciava o incomodo pela aflição que sentia.

— E você é exageradamente misterioso. — Retruquei e pude ver o canto de seus lábios levantarem rapidamente em um riso dissimulado, me pareceu estranhamente sensual. — Você salvou minha vida.

— Então minha divida está paga, príncipe, não deixei você morrer e você não deixou me queimarem vivo. — Novamente seus olhos se desviaram para a paisagem das vilas ao longe do castelo.

— O que significou aquilo? — Quando senti o olhar intenso virar-se para mim novamente, soube que o bruxo sabia sobre o assunto que incomodava meus pensamentos.

— Foi para você calar a boca. — Levantou uma sobrancelha, sorrindo de modo maroto, ele era tão irritante! — Mas também um selo de proteção. . . — Um pensamento totalmente inapropriado rondou minha mente, eu realmente não estava me reconhecendo. Talvez minha careta tenha me denunciado de algum modo, pois ele parecia estar prestes a rir. — Eu não dou muitos selos de proteção por aí. — Meu rosto pareceu queimar no mesmo momento em que o mesmo se explicou. — Podemos dizer que foi algo de extrema urgência e também pelo calor do momento.

Um alivio desconcertante emergiu em meu corpo, eu estava perdendo o controle e sentia que teria de colocar meus pensamentos em ordem. O peso do que iria acontecer de manhã, o dissimulado do tio que eu obtinha das quais suas tentativas de se assentar sobre o trono estavam longe de cessarem, meus sentimentos sobre Castiel, tudo parecia se embaralhar em redemoinhos constantes em minha mente.

— Mas eu preciso ir. — Era uma despedida, mas o vinculo que eu havia criado por ele se estremecia. — Apenas mantenha seus pés dentro do castelo e ninguém irá machucá-lo. — Assegurou.

— Você vai simplesmente sumir? — Perguntei, Castiel estranhamente se tornou um pilar que distanciava a monotonia dos meus dias, era um enigma que me instigava e que agora, estava indo embora.

— Se cuide, Nathaniel. — As cortinas de seda se moviam pela brisa que que juntamente balançavam os fios vermelhos de Castiel, dos quais os olhos prateados reluziam em minha direção. Por um instante senti meu coração trincar, ele se tornou importante para mim e isso me assustava.

Os ventos vindos detrás das montanhas ao longe se tornaram mais intensos, quando fechei meus olhos pelas folhas das arvores que entravam em meu quarto, Castiel não se encontrava mais lá, deixando a incerteza de sua volta e a solidão de sua despedida.

A Magia da Atração (Amor Doce)Onde histórias criam vida. Descubra agora