Capítulo III - Flores

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Você reconhece a divergência entre segredos bem escondidos e expressões perfeitamente mascaradas quando seus dias se passam em um lugar como o meu, mas também diferencia a exposição de quem falhou em escondê-las, e essa foi a então situação em que Castiel se encontrava.

Depois de sua repentina saída após eu mencionar Rose, pensei que o servo de cabelos ruivos havia a conhecido, porém suas expressões mostravam a conhecer até mais que eu. O recente espanto em seus olhos prateados cambaleou meus pensamentos que antes levemente teimavam em pensar que Castiel escondia algo, os mesmo que agora se firmavam em encontrar certezas para diluir meus antigos pensares sobre ele.Eu havia aberto uma fissura em seu âmago.

Senti que esse rompimento foi transformado em algo abissal após sua garganta engolir aflita o nome de quem cuidara de mim boa parte de minha infância.

A pessoa que possuía aquela estranha tatuagem em seu pescoço — da qual me despertou tamanha curiosidade — de alguma forma se assemelhava a profundidade do oceano e, ao mesmo tempo ao calor do sol. Então diante daquela situação em que fiquei parado naquela noite quente do verão, vasculhando meus pensamentos por respostas das quais provavelmente nunca iria encontrar, logo me percebi quase cedendo a frustração de não ver o profundo e talvez espantoso todo que Castiel poderia mostrar de si mesmo, a não ser que eu teimasse por isso. Eu me sentia um completo idiota e convicto estranho por me interessar tanto em um servo.

— Algumas pessoas são plurais demais... — sibilei inaudível para mim mesmo.

Disperso voltei-me para dentro, encontrado pela minha mãe que me repreendeu por ter faltado as aulas do dia, mas para mim, tinha sido quase como mágica. Sorri apesar das circunstâncias, mas tudo acabou muito rápido quando mais notícias de caça se espalhavam pelo castelo. Meu peito angustiava.

Naquela noite eu não conseguia dormir, olhava pela janela de meu quarto abismado e pensante por onde as botas surradas de Castiel pisavam aquela hora — bem, se é que ele já não tinha adormecido — mas algo me dizia que procurasse abaixo das estrelas o seu paradeiro. Andei pelos vastos campos do terreno onde se encontrava o palácio e nenhum vestígio do estranho ruivo.

Havia algo que incomodava meu espírito. Inquieto e pensativo eu andava procurando por algo que de modo inconsciente me alarmava de que provavelmente não deveria. Eu me sentia insistente demais, talvez ele pense que sou um perseguidor. . . Cultivei minhas paranoias enquanto caminhava pelos arredores do castelo. Já pouco distante avistei uma estufa da qual não me recordava de vê-la por ali algum dia. Ao longe as vinhas que se apossaram da construção aparentemente antiga a almejaram sombria, porém tornava-se ilusória a imagem vista a medida que me aproximava daquele lugar, estar em uma situação indefinida não parecia exatamente o que eu esperava do local que em sua realidade era bonito de forma obscura e gentil.

Espreitei-me no vidro superficialmente empoeirado do lugar afastando algumas plantas secas que dificultavam minha visão. Para minha surpresa — e mascarada alegria — avistei Castiel no centro da estufa e suas mãos gentis sequencialmente tocando um terrário de vidro vazio. Eu me sentia um completo estúpido por estar espreitando de forma tão infantil ao invés de apenas o cumprimentar, porém, minha pertinente curiosidade seguia o raciocínio de vê-lo e sanar a dúvida sobre o quê ele estaria fazendo.

Era facilmente notável que o ruivo apenas organizava os terrários em estantes que pareciam estar naquele lugar há muito tempo. Fiquei ali, fascinado por seu cuidado até sentir uma brisa agora gélida eriçarem meus sentidos para o outono que parecia alertar-me de sua inconveniente chegada e me forçar inconscientemente a contestar a saída do verão.

Eu estava indo embora, o frio que teimava em me expulsar conseguia gradualmente seu objetivo — por um curto momento — até meus pensamentos se unirem para manifestar um mesmo sentimento de completo espanto por algo que jurei ter visto naquele espaço de tempo. Minha mente cética me fizera aproximar-me mais do vidro para ter certeza que aquilo que gradativamente se tornava mais estranho não era apenas minha insanidade que se aflorava sem meu conhecimento.

Minha mente agora elucidava o que antes estava confuso e enigmático, e foi assim que toda minha concentração tornou-se para os olhos prateados e distraídos de Castiel que lentamente iluminavam-se semelhantes à lua cheia em uma noite escura. Era assustador, porém, ao mesmo tempo deslumbrante.

A marca próxima ao seu pescoço se tornava algo como uma queimadura que se avermelhava ao redor da mesma. Era como se tudo o que estava se passando naquele lugar e sobre aquela pessoa também fosse relacionado a ela.

Minha recente concentração dissipou-se quando o ruivo erguia sua mão direta de modo aparentemente gentil, e algo da qual minha mente ingênua era incapaz de prever pela minha visão consideravelmente estreita pelas coisas que a cercavam aconteceu de forma inesperada e assustadoramente bela.

Os terrários dentro da estufa, as vinhas secas que cercaram o lugar se desenvolviam de repente. Cresciam flores distintas nunca vistas por meu olhar

A Magia da Atração (Amor Doce)Onde histórias criam vida. Descubra agora