Capítulo II - O murmúrio

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A minha história em longos pedaços nunca foi escrita por mim, meus ouvidos infantis se desenvolveram nos dizeres que princesas eram pessoas perfeitas e unicamente belas, e que quando viesse a tornar-me um 'verdadeiro' homem iria encontrar minha tão endeusada e desconhecida "prometida", mas como eu poderia amar alguém que nunca conheci? 

Ao longo de minha vida sair do castelo era algo impensável e desrespeitoso, se me fosse permitido tal honraria de afastar-me ainda teria de ser escoltado pelos guardas da corte até um certo limite, então passei minha infância naquele lugar onde o meu único divertimento era conversar com a antiga jardineira de cabelos vermelhos — a  mulher com o coração mais gracioso que vi em toda minha vida — que me ensinou sobre a vida e como era bonito porém perigoso o mundo fora das muralhas do castelo, e mesmo parecendo uma estranha vontade de minha parte depois de advertir-me, mais curiosidade eu edificava. 

Porém em uma manhã gelada quando eu completava meus onze anos de idade, Valéria, minha segunda mãe que adorava os lírios que floresciam ainda naquela época havia falecido de algo até hoje desconhecido. Enterrada sob uma árvore em uma pequena colina pelos servos do castelo ouvia-se as ondas do mar quebrando sobre a base de pedra que os olhos de modo limitado podiam ver, eu chorava ao longe. Naquele momento em diante eu me vi completamente perdido e sozinho.

Meus lábios se retorceram com a desavença da qual não conseguia omitir naquela manhã pelas memórias dolorosas e sobre meus deveres, meu corpo não estava preparado para o encontro com meu tio e minha mente ainda maravilhada pela noite passada constantemente se indagava pelos olhos misteriosos de Castiel e sua melancolia estranhamente aparente.

Ouvi o rangido da porta de meus aposentos, logo pensei ser uma serva pelo sonido da porcelana em uma bandeja de prata que fora colocada à mesa.

— Limão e gengibre... — balbuciei ao sentir o aroma do chá que se propagava no ar. 

— Bom dia, majestade — O tom pretensioso e a voz grave ainda assim melodiosa me fizera reconhece-lo. 

— Onde está a criada? — Perguntei esfregando os olhos, ainda não havia acordado totalmente. 

— Ela está de cama, então me enviaram para fazer seu serviço — explicou enquanto despejava o liquido quente em uma xícara de porcelana enfeitada com azul e dourado. 

— Ela está bem? — Recebi um olhar confuso de Castiel.

— Está sim, é estranho um nobre se importar. — voltou-se a preparar a mesa.

Espreguicei-me, por algum motivo eu me sentia envergonhado diante do plebeu que me observava de modo intenso e curioso, tossi falsamente para esconder o sentimento repentino do poder que aquele olhar possuía. Eu estava desconfortável. Comia de modo desastrado o que fizera o criado limpar algumas vezes e em todas elas ele teimava um riso quase imperceptível, o que fizera minhas bochechas queimarem. 

— Você parece gostar do show — disparei com os olhos fechados para dissipar a recente fúria.

— Não sei do que está falando, vossa majestade — Disse sério, mas com um tom petulante.

— Como castigo... — o observei de canto, seus braços cruzados e postura aristocrática esperando minha frase ser terminada era incomum, ele tinha algum poder, sua presença quando o mesmo queria que fosse notada era incrivelmente perceptível.  Continuei. — Quero que me leve novamente para fora — ele suspirou pesadamente.

— Você não aprendeu nada com o perigo nós corremos ontem? Príncipe — sibilou estarrecido. — Por quê não fica aqui e faz suas tarefas reais, comendo sua comida real, e essas coisas reais que vocês fazem? 

A Magia da Atração (Amor Doce)Onde histórias criam vida. Descubra agora