Capítulo 3

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Sonia, o que é isso? — perguntei a minha enfermeira favorita assim que ela entrou.

Eu estava segurando uma rosa de papel muito linda que estava na mesinha ao lado da minha maca naquela manhã.

— Você gostou? É sua. — ela sorriu.

— Sério? foi você que fez? É muito linda.

— Não, um garoto deixou aqui pra você.

— Que garoto? — perguntei olhando para ela.

— Não sei, ele não disse o nome. Deve ser um admirador secreto.

Comecei a sorri, era um gesto muito romântico do meu namorado. Eu achava que o Tony nem sequer sabia do meu acidente, e que provavelmente estava achando que eu tinha viajado e esquecido dele, principalmente porque minha mãe disse que a notícia do meu acidente não havia sido noticiada no jornal, mas ali estava a prova de que ele não só sabia como também se preocupava comigo.

— Pela sua cara você o conhece.

— Sim, é o meu namorado. — Sônia sorriu.

Minha mãe entrou no quarto nesse momento. E estava com uma aparência muito melhor.

— Sobre o que vocês estão conversando? — ela perguntou enquanto me dava um beijo na testa.

— Nada, eu estava apenas admirando a flor que o Tony deixou pra mim.

— O que? Esse garoto teve a coragem de aparecer aqui?! — ela perguntou com raiva.

Fiquei surpresa com a reação dela, não esperava uma atitude dessas.

— Calma mãe, por que você ficou assim?

— Como você quer que eu me acalme? Eu havia proibido as visitas dele! Quem foi que deixou ele entrar? — ela disse alterada enquanto encarava Sônia.

— Espera um pouco. Por que a senhora fez isso? Ele é o meu namorado!

— É um irresponsável, isso sim!

— Não fala assim dele.

— Eu falo como eu quiser!

— O que ele fez de mal pra senhora falar desse jeito?! — perguntei indigna com a atitude dela.

— O que ele fez? Ele te deixou desse jeito e depois fugiu. — ela cuspiu as palavras.

— O que quer dizer? — minha voz saiu trêmula.

— Foi ele que atingiu o seu carro Teresa, ele era o motorista bêbado! É por culpa dele que você está aqui.

Fiquei em choque, isso não podia ser verdade. A porta foi aberta.

— O que está acontecendo aqui Keith? Dá pra ouvir a gritaria do elevador! — meu pai perguntou assustado.

— Tony Miller esteve aqui! Foi isso que aconteceu.

Por um breve momento meu pai ficou sem palavras.

— Isso não pode ser verdade.

— Claro que é, nossa filha acabou de me dizer.

— Keith, Tony Miller está fora da cidade faz uma semana, ele viajou com a família, a Tessa deve ter se enganado.

— Por favor senhora Kennedy venha comigo, a senhora precisa se acalmar. — Sônia se pronunciou pela primeira vez.

— Eu quero ele longe da minha filha Marco! — ela gritou antes de sair do quarto.

Eu ainda estava em choque. Nada do que ela havia dito fazia sentido na minha cabeça.

Como assim o Tony era o responsável pelo meu acidente?

Eu não podia acreditar.

— Querida... eu

— Me fala que não é verdade. — sussurrei para o meu pai, ele me encarava com certo receio mas depois suspirou lentamente. 

— Eu sinto muito Tessa, mas é verdade, o carro dele foi encontrado abandonado no local.

— Não, isso não faz sentido. Ele nunca me machucaria, ele me ama. Deve ser um mal entendido, alguém deve ter roubado o carro dele.

— Teresa esse garoto nem sequer ligou pra saber como você estava depois do acidente. Ele apenas abandonou o local sem prestar nenhuma assistência, deixando o carro com marcas do sangue dele como prova. Se não fosse por um motociclista que passava por perto perto a ambulância nunca teria chegado a tempo de te socorrer. — meu pai disse seriamente e eu comecei a chorar. — Me desculpa querida, eu não queria deixar você triste.  — ele disse me abraçando.

Mas não tinha jeito, eu já estava triste, triste e confusa.

Meu próprio namorado havia causado meu acidente. E pior, fugiu do local sem nem se importar. Aquilo era como uma facada direto no meu coração.

🌹🌹🌹

Mais tarde, quando os ânimos se acalmaram, o doutor Brad veio me examinar, faltava apenas um dia para receber alta e ele querida ter certeza de que estava tudo bem comigo depois da discussão com a minha mãe.

Assim que sua avaliação terminou ele olhou para a rosa de papel que eu continuava segurando.

— Então essa é a causadora de toda aquela briga? — ele perguntou tentando me animar. 

Não respondi, não queria falar sobre isso.

— Tudo bem, vamos ver se você já consegue passar para a cadeira sozinha. — ele disse enquanto aproximava a cadeira de rodas, que meus pais haviam comprado, para perto da minha maca pra que pudesse sentar nela. Eu já havia feito isso várias vezes durante aquela semana mas sempre tive a ajuda de Sônia, dessa vez tinha de fazer tudo sozinha, pois era o teste que decidiria se eu podia mesmo voltar pra casa.

Depois de um pouco de esforço consegui passar pra cadeira de rodas sem nenhuma complicação. A sensação de estar nela ainda era estranha mas logo iria me acostumar.

— Ótimo, agora quero que se mova pelo quarto.

Obedeci ao pedido dele mas acabei batendo no canto de uma poltrona.

— Você está melhorando — ele sorriu.

— Não, eu sou um desastres.

— Não se cobre tanto, aqui não têm muito espaço.

— Não adianta doutor Brad, eu tenho certeza que assim que estiver saindo no corredor com essa cadeira vou acabar atropelando alguém. — falei suspirando e ele gargalhou.

— Eu não acredito que isso aconteça, geralmente quando algum cadeirante está passando as pessoas saem da frente para abrir caminho. — ele disse divertido.

— Eu não teria tanta certeza. — sorri um pouco.

Quando terminamos voltei pra minha maca e observei a rosa de papel que estava na mesinha. Já estava um pouco amassada mas não deixava ser bonita.

Olhar pra ela me fazia lembrar da briga, mas também me deixava curiosa sobre a identidade do garoto que a trouxe. Eu não conseguia pensar em ninguém que me daria aquele presente além do Tony. Mas ele não poderia ser. Afinal estava viajando.

Viajando enquanto eu estava no hospital.

Senti a raiva tentando me dominar e a afastei rapidamente, não valia a pena ficar com raiva naquele momento. Me ajeitei na maca para dormir e coloquei a flor ao meu lado.

— Quem será que deixou você aqui?

Sussurrei pra mim mesma enquanto mergulhava no mundo dos sonhos.

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