Uma Noite

Capítulo 11

"E algum amor antigo?"

"Como?"

"Algum namorado te esperando no Brasil."

"Claro que não, se tivesse alguém me esperando lá, não faria algumas coisas aqui."

"Isso é bom, mas nenhum amigo que talvez tivesse um amor platônico?"

"Não, meus amigos da faculdade estão muito bem compromissados."

"Mas nunca se sabe."

"Deveria ter ouvido Code, você quando bebe fala muita coisa sem sentido."

"Não estou bêbado."

"Não é o que me parece."

"Posso te provar..."

"Olha só, chegamos no seu apartamento, é melhor você subir e ir dormir já que amanhã trabalhamos, não é mesmo?"

"Você não quer subir..."

"Tenho minha própria cama."

"Mas a minha pode ser mais confortável."

"Não mesmo, e boa noite Jay"

"Boa noite Lorena." Ele saiu do carro rumo ao prédio, dei meu endereço ao motorista, dessa vez foi uma viagem silenciosa, me relembrando da noite, Jay estava certo, me sentiria acolhida ali.

No outro dia fui busca-lo no apartamento, pensei que não teria mais que frequentar aquele local, mas infelizmente parece que minha presença seria frequente ali. Ao chegar fui depositar alguns papeis na mesa e senti ele me abraçando por trás.

"Bom dia Lorena." Disse baixinho no meu ouvido me fazendo arrepiar. Respirei fundo e me afastei dele.

"Bom dia Jay, que bom que teve uma boa noite de sono." Quando olhei ele estava apenas de toalha, todo molhado, tive uma grande batalha interna para continuar olhando-o nos olhos e não admirar a água que descia por seu corpo. Queria eu seca-lo usando meu corpo, mas aquilo estava fora de cogitação, então respirei fundo para continuar a prestar atenção apenas em suas palavras.

"Dormi bem, mas teria sido melhor se você tivesse dormido aqui."

"Você sabe que isso não vai acontecer."

"Sei?"

"Você é meu chefe."

"Isso não impede que possamos ter algo a mais."

"Impede sim, não quero misturar minha vida profissional com a pessoal." Ele riu e se virou caminhando em direção ao quarto.

"Vai ver que isso não é possível nas minhas empresas."

"Como?" Perguntei assustada, claro que imaginava que ele tivesse dormido com todas as mulheres da empresa, mas o que ele falou, pareceu mais que as empresas eram mais um bordel. 

Tentei tirar aquilo da cabeça, talvez a ideia de continuar a procurar um emprego não fosse tão ruim.

Ele não me provocou mais no apartamento, parece ter percebido que estava assustada com o que ele havia falado. Dentro do carro apenas a música por muito tempo.

"Acho que você entendeu errado tudo que eu disse, não somos de maneira alguma um bando de promiscuo que usa a música de desculpa para tá junto, mas também não ache que vai conseguir separar sua vida pessoal da sua profissional, foi como disse ontem, somos uma família, estamos juntos na hora de fazer música, de ri um da cara do outro, mas também nas horas difíceis, seja o que for, eu faria tudo por cada um daqueles rostos que você viu ontem, e você está conosco agora, por mais que não seja do castin você também é alguém que eles sabem que podem contar a qualquer momento, e eu espero que sejamos isso para você também. Você está sozinha num país longe de tudo que você cresceu vivendo, espero que deixe todos nós cuidarmos de você como anda cuidando de nós."

"Só estou fazendo meu trabalho."

"Seu trabalho, não sei se você notou mas nunca fiz uma boas-vindas a funcionários sem ser do castin, e tem motivo, durante esse tempo que você esteve conosco em treinamento você fez mais do que qualquer secretaria minha fez, todas eram muito fechadas ao trabalho, todo aquele universo era apenas um meio de poderem levar dinheiro para casa, mas você parava para ouvir os meninos, elogiava não por ser seu trabalho, mas por gostar, por ser a forma que você cuidava deles. Você foi muito além de um trabalho, passou a fazer parte da criação do elo que existe entre a música e o artista."

"Você está falando isso por aquela noite."

"Não fui o único a notar, todos te elogiaram, queria te contratar por que você estava fazendo um bom trabalho, e após conversar com algumas pessoas fiquei convencido que não precisava ter medo por tudo que aconteceu, que você já tinha se ajustado ao trabalho e que seria a melhor escolha entre todas, que você não seria mais uma secretaria, que já fazia parte da família e isso faria bem a todos naquele lugar."

Não pude evitar sorrir pensando que era tão bem aceita por todos e que principalmente eu fazia parte da família, não aquela conversa fiada de empresas em que na verdade um está atrás de derrubar o outro, mas uma família mesmo, em que todos se apoiam de maneira solida. Fiquei o resto do percurso pensando nisso, e sabia que ele me observava, mas não disse mais nada, ele sabia que eu já tinha entendido o recado.

"Mas fico feliz, hoje foi a primeira vez que você admitiu o que aconteceu entre nós, talvez isso seja um avanço." disse ele antes das portas do elevador se abrirem impedindo que eu desse uma resposta.